O estudo foi concebido com o propósito de investigar de forma ampla aspectos fundamentais no ambiente alimentar das escolas privadas brasileiras a partir de uma amostra representativa nas capitais brasileiras e no Distrito Federal.
O objetivo do levantamento é fornecer subsídios para a implementação de legislações que visem promover nas escolas uma alimentação adequada e saudável, contribuindo para o bem-estar das crianças e dos adolescentes, para a promoção da saúde, para a formação de hábitos alimentares saudáveis e para a prevenção de todas as formas de má nutrição, incluindo a obesidade, e de outras doenças crônicas.
A pesquisa foi realizada com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da ACT Promoção da Saúde, do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), do Instituto Ibirapitanga e do Instituto Desiderata, todos financiadores do projeto.
A nutricionista Sabrina Clark, da Universidade Federal de Pernambuco, que participou do trabalho, revela preocupação com a venda de alimentos ultraprocessados nas escolas particulares. De acordo com ela, as cantinas escolares vendem, em média, 50% mais alimentos ultraprocessados do que os in natura ou minimamente processados.
“A escola é essencial para promover a educação alimentar. É urgente regulamentar e conscientizar a população sobre os impactos negativos para a saúde de crianças e adolescentes no Brasil”, reforça a especialista.
Ela explica que o consumo frequente desses alimentos está associado à obesidade, diabetes e hipertensão e revela que menos da metade das escolas analisadas possuem nutricionistas para planejar o cardápio nessas cantinas.
Escolas particulares de todas as 26 capitais do país e do Distrito Federal foram avaliadas, em um total de 2.241 unidades.
No Recife, o estudo analisou as cantinas de 124 instituições privadas. A pesquisa tem 95% de resultados totalmente confiáveis e foi feita com a autorização dos comitês de ética em Pesquisa e Seres Humanos das universidades públicas parceiras, e a coleta de dados respeitou os princípios de privacidade da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPDP).
Os pesquisadores observaram que o principal critério para a venda dos alimentos foi a preferência do aluno (89,64%). O açúcar está disponível em 30,13% das cantinas, o adoçante em 35,15%, o sal em 24,70 e os molhos em 39,52%.
Entre os itens ultraprocessados mais vendidos está o refrigerante (61,80%) seguido dos salgados com recheios ultraprocessados (47,88%) e das balas e chocolates (37,97%).
Já os alimentos in natura ou minimamente processados estão em menor percentual: fruta seca (2,76%), pipoca de grão natural (8,47%), doce à base de frutas ou legumes (9,50), açaí sem açúcar (10,17%), chá natural (10,88%), tapioca sem recheio ultraprocessado (14,77), só para citar alguns números.
As capitais que apresentaram maior quantidade de cantinas vendendo alimentos ultraprocessados foram: Palmas (11,23%),
Rio de Janeiro (10,54%) e Salvador (9,94%).
As que apresentaram o menor número de cantinas com esses alimentos:
João Pessoa (2,11%), Natal (2,65%) e
Teresina (3,095).
O Recife ficou na 19ª posição com a maior quantidade de escolas que vendem alimento ultraprocessado.
Já as capitais que apresentaram maiores índices de cantinas com alimentos in natura ou minimamente processados são: Campo Grande (10,40%), Porto Alegre (9,50%) e São Paulo (4,74%).
As que menos comercializam alimentos in natura são:
Cuiabá (2,74%),
Macapá (3,03%) e
Rio Branco (3,14%).
O Recife ocupa a 16ª posição (4,74%).
A educadora Paula Carneiro Leão (foto), da Escola Vila Aprendiz, localizada em Setúbal, na Zona Sul do Recife, explica que lá todos os alimentos são feitos na cozinha da escola com insumos in natura ou minimamente processados. “Somos uma escola que atende crianças da educação infantil ao 9º ano do ensino fundamental há 15 anos. Nossa jornada é das 8h às 15h. Todos os alunos, professores e funcionários lancham e almoçam no nosso refeitório, todos juntos. Nunca tivemos cantina vendendo os ultraprocessados”, destaca.