Arte feita em casa, Pernambuco. Profusão em cadeia. Câmara de efusivas discussões de história, tradição e contemporaneidade. A nova mostra _Isso Foi um Estrondo?_ é resultado do Edital de Concurso nº 003/2024 – Ocupação das Salas de Exposições da Casa de Câmara e Cadeia de Brejo da Madre de Deus, município do Agreste Central, a 204 km da capital. O programa, com quatro exposições de artes visuais, entra em cartaz nesta quinta-feira (12). A visitação para o público acontece, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h; e sábado e domingo mediante agendamento.
O concurso é uma promoção do Governo de Pernambuco, por meio da Secretaria de Cultura do Estado de Pernambuco (Secult-PE) e da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Nesta segunda edição há quatro propostas contempladas representando diversas cidades do Estado. Videoinstalação, vídeo, instalação, fotografia, performance, bordado, tecelagem e mural coletivo são expressões que retomam a pluralidade de produções artísticas emergentes e a consequente reflexão crítica que as acompanha em busca do fortalecimento da linguagem e do fomento da produção artística. O projeto também visa à ampliação do acesso ao espaço cultural.
“A primeira edição da mostra _Isso Foi um Estrondo?_, que ocorreu de junho a agosto deste ano, fez mais do que jus ao nome resultando em um grande sucesso”, lembra a secretária estadual de Cultura, Cacau de Paula. “Correspondeu além de nossas expectativas, principalmente nos objetivos de ampliação de recursos para fomento e incentivo das diversas linguagens culturais e na democratização da cultura”, afirma.
“Apesar do perfil emergente, artistas e obras não cansam de nos surpreender com a qualidade de trabalhos que refletem a maturidade de suas autoras e seu autor, além de uma complexidade na elaboração, ao mesmo tempo em que conseguem estabelecer um fácil diálogo com o público”, analisa a presidente da Fundarpe, Renata Borba. “_Isso Foi um Estrondo?_ fecha o ano como um dos cases de sucesso das artes visuais e da cultura pernambucana”, comemora.
*O EQUIPAMENTO –* A Casa de Câmara e Cadeia de Brejo da Madre de Deus foi construída em 1847, possivelmente com projeto do engenheiro francês Louis Vauthier, o mesmo responsável pelo projeto do Teatro de Santa Isabel, no Recife. A edificação segue a arquitetura neoclássica da época e o programa de prédios dessa natureza.
Atualmente ainda consegue compreender nos pavimentos as funções de Câmara (1º pavimento) e Cadeia (térreo), inclusive encontrando as camas dos detentos que cumpriam pena no edifício até a década de 1990.
O atual centro cultural dispõe de 18 ambientes que juntos somam 660 m² disponíveis para diversos tipos de atividades culturais. A Casa de Câmara e Cadeia de Brejo da Madre de Deus é um monumento tombado pela Fundarpe.
*Serviço:*
*Exposição de artes visuais _Isso Foi um Estrondo?_ –* _Edital de Ocupação de Salas da Casa de Câmara e Cadeia do Brejo da Madre de Deus (Rua Maestro Tomás de Aquino, nº 60, bairro Nossa Senhora do Bom Conselho, Brejo da Madre de Deus-PE). Visitação: aberta ao público de 12 de dezembro de 2024 a 21 de março de 2025, de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h às 17h; e sábado e domingo mediante agendamento. Entrada gratuita_
*MOSTRAS*
*_Abre Caminho_, de Irma Brown.* Nessa videoinstalação, a artista rompe barreiras sugerindo novos caminhos e conceitos existenciais. A partir do gesto literal e simbólico de cortar o ar com uma saia feita de facas, Irma Brown se move pelo espaço-tempo em diversas paisagens que vão da praia à floresta defendendo as lutas das mulheres por igualdade e justiça em meio à opressão patriarcal. Inspirada nas simbologias da planta Justicia gendarussa Burm, também conhecida como quebra-demanda, a obra se conecta tanto ao poder espiritual quanto às propriedades medicinais da planta, usada na medicina popular como anticoncepcional masculino, e com propriedades anti-inflamatórias e analgésicas. Além do vídeo, a exposição conta com a saia de facas, objeto central da obra.
*_Coruja: Espreita e Ataque_, de Milena Travassos.* Os trabalhos de fotografias e vídeos desta exposição provocam os visitantes com uma experiência inventiva corpórea. O corpo da artista estabelece relações de afinidade com um lugar e um animal, no caso, uma casa abandonada e uma coruja, indagando sobre as possibilidades que a arte nos oferece de criar outros corpos. Neste caso, um corpo impregnado por uma casa em ruína e por uma pulsão animal. Essa mulher-coruja funciona como uma espécie de imagem enigmática, guarda um tempo-espaço anacrônico. Tais imagens alongam uma narrativa, pois não se expõem de todo, guardam segredos. Nelas, o corpo em sua capacidade fabuladora, é uma central de metamorfoses que se transmuta a partir de experiências, memórias, afetos, lugares e animais.
*_Desejo na Ponta da Língua_, de Luam Lim.* Oito obras compõem essa mostra que pulsa desejo, sexualidade e desmistificações a partir de bordados e tecelagens. A experiência visual e sensorial é guiada por uma linha de crochê vermelha que se inicia na porta de entrada. Essa mesma linha segue no chão guiando e costurando o começo, meio e fim de toda a exposição. As obras de Luam Lim são feitas a partir da releitura de objetos do cotidiano e que muitas vezes passam despercebidos, interligando a sexualidade e trazendo reflexões, nos quais os sujeitos se reconhecem a si mesmos e transformam-se. Os visitantes são convidados a participar diretamente por meio de um mural coletivo ao longo de todo o período da exposição.
*_Fundamentos em Ruínas_, de Tássio Melo.* A exposição apresenta três núcleos principais: Série Reflorestar (2024), uma instalação composta por 15 tijolos 8 furos, cujas faces são recortadas no formato do mapa do Brasil, preenchidos com mudas de pau-brasil; Bandeira 1, um objeto feito de ferro trançado, com base em papel folha de ouro e losango central de pedras de concreto revestidas com lambe-lambe de folhas bíblicas; e Bandeira 2, uma instalação/performance composta por três bandeiras nacionais encharcadas de cimento, suspensas em um varal. As obras de Tássio Melo convidam os visitantes a confrontar narrativas históricas e materiais, provocando novas leituras sobre a trajetória do Brasil e seus desdobramentos.
_* As obras das mostras estão disponíveis para venda diretamente com os artistas._
*BIOGRAFIAS*
*Irma Brown* é artista multimeios, curadora e produtora cultural. Pesquisadora e educadora de práticas coletivas e convergências artísticas, desde 2009 atua na Galeria Maumau, espaço autônomo de arte localizado em Recife. Trabalha em parceria com trabalhadores da cultura criando projetos educacionais e artísticos que potencializam a experimentação e a intersecção de linguagens na construção de redes colaborativas. Já participou de diversos projetos coletivos, com frequência retomando o corpo como matéria de estudo e criação. Utiliza a fotografia e o vídeo como suporte para muitos de seus trabalhos.
*Lua Lim* é cria do bairro de Água Fria, Zona Norte do Recife. Curiosa e entusiasta na descoberta de criar, vem atuando nas artes visuais com suportes e técnicas, como o bordado livre, pintura abstrata texturizada e escrita. Seus trabalhos são frutos de um laboratório livre autobiográfico, alinhavado com a escrita de si através do cotidiano e da recordação, esmiuçando seu repertório composto principalmente por temas como sexualidade, gênero, tempo e ausência. Em julho de 2024 Lua Lim realizou sua primeira exposição individual, O Instinto de Sobrevivência Me Torna a Língua Gentil, na Galeria Janete Costa.
*Milena Travassos* é artista visual, pesquisadora e professora. Possui formações nas áreas de Artes Visuais, Audiovisual e Filosofia e é doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Sua produção envolve fotografia, vídeo, performance, desenho e objetos. A cada nova pesquisa, seu corpo transforma-se em outro. O espaço em que a artista se relaciona é dado importante para a construção desse outro corpo e de seus gestos. O uso de objetos ópticos do pré-cinema, lentes de aumento, vidros, transparências, luzes e sombras têm marcado sua poética. As ideias de linguagens, narração, passado e tempo mobilizam sua atual produção. Realizou diversas exposições individuais e coletivas. Suas obras integram coleções públicas e privadas.
*Tássio Melo* é artista visual, arte-educador e curador natural do Cabo de Santo Agostinho. Sua pesquisa explora as relações entre paisagens autobiográficas, religiosidade cristã, sexualidade e território. Tássio tem uma prática artística caracterizada pela criação de instalações e objetos de arte a partir da apropriação de materiais cotidianos e deslocamentos simbólicos. Com uma formação artística ampla, ele participou da Residência Artística Único Sesc, 2022) e foi selecionado para a Residência Laboratório Transmissões – aRtivismo Narrar-se É Criar-Se (2017). Entre suas realizações mais recentes estão a curadoria e acessibilidade da exposição Um por Todos e Todos por Um (2024) e a participação na exposição Tramas, Rituais e Resistências, pela Christal Galeria na ArtPE (2024).