Por Mariângela Borba
21 de abril de 2025, Sua Santidade, o Papa Francisco, primeiro Papa latino-americano, realizou sua Páscoa (passagem) como um bom discípulo: após a Páscoa de Cristo e durante o Jubileu da Esperança. Como em Timóteo 4: 7, “Combateu o bom combate, terminou a corrida, guardou a fé”. E que corrida, Santo Padre! Ontem, em sua aparição - na benção Urbi et Orbi (de Páscoa e natal à cidade de Roma e ao mundo), na Praça de São Pedro -, dava para perceber que ele não estava muito bem. Abrindo um parênteses aqui, cheguei a comentar que ele estava “ bem ‘inchadinho’, como mamãe”, pelas drogas administradas.Provavelmente os rins já não estavam 100%, fora os pulmões, é claro, a gente percebia durante a fala. Era visível o seu sofrimento!
Deus, médico dos médicos, se compadeceu. O Romano Pontífice lutou muito contra as crises respiratórias e era aquele mister de esperança e receio da perda, talvez uma luta entre a razão e a emoção, onde uma mostrava o fim claro da máquina humana e a outra ia de encontro àquela terminação. E um filme, que vivi há menos de dois anos, se passava novamente em minha cabeça. Agora posso dizer que o Santo Padre também foi acolhido por minha mãe, minha anjinha intercessora, na morada do Pai, uma vez que lutaram muito na complexidade de suas enfermidades e tiveram semelhanças na hora da partida. Francisco nos deixou praticamente no início do Jubileu da Esperança. Ao que tudo indica, é o primeiro Papa que morre durante um jubileu, evento considerado o “ano do perdão” na Igreja Católica e que ele tão bem determinou se chamar Esperança. Momentaneamente, tudo vai parar até o próximo conclave (eleição).
Ora, mas do que é feito um legado de um papa? Francisco pronunciou palavras que permanecem ecoando muito tempo, mesmo depois de terem sido ditas: “Portanto cada momento, cada instante da nossa existência é um tempo precioso para amar a Deus, para amar o próximo e assim entrar na vida eterna “ (Papa Francisco) mas, sobretudo, o legado de um Papa é feito do amor vivido até o fim. É assim que lembraremos de Francisco, um papa que nos deixou um legado de misericórdia, simplicidade, pés no chão,força - quando, mesmo do hospital, fez sua administração chegando, historicamente, a nomear uma mulher para liderança de um gabinete importante no Vaticano. Defendeu o acolhimento, a paz, os pobres e todos os ditos “excluídos”, deixou o principal entendimento ao meu ver, de que “Deus nos ama como somos!” e foi luz em tempos de escuridão. Quem não lembra dele sozinho percorrendo a praça de São Pedro e orando pelo fim da pandemia do coronavírus? Foi emocionante, também, anos depois, ver milhares de pessoas rezando pela recuperação dele no mesmo local.
Em 12 anos de pontificado, Francisco aproximou a igreja de pautas antes afastadas e a abriu para o mundo, para o diálogo. Tornou a Igreja Católica mais inclusiva e menos crítica. E claro que isso gerou desconforto para alguns. Francisco foi um Papa apaziguador que, com uma visão menos rígida e mais humana, veio resgatar fiéis. E isso aconteceu: a população católica no mundo cresceu, só entre 2022 e 2023, de acordo com a última pesquisa, cerca de 1,4 bilhões de pessoas em todo o planeta aderiu ao catolicismo e o Brasil segue sendo o país com mais fiéis. Segundo o Anuário Pontificio 2025 e o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2023, feitos pelo Escritório Central de Estatística da Igreja. Ora, houve um crescimento de 1,15% na população mundial de fiéis enquanto que, no mesmo período, a população mundial cresceu apenas 0.95%, segundo o senso dos EUA. E por quê a polarização foi mais feroz nos EUA? Não só por causa do luteranismo, mas por conta de que lá o catolicismo conservador se mistura com a política e com a mídia bem financiada. A intensidade de uma animosidade conservadora contra o Papa surgiu em janeiro/2023, quando se descobriu que o falecido cardeal australiano George Pell, foi autor de um memorando anônimo que se resumia a um manifesto conservador e, logicamente, condenado aos ideais progressistas de Francisco.
Em relação ao diálogo inter-religioso, uma abertura à diversidade e pela disposição de aprender com as diferenças, o papa trouxe como instrumento para se aproximar dos não-cristãos, de modo a favorecer o conhecimento da verdade e que juntos pudéssemos construir a paz ao redor do mundo, marcado pela escuta cuidadosa e pela empatia com o “modo de ver” ao outro. Francisco deixa uma igreja mais livre, menos rígida. O pontificado dele significou uma abertura para o mundo. O pontificado dele abriu o diálogo com a China, abriu para a ecologia, para uma preocupação séria com o meio ambiente, com os índios e para todos os marginalizados. A cruzada do Papa pelos imigrantes foi algo sempre comovente. De pais italianos e nascido na Argentina, de uma certa forma, ele se via nisso. Basicamente, o que o Santo Padre deixa é um legado de um Papa muito mais próximos das pessoas e que lutou por muitas mudanças, apesar de encontrar uma resistência muito grande.
Por tudo e por tanto, só me resta agradecer pela dedicação, com alegria, de Franciscus à Igreja e ao Evangelho. Continuarei em oração. Gratidão por oferecer, em seu testamento, o sofrimento que esteve presente na última parte de sua vida ao Senhor, pela paz no mundo e pela fraternidade entre os povos, características singulares de seu pontificado. Que venha a nova fumaça branca, com serenidade e equilíbrio.
Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, fez parte da Pastoral de Comunicação da AOR e da Paróquia de Nossa Senhora do Ó e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, jornalista Edmundo Celso.