quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Especialista do HC-UFPE alerta para os riscos do sexo químico e dá dicas de saúde para os dias de folia

 

"Tu vens, tu vens... Eu já escuto os teus sinais..." Quem nunca se pegou cantando esses versos de Alceu Valença enquanto se preparava para a maratona de folia? Sim, o Carnaval é sinônimo de diversão, paquera e descontração. No entanto, é importante não esquecer de cuidar da saúde, especialmente em um evento que reúne milhões de pessoas ao redor do Brasil. Para garantir que a festa seja segura, especialista do Hospital das Clínicas da UFPE – unidade vinculada à rede da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – compartilha dicas simples e indispensáveis para manter o corpo e a mente em equilíbrio.

Uma prática que tem se tornado comum entre os jovens é o chamado “chemsex” (ou sexo químico), que consiste no uso de substâncias psicoativas durante o ato sexual, com a intenção de provocar desinibição ou aumentar a percepção do prazer. Apesar de ser um termo antigo (foi cunhado pelo militante David Stuart, em Londres, nos anos 2000), o sexo químico tem crescido no Brasil, especialmente após a pandemia de covid-19. O uso combinado de drogas, antes ou durante o sexo, é um problema de saúde pública, tanto pela questão de redução de danos pelo abuso de substâncias psicoativas como pelo aumento no risco de infecção por HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Segundo o chefe da Assistência em Infectologia do HC, Paulo Sérgio Ramos, “em Pernambuco, pode-se inferir que, de longe, as substâncias psicoativas mais frequentemente implicadas nestas práticas sexuais sejam as bebidas alcoólicas e a canabis (maconha), em virtude do menor custo e maior aceitação social". Quando o foco dessa análise se concentra no grupo de homens que fazem sexo com homens (HSH), a prática clínica, sobretudo em unidades de atendimento de pessoas expostas às ISTs, percebe-se o uso crescente de cocaína, Ecstasy (metanfetamina) e LSD, objetivando maior excitação, desinibição, libido e relaxamento, durante e após as relações sexuais.

Os riscos imediatos do sexo químico residem justamente na transgressão das práticas sexuais seguras (uso de preservativos e profilaxia pré-exposição ao HIV), além dos riscos inerentes às substâncias e dose empregada, que pode acarretar toxicidade cardíaca, hepática e renal, inclusive com risco de morte súbita por overdose. Nos médio e longo prazos, aparecem os riscos de danos à saúde física e mental, destacando-se a dependência química às substâncias empregadas.

Para se proteger de tais riscos, são empregadas as medidas de redução de danos nas quais a comunicação clara e assertiva é a ferramenta mais eficaz. “É imprescindível não normalizar a prática do uso de substâncias psicoativas, mas também estabelecer canais de comunicação sobre os riscos de cada droga, assim como a somação de efeitos quando várias delas são usadas simultaneamente. Motivar o emprego das estratégias multimodais para prevenção de ISTs, tais como uso de preservativos, profilaxia pré e pós exposição ao HIV (PREP e PEP), vacinação para proteção contra hepatite B e HPV”, orienta Paulo Sérgio.

Caso alguém se arrisque na prática do sexo químico, a orientação é procurar imediatamente uma unidade de saúde especializada no atendimento a pessoas vivendo com HIV/aids ou unidades de referência como uma UPA, a fim de que possa receber a profilaxia para HIV e uretrites e/ou proctites por meio do fornecimento de medicamentos.

Cuidados respiratórios - Além das orientações sobre prevenção de ISTs, o infectologista alerta para os cuidados com doenças respiratórias, como a gripe e a covid-19, especialmente em meio às grandes aglomerações do Carnaval, já que o risco de contágio de vírus respiratórios aumenta devido as pessoas estarem em locais fechados e mal ventilados (como em alguns camarotes e casas que oferecem day use durante a folia), além de manterem um contato mais próximo (como nas ladeiras de Olinda ou nos shows e desfiles de agremiações no Recife Antigo).

“Populações vulneráveis como idosos, portadores de doenças cardiopulmonares e em tratamento de medicamentos que suprimem a imunidade deverão evitar aglomerações”, orienta o médico. Ele também recomenda a higienização frequente das mãos e, caso apresente sintomas gripais, evitar a proximidade com outras pessoas. A vacinação contra covid e a gripe também é uma medida de prevenção, garantido que o sistema imunológico esteja preparado para combater o vírus.

Sobre a Ebserh - O HC-UFPE faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.

Imagem meramente ilustrativa