domingo, 30 de março de 2025

Alerta vermelho: doença na gengiva pode prejudicar os pacientes com Alzheimer


Aquela velha história de que saúde começa pela boca nunca fez tanto sentido. Estudos científicos recentes vêm apontando uma ligação preocupante entre a doença periodontal — aquela inflamação gengival que parece inofensiva no começo — e a progressão do Alzheimer, a forma mais comum de demência entre idosos. Sim, estamos falando de uma conexão direta entre gengiva inflamada e declínio cognitivo acelerado.

“O que acontece na boca não fica só na boca”, alerta o cirurgião-dentista Juliano Borelli, com mais de 20 anos de experiência no Brasil e na Europa. “A inflamação crônica causada por bactérias periodontais pode contribuir para o agravamento do quadro neurológico em pacientes com Alzheimer.”

A doença periodontal se apresenta, inicialmente, como uma simples gengivite — inflamação da gengiva, geralmente acompanhada de sangramentos leves. Se ignorada, evolui para periodontite, uma infecção bacteriana mais severa que ataca os tecidos de sustentação dos dentes. O resultado? Dor, inchaço, dentes frouxos e até perda dentária. Mas o problema vai muito além da estética ou do desconforto.

“Pacientes com Alzheimer têm, naturalmente, mais dificuldade em manter uma higiene bucal eficiente. Isso cria o ambiente perfeito para o avanço da periodontite”, explica Borelli. “E essa infecção libera mediadores inflamatórios que podem afetar outras partes do corpo — inclusive o cérebro.”

Estudos recentes indicam que a inflamação crônica provocada por infecções periodontais pode estar associada ao acúmulo de placas beta-amiloides no cérebro, um dos principais marcadores do Alzheimer. Isso significa que a falta de cuidados com a boca pode acelerar o avanço da doença, comprometendo ainda mais a cognição, a memória e a qualidade de vida do paciente.

“Estamos falando de uma via inflamatória sistêmica. A bactéria não precisa sair da boca e invadir o cérebro diretamente. Basta o corpo estar em constante estado inflamatório para que o Alzheimer ganhe terreno”, reforça Borelli.

Cuidados redobrados com a higiene bucal de idosos

A prevenção, como sempre, é o melhor caminho. E, nesse caso, ela é fundamental para pacientes com Alzheimer, que muitas vezes já enfrentam limitações motoras e cognitivas para realizar tarefas simples do dia a dia — como escovar os dentes.

“É essencial que familiares e cuidadores estejam atentos à saúde bucal desses idosos. Um plano de cuidados odontológicos deve fazer parte da rotina do paciente desde os primeiros sinais da doença”, orienta o dentista.

Entre os cuidados recomendados estão escovações supervisionadas, uso de escovas elétricas (mais práticas e eficazes), visitas regulares ao dentista e acompanhamento especializado para diagnóstico precoce de infecções periodontais.

Manter a boca saudável pode significar não só dentes no lugar, mas também uma mente mais protegida. A conexão entre a periodontite e o Alzheimer é mais um alerta para que a saúde bucal seja levada a sério, principalmente entre a população idosa.

“Cada dente que você salva, cada inflamação que você evita, é uma chance a mais de proteger o cérebro. A odontologia moderna precisa estar integrada ao cuidado integral do paciente, especialmente os mais vulneráveis”, conclui Borelli.