A combinação de talentos, gerações, ousadia artística e vigor criativo promete revestir de encanto a 21ª edição do “Baile do Menino Deus: Uma Brincadeira de Natal”, o maior espetáculo natalino do país baseado na cultura brasileira, produzido pela Relicário Produções, sob direção de produção de Carla Valença, e declarado, em 2024, Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. A encenação - realizada nos dias 24 e 25 de dezembro, às 20h, no Marco Zero da capital - une a Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá, e os maestros Spok e Forró a uma equipe de talentos encarregados de transpor para o palco a releitura abrasileirada de uma das passagens mais memoráveis da humanidade.
O Baile é constituído a partir dos elementos da cultura brasileira e sem os estrangeirismos habituais das narrativas importadas sobre o nascimento do Menino Deus - a encenação é vista anualmente por mais de 70 mil pessoas e exibida pelo YouTube. Em vez de Papai Noel, trenós, neve etc, os autores Ronaldo Correia de Brito e Assis Lima, junto com o compositor Antonio Madureira, ousaram mesclar no espetáculo manifestações como cantigas, danças, brincadeiras, costumes, rezas, figuras folclóricas e outras linguagens. Dirigido pelo premiado escritor Ronaldo Correia de Brito, é uma celebração da identidade nacional baseada na representatividade dos povos formadores - negros, indígenas, ibéricos - e na absorção de aspectos da contemporaneidade.
O espetáculo se renova ao temperar a trama original com incursões artísticas recentes, como o hip hop do grupo PE Original Style, e propor reflexões derivadas de dilemas históricos ou atuais, a exemplo da destruição ambiental. “Montar um espetáculo todos os anos em grande escala, ao ar livre, tudo executado ao vivo para milhares de pessoas nos enche de alegria. É uma produção que exige planejamento, trabalham uma média de 300 profissionais todos os anos. A 21ª edição será ainda mais surpreendente, trazendo cenas inusitadas que exaltam a força do teatro, da música e da dança com grande elenco”, adianta a diretora de produção, Carla Valença.
Pastoris, presépios, lapinhas, cantigas e danças tradicionais se encontram com passos de frevo, maracatu, cavalo marinho, boi para bordar uma versão extremamente brasileira da história universal. A apresentação deste ano inova com a concessão de fala - inédita em 41 anos desde o lançamento da obra em livro, hoje com tiragem superior a 700 mil exemplares - ao personagem José, interpretado pelo sanfoneiro paraibano Lucas Dan: a declamação de um poema adaptado do pernambucano Manuel Bandeira.
A atualidade da peça escorre igualmente pela questão existencial condutora de toda a trama. Dois brincantes, os Mateus, guiam o público junto a um coro infantil formado por 12 crianças rumo à busca pela porta de uma casa onde estaria o Menino. Os protagonistas, interpretados há 20 anos por Arilson Lopes e Sóstenes Vidal, com Daniel Barros e Paulo de Pontes na suplência, desejam iniciar a celebração da vida e a esperança de cada nascimento. É uma metáfora atemporal para o empenho constante por oportunidades, alternativas e sobrevivência em um mundo obstruído por privilégios, inacessibilidade e desigualdades.
A edição de 2024 conta, no elenco, com Lia de Itamaracá, a Rainha da Ciranda, já citada pelo “The New York Times” como “diva da música negra”. Ela cantará nos palcos a música da burrinha Zabilin, como fez no segundo filme produzido sobre o espetáculo (os dois disponíveis no YouTube). “Chamam Lia de Itamaracá deusa e rainha. Ela merece os títulos. Da vida quieta em sua ilha, cantando e dançando cirandas, Lia ganhou os palcos do Brasil e do mundo. Neste ano de 2024, a deusa e rainha da ciranda, nossa amada Lia de Itamaracá, estará girando conosco na roda do nosso Baile”, comemora Ronaldo Correia de Brito.
A encenação também recepciona o encontro de dois dos principais e mais populares maestros do frevo em atividade: Spok e Forró. Ambos já foram homenageados do carnaval do Recife (Spok conduz há 20 anos o tradicional arrastão do encerramento da folia da cidade) e colecionam apresentações com artistas renomados do Brasil e do mundo. “Sempre ouvi falar e nunca pude participar. O destino me colocava sempre em situações de desejar estar aqui. Até que, neste ano, vou realizar esse sonho”, conta Spok. “Estou muito feliz por participar do Baile, tão importante para a nossa cidade, o estado, o país”, elogia.
A representação de José na montagem caberá ao pesquisador, poeta, brincante e sanfoneiro paraibano Lucas Dan, cuja carreira artística é forjada no forró e na poesia nordestina, com experiências em terreiros populares, circo e teatro de rua. “Estou muito feliz e honrado de representar José no Baile ao lado de uma equipe tão competente, sensível e sonhadora. Feliz que a fala será com poesia”, diz Lucas. O músico contracena com a cantora, compositora, atriz e bailarina pernambucana Laís Senna, no papel de Maria pela segunda vez após a estreia em 2023.
A ópera popular tem música ao vivo, regida pelo maestro Rafael Marques. As canções interpretadas por artistas como Silvério Pessoa, Lucas dos Prazeres e a estreante Júlia Souza são acompanhadas por dois coros: um infantil, sob batuta de Célia Oliveira, e outro adulto, formado por Carlos Filho, Cláudio Rabeca, Elon, Isadora Melo, Ricardo Pessoa, Sarah Leandro, Sue Ramos e Surama Ramos, todos solistas do espetáculo. Um corpo de baile formado por dez bailarinos completa a brincadeira de Natal, com coreografias de Sandra Rino.
APOIOS E REALIZAÇÃO
O “Baile do Menino Deus: Uma Brincadeira de Natal” é realizado pela Relicário Produções Culturais com o Ministério da Cultura e Governo Federal. Conta com o incentivo da Lei Federal de Incentivo à Cultura, é apresentado pela Rede, a empresa de meios de pagamento do Itaú, e pela Prefeitura do Recife, com patrocínio master do Grupo Parvi, Banco do Nordeste e da Sherwin-Williams, patrocínio da Copergás e do Sesc-PE, apoio do Governo de Pernambuco, da Capricche, InBetta e Sistema de Transmissão Nordeste.
Tudo começou com um esboço de representação teatral idealizada por Francisco Assis Lima e enviada para Ronaldo Correia de Brito. Junto com Antônio Madureira, eles o transformaram em nove composições musicais inspiradas em ritmos pernambucanos, nordestinos, brasileiros e ibéricos, germinadas entre cartas trocadas e algumas caras ligações telefônicas pelos parceiros, à época com 30 e poucos anos. Foram somadas a três clássicos do reisado (“Jaraguá”, “Burrinha” e “Boi”) e materializadas em um disco gravado na extinta Rozenblit e lançado pelo selo Eldorado em 1983.
Estreou no mesmo ano, para uma plateia lotada no Teatro Valdemar de Oliveira. Foram oito anos no tradicional palco. De lá para cá, foi encenado em centenas de escolas, ruas, pátios, teatros, terreiros, ONGs, assentamentos, quilombos, comunidades indígenas. A primeira edição no Marco Zero foi em 2004, em arrojada iniciativa de Ronaldo Correia de Brito e Carla Valença em levar o auto de Natal a palco a céu aberto, com acesso gratuito.
PARCERIA COM O SESC MESA BRASIL
O espetáculo é parceiro do programa Sesc Mesa Brasil, banco de alimentos contra a fome e o desperdício, com 22 anos de atividade em Pernambuco. As doações podem ser feitas para o Sesc, o valor arrecadado será destinado a instituições sociais que atendem famílias em situação de vulnerabilidade social. Mais informações no site sescpe.org.br.
SERVIÇO
Baile do Menino Deus: Uma Brincadeira de Natal
Dias 24 e 25 de dezembro, às 20h
Na Praça do Marco Zero do Recife (Recife Antigo, Recife)
Acesso gratuito | Classificação: Livre
Duração: 80 minutos
Acessibilidade: Espaço reservado para pessoas com cadeira de rodas, Audiodescrição e Intérprete em Libras
Realização: Relicário Produções
Transmissão ao vivo no dia 25 de dezembro, às 20h, pelo canal do YouTube do espetáculo https://www.youtube.com/bailedomeninodeus
Fotos: Paulo Filizola, Hans von Mauteffel, Morgana Narjara e Gianny Melo
Veja o Teaser para 2024: