terça-feira, 4 de março de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba


Brasil finalmente tem um Oscar para chamar de seu
Por Mariângela Borba*

Olá você, leitor do #SendoProsperidade aqui pelo blog da Taís Paranhos, tudo bem? Nesta coluna extra, não só pelo carnaval, mas pela entrega do Oscar trago uma pauta intrigante e necessária: a felicidade do Brasil ter ganho um prêmio internacional, premiação esta que nunca ganhamos, ou seja, é um fato histórico. Sorriam!
Ah, mas a Fernanda Torres não ganhou o prêmio de melhor atriz. Ora, quem acompanha a indústria cinematográfica sabe que as genuínas chances da Fernanda Torres vencer, eram baixas. É claro que o fato da atriz ter ganho o Globo de Ouro, levantou o nosso otimismo, enquanto brasileiros. Acontece que durante a premiação ela não concorreu contra a Demi Moore e nem contra a Mikey Madison, simples assim. Não dá para falar que, como muitos estão dizendo, “foi roubo”.

 Não é a mesma situação da época em que a Fernanda Montenegro, há 26 anos, perdeu para a Gwyneth Paltrow por conta de um lobby agressivo com os votantes da Academia - gastando dois milhões - feito pelo Harvey Weinstein, do estúdio Miramax, que desejava dominar completamente a cerimônia. Fernanda Montenegro acabou sendo afetada pela briga. Abrindo só um outro parêntesis aqui: com isso, Harvey Weinstein, uma das figuras mais poderosas da indústria cinematográfica, passou anos tendo encobertos os seus inúmeros casos de assédio sexual e estupro. Eles só foram divulgados em 2017, quando diversas atrizes foram a público divulgar as suas experiências com o produtor, no movimento que ficou conhecido como “Me too” e Weinstein, não ficou impune e acabou sendo condenado a 23 anos de prisão.

Mas voltando à premiação de 2025, ao meu ver, a maior vitória foi o Brasil concorrer ao Oscar e, acima de tudo, conquistar uma estatueta que nunca veio para a terrinha. O Oscar é um prêmio norte-americano. Quem é daqui do Brasil sabe a qualidade que a gente tem dos nossos atores, dos nossos cinemas , dos nossos diretores. Então, é para se louvar o fato de estarmos voltando a penetrar Hollywood com os nossos talentos, como: com o Wagner Moura, com a Fernanda Montenegro, com a Fernanda Torres, com o Selton Melo , com o Rodrigo Santoro e outros atores brasileiros que estão lá e não param de crescer, ao invés de entrar no derrotismo de que “fomos roubados”, porque roubados não fomos. Simplesmente perdemos e isso faz parte do jogo. Do outro lado, ganhamos em uma categoria mais ampla e tá tudo certo

Mesmo sendo parte de um império financeiro (o diretor do filme, de sólida carreira internacional, é também herdeiro de uma das instituições financeiras mais influentes do país, Itaú, além do que a família possui investimentos em mineração, energia e diversos setores estratégicos da economia, o que o leva a ser o cineasta mais afortunado do mundo, segundo a Forbes), Walter Salles construiu seu próprio legado no cinema. Dirigiu obras premiadas como “Central do Brasil”, indicado ao Oscar, conquistou o Urso de Ouro de Melhor filme e o Urso de Prata para Fernanda Montenegro , como Melhor Atriz no Festival de Berlim de 1998, e “Diários De Motocicleta”, que venceu o Globo de Ouro. “Abril Despedaçado” concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2001. Já em 2008, Sandra Corveloni recebeu o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes por “Linha de Passe”. O reconhecimento internacional de Salles contribuiu para o favoritismo de “Ainda Estou Aqui” na corrida pelo Oscar. E foi, justamente, a combinação da melhor campanha internacional de um filme brasileiro, impulsionada pela Sony Classics, com o prestígio artístico de Walter Salles e a alta qualidade técnica de suas produções, dialogando sempre com a sensibilidade do público médio, que trouxe essa conquista histórica e inédita para o cinema brasileiro. Foi assim que ele construiu sua relevância. 

O Oscar de “Ainda Estou Aqui” não faz dele o melhor filme da carreira de Walter Salles. “Central do Brasil” continua sendo sua obra-prima. O sucesso do filme é resultado de uma combinação de fatores: a mais bem-sucedida campanha de premiação já realizada para um filme brasileiro e o prestígio artístico de Walter Salles construído ao longo de 24 anos de carreira no cinema. O filme passou por mais de 50 festivais , onde foi visto pelos críticos que votam no Globo de Ouro e por membros da Academia Internacional de Cinema, que votam no Oscar. Vendido para 33 países, não só dá América Latina, como a do Norte, a Central, a Ásia, Europa e África, o longa se tornou um produto com muito potencial comercial. Em outras palavras, não houve um único investidor e nem houve mágica. Se hoje o Brasil , através de Walter Salles, faz parte da realeza do cinema mundial, é por conta da trajetória que traçou e, sempre, com o auxílio de muitos. A estatueta fica de posse do país que o longa representa.

Devemos, também, levar em conta que as artes cênicas dependem exclusivamente do material humano. O tempo que leva uma Fernanda Torres a se tornar uma Fernanda Torres é o puro exercício da profissão - a prática leva à perfeição. A jornada dela não foi para que um dia, enfim, ela fosse indicada ao Oscar. Não é esse tipo de sucesso.
 Nas Artes Cênicas não basta você ser apenas desinibido. Não é um viral, que tem o auxílio da tecnologia e que podem fazer uma pessoa ganhar rios de dinheiro, mas não vai torná-la artista ou alguém parecido com a Fernanda Torres , porque ela é o próprio tempo. Nas artes, o papel descartado é parte integrante da obra: o que deu errado (o chamado caco) também é, orgulhosamente, da autoria de cada um. Não é só talento, mas é, também, resistência, persistência, treino, ensaios e mais ensaios. Outro aspecto interessante é a construção da sua persona pública. Não há exageros, não há forçação de barra. Há consistência, relevância e é isso que os influenciadores brasileiros devem aprender com ela: engajamento real, conteúdo autêntico e uma estratégia bem estruturada são mais importantes que qualquer impulsionamento pago. 

Então, gurus do marketing, a Fernanda Torres não é um case, mas ela é a própria história. É alguém honrando uma atividade milenar e é isso o que alegra em um mundo em que até a inteligência passou a ser artificial. Esse trabalho que pode parecer espontâneo para muitos, é uma comunicação digital bem executada: equilibra a presença tradicional com a performance online que integra, também, o consumo de conteúdo e a interação com o público. É nessas horas que podemos bradar, a plenos pulmões, como a Eunice Paiva: A VIDA PRESTA - e presta muito. Sorriam!




Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire e membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, jornalista Edmundo Celso.