quarta-feira, 9 de abril de 2025

A nova configuração urbana: Como a legislação e o perfil dos compradores estão redesenhando as cidades

 


A legislação urbanística em Pernambuco vem se adaptando às mudanças no comportamento dos moradores e à evolução das cidades. Cada município possui diretrizes específicas para o planejamento urbano, como as normas sobre vagas de estacionamento em edifícios residenciais. No Recife, o Plano Diretor, instituído pela Lei nº 18.112/2015, busca incentivar a mobilidade sustentável. Edifícios localizados em áreas com boa infraestrutura de transporte público podem ser construídos sem vagas de estacionamento obrigatórias, refletindo a mudança no perfil de deslocamento urbano.

Já em Olinda, o Código de Obras, estabelecido pela Lei Complementar nº 013/2002, determina que projetos habitacionais incluam áreas para estacionamento. Contudo, flexibilizações podem ser analisadas caso o imóvel se situe em zonas urbanas bem servidas por transporte público ou alternativas de mobilidade. Em Jaboatão dos Guararapes, a Lei nº 972/2013 regulamenta o uso e ocupação do solo, incluindo exigências para vagas em edificações. Ainda assim, a legislação permite ajustes conforme o tipo de empreendimento e sua localização, considerando o desenvolvimento urbano sustentável.

Essas mudanças refletem não apenas preocupações ambientais, mas também uma transformação no perfil dos compradores de imóveis. Roberto Rios, diretor comercial da Construtora Carrilho, ressalta a importância de compreender tais mudanças. “Estar atento às mudanças de seu mercado consumidor é algo que faz parte de toda empresa. O nosso público consumidor de empreendimentos para 1ª moradia é composto, em sua maioria, por jovens de 25 a 35 anos e este público vem apresentando um comportamento diferente ao de gerações anteriores em relação ao uso de veículos, por exemplo. Segundo dados do DETRAN, houve uma redução de aproximadamente 20% na emissão de primeiras CNHs em 2024 em relação ao ano anterior. Estar atento a estas mudanças faz com que a empresa possa lançar mão de novos produtos no mercado. Iremos olhar com muito carinho para este público a partir de 2025", afirma. 

Ter uma CNH não implica necessariamente possuir um carro. Muitos jovens, público que prioriza a praticidade e está menos interessado em possuir automóveis, optam por alternativas como aplicativos de transporte e bicicletas, o que reduz a necessidade de vagas em prédios residenciais. Essa tendência tem levado construtoras a investirem em projetos sem vagas de garagem, alinhando-se ao perfil de consumidores que valorizam acessibilidade e sustentabilidade. Assim, a legislação municipal e o comportamento dos compradores reforçam um novo paradigma urbano, no qual a mobilidade e o planejamento habitacional se adaptam às demandas de uma sociedade em constante transformação.

Para Charles de Oliveira, 30 anos, a decisão de adquirir um imóvel não foi apenas sobre sair do aluguel ou conquistar a casa própria, mas encontrar um local que oferecesse infraestrutura completa e mobilidade acessível sem a necessidade de um carro. Atualmente morador do centro do Recife, ele percebeu que, apesar da proximidade com diversos pontos da cidade, a dependência do carro para deslocamentos era um entrave. "Aqui perto do Parque 13 de Maio, tudo parece perto, mas na verdade é longe, porque preciso de um carro para me locomover. E eu não tenho carro e nem quero ter. Queria um local onde pudesse contar com estabelecimentos próximos, como academias, farmácias e mercados, e que fosse bem localizado para andar a pé", explica Charles.

Essa necessidade o levou a escolher o empreendimento Botanik Torre Flora, da Construtora Carrilho, localizado no bairro da Madalena. Além da localização estratégica, que permite fácil deslocamento sem carro, a infraestrutura do condomínio pesou na decisão. "Como trabalho de home office, precisava de um espaço confortável para minha rotina e a da minha família, que também trabalha em casa. O Botanic oferecia áreas verdes, uma planta bem distribuída e estrutura moderna, como gás encanado e guarita com reconhecimento facial", destaca.

A escolha de Charles reflete uma tendência crescente entre jovens adultos que priorizam a mobilidade urbana eficiente e sustentável. Ele utiliza frequentemente as bicicletas compartilhadas disponíveis na cidade para deslocamentos diários, o que também influenciou sua decisão pelo novo endereço. "Uso bastante a bicicleta para ir ao mercado ou me locomover pela cidade. Tenho o plano do Itaú há quatro anos e renová-lo anualmente é algo essencial para mim. Como meu prédio atual não tem bicicletário, isso também pesou na escolha do novo imóvel", explica.

Além da mobilidade, Charles acredita que sua geração tem uma visão mais sustentável e consciente em comparação às anteriores. Ele também destaca o impacto financeiro positivo de não ter um carro. "O custo constante de um carro é alto. Prefiro investir esse dinheiro na parcela do meu apartamento ou em aplicativos de transporte quando necessário. Para mim, faz muito mais sentido economicamente", afirma.

Para Charles, o mercado imobiliário precisa se adaptar ao estilo de vida das novas gerações, priorizando infraestrutura moderna e mobilidade facilitada. "Gostaria que mais empreendimentos oferecessem bicicletários, coworkings bem equipados e áreas de lazer funcionais. A tendência é que as pessoas passem mais tempo em casa, então o condomínio precisa ser um ambiente que atenda a todas as necessidades do dia a dia", finaliza.