"Tu vens, tu vens... Eu já escuto os teus sinais..." Quem nunca se pegou cantando esses versos de Alceu Valença enquanto se preparava para a maratona de folia? Sim, o Carnaval é sinônimo de diversão, paquera e descontração. No entanto, é importante não esquecer de cuidar da saúde, especialmente em um evento que reúne milhões de pessoas ao redor do Brasil. Para garantir que a festa seja segura, especialista do Hospital das Clínicas da UFPE – unidade vinculada à rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – compartilha dicas simples e indispensáveis para manter o corpo e a mente em equilíbrio.
Uma prática que tem se tornado comum entre os jovens é o chamado “chemsex” (ou sexo químico), que consiste no uso de substâncias psicoativas durante o ato sexual, com a intenção de provocar desinibição ou aumentar a percepção do prazer. Apesar de ser um termo antigo (foi cunhado pelo militante David Stuart, em Londres, nos anos 2000), o sexo químico tem crescido no Brasil, especialmente após a pandemia de covid-19. O uso combinado de drogas, antes ou durante o sexo, é um problema de saúde pública, tanto pela questão de redução de danos pelo abuso de substâncias psicoativas como pelo aumento no risco de infecção por HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Segundo o chefe da Assistência em Infectologia do HC, Paulo Sérgio Ramos, “em Pernambuco, pode-se inferir que, de longe, as substâncias psicoativas mais frequentemente implicadas nestas práticas sexuais sejam as bebidas alcoólicas e a canabis (maconha), em virtude do menor custo e maior aceitação social". Quando o foco dessa análise se concentra no grupo de homens que fazem sexo com homens (HSH), a prática clínica, sobretudo em unidades de atendimento de pessoas expostas às ISTs, percebe-se o uso crescente de cocaína, Ecstasy (metanfetamina) e LSD, objetivando maior excitação, desinibição, libido e relaxamento, durante e após as relações sexuais.
Os riscos imediatos do sexo químico residem justamente na transgressão das práticas sexuais seguras (uso de preservativos e profilaxia pré-exposição ao HIV), além dos riscos inerentes às substâncias e dose empregada, que pode acarretar toxicidade cardíaca, hepática e renal, inclusive com risco de morte súbita por overdose. Nos médio e longo prazos, aparecem os riscos de danos à saúde física e mental, destacando-se a dependência química às substâncias empregadas.
Para se proteger de tais riscos, são empregadas as medidas de redução de danos nas quais a comunicação clara e assertiva é a ferramenta mais eficaz. “É imprescindível não normalizar a prática do uso de substâncias psicoativas, mas também estabelecer canais de comunicação sobre os riscos de cada droga, assim como a somação de efeitos quando várias delas são usadas simultaneamente. Motivar o emprego das estratégias multimodais para prevenção de ISTs, tais como uso de preservativos, profilaxia pré e pós exposição ao HIV (PREP e PEP), vacinação para proteção contra hepatite B e HPV”, orienta Paulo Sérgio.
Caso alguém se arrisque na prática do sexo químico, a orientação é procurar imediatamente uma unidade de saúde especializada no atendimento a pessoas vivendo com HIV/aids ou unidades de referência como uma UPA, a fim de que possa receber a profilaxia para HIV e uretrites e/ou proctites por meio do fornecimento de medicamentos.
Cuidados respiratórios - Além das orientações sobre prevenção de ISTs, o infectologista alerta para os cuidados com doenças respiratórias, como a gripe e a covid-19, especialmente em meio às grandes aglomerações do Carnaval, já que o risco de contágio de vírus respiratórios aumenta devido as pessoas estarem em locais fechados e mal ventilados (como em alguns camarotes e casas que oferecem day use durante a folia), além de manterem um contato mais próximo (como nas ladeiras de Olinda ou nos shows e desfiles de agremiações no Recife Antigo).
“Populações vulneráveis como idosos, portadores de doenças cardiopulmonares e em tratamento de medicamentos que suprimem a imunidade deverão evitar aglomerações”, orienta o médico. Ele também recomenda a higienização frequente das mãos e, caso apresente sintomas gripais, evitar a proximidade com outras pessoas. A vacinação contra covid e a gripe também é uma medida de prevenção, garantido que o sistema imunológico esteja preparado para combater o vírus.
Sobre a Ebserh - O HC-UFPE faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
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