domingo, 2 de março de 2025

#SendoProsperidade com Mariângela Borba

Disso eu sei: fanático o Papa Francisco não é
Por Mariângela Borba*

Nesses últimos dias tensos para os Católicos e cristãos em que o Papa Francisco se encontra hospitalizado, muitas coisas têm sido ditas. Há, até, quem chegue logo a publicar o desejo pela morte do Papa por ser ele “comunista”.

Antes de tudo: desejar a morte de alguém porque pensa diferente de você é algo totalmente oposto ao que Jesus ensinou. E o pior: quem se diz contra o “comunismo” age como se quisesse defender a verdadeira Fé. Defender a fé cristã desejando a morte de alguém? Absurdo total! Veja até onde o fanatismo político-religioso pode chegar.
Mas vamos à questão central: o Papa Francisco é comunista? Bem, ele elogiou o comunismo. Disse Francisco: “São comunistas os que pensam como os cristãos. Cristo falou que uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. Devem entrar na política, mas não no político. Não nas lutas de poder, no egoísmo, na demagogia, no dinheiro, mas na política criativa e de grandes visões.” (Jornal “La Repubblica”, 2016).

No entanto, não só o Papa Francisco encontrou pontos positivos na análise comunista de Marx. Disse o Papa Bento XVI: “Karl Marx descreveu de maneira drástica a 'alienação' do homem. Mesmo que não tenha atingido a verdadeira profundidade da alienação - porque raciocinava apenas em âmbito material - forneceu uma imagem clara do homem vitimado por bandidos.” (Livro “Jesus de Nazaré”, 2007).

No mesmo posicionamento, São João Paulo II, citando a Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XVIII diz: “Como diz Leão XVIII, existem sementes de verdade no programa socialista.”

Antes ainda, São João Paulo II afirmou: “No comunismo existe preocupação com a comunidade ao passo que o capitalismo é individualista. Os que propõem o capitalismo em suas modalidades extremas tendem a ignorar as boas coisas alcançadas pelo comunismo: os esforços para acabar com o desemprego, a preocupação com os pobres.” (Jornal”Lá Stampa”, 1993).

E o que os papas vêem como ‘sementes da verdade’ no comunismo? A preocupação com os mais pobres, o desejo de uma justiça social, a distribuição de renda, a rejeição da concentração de dinheiro nas mãos de poucos, a luta pelos direitos dos excluídos nas esferas de poder e de decisão. Essas são sementes de verdade, pois combinam totalmente com o Evangelho de Jesus e a preocupação bíblica com os mais vulneráveis.
Assim, o Catecismo da Igreja Católica, no parágrafo 2425 diz: “a Igreja tem rejeitado as ideologias totalitárias e ateias associadas, nos tempos modernos ao 'comunismo' ou ao ‘socialismo'.

Mas, afinal de contas, o que é o famoso ‘comunismo'? É um modelo de organização social que quer basicamente duas coisas: o fim da propriedade privada dos meios de produção e a distribuição igualitária para todos.

 Evidentemente é uma fantasia que não funciona. Onde se tentou implantar o comunismo, teve-se de fazê-lo por meio de força e com muito derramamento de sangue. O Livro Negro do Comunismo mostra como mais de cem milhões de pessoas foram mortas por causa dele.
Os Papas são contrários ao comunismo enquanto sistema imposto, mas isso não impede de perceber que dentro da proposta comunista, há pontos de contato com o Evangelho de Jesus. O comunismo, como um todo, não é bom mas há, como citou São João Paulo II, há “sementes de verdade” nele.

A Igreja Católica, portanto, se opõe oficialmente ao comunismo. Mas como pode a igreja ser contra o comunismo e, ao mesmo tempo, os papas elogiarem aspectos dele? É fácil de compreender: todos os papas são contrários ao comunismo enquanto norma social imposta - um sistema que gera morte e restrição da liberdade. No entanto, os papas não são fanáticos. O fanatismo caracteriza-se especialmente por aqueles que sabem ver os problemas nas ideias alheias e só reconhecem perfeição nas próprias ideias.

Por defender os pobres, a Bíblia é comunista? Jesus é comunista? Claro que não. O comunismo foi estruturado por Karl Marx em 1848, ou seja, 1800 anos depois de Jesus! Se há elementos do Evangelho no comunismo, não se pode chamar o Evangelho de comunista.
Em um discurso disse o Papa Francisco: “Terra. Trabalho. Casa. Estranho, mas quando fala de alguns desses temas, alguns dizem que o papa é comunista. O amor pelos pobres é o centro do Evangelho”. (Encontro Mundial dos Movimentos Populares, 2014).

O Papa Francisco é comunista? Não. Ele é um seguidor de Jesus de Nazaré que e pregou o cuidado com os pobres, o respeito às minorias, criticou os que estavam no poder por impor fardos ao povo, mandou acolher o imigrante, incentivou a justiça social e a distribuição de renda dezoito séculos antes de Marx. Marx “copiou” partes do Evangelho: não foi Jesus que copiou Marx.

● “Se teu irmão se tornar pobre junto de ti, e as suas mãos se enfraquecerem, sustenta-o, mesmo que se trate de um estrangeiro ou hóspede, a fim de que ele viva contigo.” (LV 25,35)
● *O rico domina os pobres: quem toma emprestado torna-se escravo daquele que lhe emprestou”. (PV 22,7)
● “Respondeu Jesus: se queres ser perfeito, vai, vende teus bens., dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu”. (MT 19, 21)
● “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendam as suas propriedades e os seus bens, e dividam-nas por todos, segundo a necessidade de cada um.” (Até 2, 44-45)

Se você é sincero com sua fé e quer compreender as coisas para não sair disparando a metralhadora do julgamento fanático, recomendo estudar sobre a “Doutrina Social da Igreja” para entender que a igreja ensina sobre economia e os direitos dos trabalhadores, entre outros temas.
É preciso deixar o fanatismo político e olhar a religião com o olhar de Jesus. Aliás, faça um teste anti-fanatismo: consegue, como os papas, dizer pelo menos uma qualidade dos grupos políticos e religiosos que pensam diferente de você? Se você consegue, parabéns! Você não é um fanático.
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Mariângela Borba é professora, jornalista profissional, revisora credenciada, social media, Produtora Cultural, especialista em Cultura Pernambucana pela Fafire, atuou como representante da Pastoral de Comunicação da AOR, onde realizou o Curso de Doutrina Social da Igreja e é membro da Associação de Imprensa de Pernambuco (AIP) que teve como um dos fundadores, seu bisavô, jornalista Edmundo Celso.

Imagem: Inteligência artificial dos últimos seis Papas: Francisco; Bento XVI (1927-2022); São João Paulo II (1920-2005); João Paulo I (1912-1978); Paulo VI (1897-1978) e São João XXIII (1891-1963)