Quando se nasce em uma comunidade castigada pela chuva, a rotina acaba sendo influenciada pelas enchentes. Muitas vezes, quando a realidade se impõe, o que resta a fazer é sonhar e tentar mais uma vez. Localizado na Rua Alcântara, 170, no bairro Coqueiral, o Instituto Solidare sabe bem como é se refazer. A organização demoliu as paredes que foram abrigo para pelo menos 20 mil pessoas (diretas e indiretamente) ao longo dos últimos 19 anos. A insegurança das enchentes foi uma das principais causas que fizeram a direção do Instituto Solidare buscasse apoio financeiro em ONGs internacionais. Na tarde dessa quinta-feira (6) foi lançada a pedra fundamental para a construção da nova sede. No mesmo lugar, com os mesmos organizadores, mas agora com novos sonhos.
Atualmente 2.500 pessoas são assistidas diretamente, se somadas de forma indireta o número chega a 10 mil. Com a reinauguração, prevista para daqui a um ano, a estimativa é de aumentar mais mil pessoas atendidas, chegando a 3.500 beneficiários. A nova sede contará com uma estrutura de quatro pavimentos. Durante o período de obras, um prédio situado na mesma rua abrigará os 18 projetos existentes no instituto.
Para que a construção da nova sede fosse possível, a ajuda veio de cerca de 7.400 km de distância. O irlandês Stephen O'Sullivan, representante da The Edward Gostling Foundation, principal financiadora da construção, esteve presente no Brasil para o evento. “Buscamos projetos que geram impacto nas respectivas comunidades e quando identificamos o Instituto Solidare, através do John Doddrell, percebi que era exatamente o tipo de projeto que gostaria de apoiar, pela dedicação das pessoas, pela excelência do trabalho e, principalmente, pelo impacto. Quando vimos que eles precisavam de um novo prédio, por causa dos problemas de enchente, de inundação, estudamos o projeto e resolvemos providenciar o apoio necessário para este novo prédio”, afirma Stephen O'Sullivan.
O Instituto Solidare é uma ONG criada pela Igreja Batista em Coqueiral, uma igreja centenária, fundada em 1925. Pensada inicialmente para ser um braço da igreja, o projeto, que teve início com o desejo de ajudar 182 crianças da localidade, se expandiu. A ideia do instituto nasceu com o pastor da Igreja Batista em Coqueiral, José Marcos. Natural de Caicó, ele veio morar no Recife aos 21 anos, militar do exército, largou a carreira ao perceber que Deus tinha outro propósito em sua vida.
“Neste afã de levar a igreja a se parecer mais com Jesus, comecei uma cadeia de pregações sobre a necessidade de mudança. Em 2005 a igreja compreendeu bem isso e esboçamos nosso primeiro projeto social para ajudar crianças da nossa comunidade. Então veio a ideia do Instituto Solidare, que veio para sanar este lugar da nossa pobreza financeira, não temos dinheiro com fartura e o instituto é o braço de mobilização de recursos para que a gente possa pôr em prática todos os nossos projetos”, explica o pastor José Marcos.
Uma das pessoas beneficiadas pelo projeto é Wlleiliane Alves. Ela ingressou no Instituto há apenas um ano e viu a vida ser transformada, ela e mais 11 pessoas fazem parte do grupo que ingressou como Aprendiz na Gerdau, uma das parceiras do Solidare. “Vou começar a trabalhar e posso dizer que consegui graças ao apoio que recebi aqui. Desde que cheguei no Instituto Solidare, meu projeto de vida mudou e isto é incrível. Amadureci muito, decidi que quero fazer engenharia mecânica. Me encontrei. Senti gosto por algo que só aprendi quando cheguei aqui. No Solidare entendi que eu podia mais”, conta orgulhosa.
O deputado estadual João Paulo (PT), presidente da frente parlamentar do Rio Tejipió, esteve no evento. Ele enalteceu a forma que a Igreja atua na vida de toda a comunidade que a rodeia. “Com a chuva, estamos vendo as tragédias acontecendo, não só as tragédias com as mortes, mas também com as famílias que trabalham anos e anos construindo uma melhoria na sua qualidade de vida, com um colchão, geladeira, móvel e tem tudo isso destruído. Acredito que o trabalho aqui deveria ser referência a todas as igrejas do Brasil e do mundo, que é o de proteger aqueles que mais precisam”, avalia o deputado estadual.
Fotos: Sidney B Carneiro/ Instituto Solidare
D'tony Araujo/Instituto Solidare