domingo, 12 de janeiro de 2025

#VcNoBlog Thyana Galvão

 

Entre lágrimas e gargalhadas
Thyana Galvão

Chorei na academia.

O personal ficou me olhando sem jeito e perguntou se eu queria "me recompor" no banheiro. Perguntei a ele se essa seria a sugestão caso eu estivesse gargalhando. Ele ficou pensativo...

Precisamos normalizar "estar triste, estar chateada..."

A menopausa tem me feito normalizar emoções distintas. Eu gargalhava em público. Percebo que hoje eu também choro.

Devo me esconder?

Chorei numa consulta com um profissional de nutrição. Subi na balança e estava mais pesada. Depois de 35 dias de "sacrifício", eu engordei. E chorei. A profissional perguntou se eu estava em depressão ou se eu era bipolar ("pois você sempre foi feliz nas consultas..."). Eu perguntei se ela era psiquiatra para me diagnosticar por um choro. Não retornei mais nessa profissional.

Muitos profissionais da saúde, ditos acolhedores, não sabem acolher. Após perceberem olhos marejados logo perguntam: "a senhora faz terapia?" A resposta é: SIM! Faço terapia. Sou uma mulher terapeutizada!! E, hoje, menopausada.

Há pouco mais de dois anos entrei na menopausa.

Precisei passar por uma histerectomia, pois já estava com probabilidade de câncer de endométrio.

Como foi essa descoberta? Após me submeter a uma mastectomia, em plena pandemia da COVID-19, por conta de um diagnóstico de câncer de mama e realizar exames genéticos, eu e minha mãe descobrimos ter a mesma alteração VUS (variante de significado incerto) no gene MSH6. Com isso, passei a ser tratada com os mesmos cuidados de quem tem Síndrome de Lynch. Esse diagnóstico foi bastante discutido pelos meus médicos e eles me indicaram a histerectomia.

Estar na menopausa não tem sido fácil. Inicialmente, a equipe médica que cuida de mim recebeu um novo membro: um psiquiatra. Me rendi aos cuidados deste profissional que tem sido essencial ao meu bem-estar.

Não posso fazer reposição hormonal e tenho muitos sintomas do climatério: ondas de calor, piora na qualidade do sono (com períodos de insônia), fadiga, alterações no humor, diminuição da libido, ressecamento vaginal, aumento de peso, dentre outros. Sei que não é algo exclusivo a mim!

Contudo, percebo que ainda é difícil falar abertamente sobre MENOPAUSA. Daí me pergunto: sendo um processo inevitável, por que ainda existe tanto tabu em assumir estar na menopausa e discutir seus efeitos?

Penso que talvez a resposta esteja nos significados que a menopausa traz com ela, um deles sendo justamente a questão do envelhecimento – um tema que, no geral, não é bem recebido em nenhuma roda de bar ou nos “trends” das redes sociais.

Na verdade, o envelhecimento tende a ser invisibilizado na nossa sociedade.

No nosso caso (da mulher), que tem uma função social clara, quando terminamos esse período, muitas de nós nos sentimos inúteis e nos retiramos, procuramos ser invisíveis, temos medo da rejeição.

Mas, diferente do que ocorria há alguns anos, hoje, com o aumento da expectativa de vida, a menopausa ocorre próximo à metade da vida da mulher. O que eu quero dizer com isso?

Nós ainda viveremos muitos anos na menopausa!

Eu quero viver!!!

E para viver COM QUALIDADE, precisamos deixar de lado os julgamentos e preconceitos...

DEVEMOS NOS ACOLHER MAIS e, claro, FALAR (abertamente) SOBRE MENOPAUSA!!

Não pretendo esconder minhas lágrimas, meu desconforto, meus sintomas. Existirei com todos eles, abertamente. Não viverei desconfortável para trazer conforto aos outros. Ser terapeutizada me faz tomar decisões diferentes e, ao meu ver, mais sábias. Muitas mulheres são julgadas LOUCAS nesse período e eu não temo isso: ser louca. Sou orgulhosa de minha trajetória e espero encontrar outras mulheres que também sejam orgulhosas para que possamos trilhar novos caminhos, juntas. Falando mais sobre menopausa. Sem medo. Sem preconceitos. E que nossas trocas suscitem mais gargalhadas conjuntas e menos lágrimas individualizadas.

Thyana Galvão é professora da UFPE e Arquiteta