Está faltando menos de uma semana para todo mundo, no Brasil todo, ir às urnas para escolher quem vai gerir nossas cidades e quem vai fiscalizar e cobrar a partir das câmaras municipais. No Recife não será diferente.
Num cenário em que um prefeito mega popular que conta com o apoio de uma amplíssima aliança que vai desde o União Brasil ao PcdoB, para muita gente fica parecendo que a eleição “não tem graça” e que sua vitória são “favas contadas”. Ao mesmo tempo, mais da metade das pessoas ainda não escolheu em quem votar para vereadora.
É preciso, portanto, prestar atenção em todas as nuances e em todas as disputas paralelas que ocorrem dentro de um mesmo processo eleitoral. E compreender o quão importante é para quem simpatiza com ou milita no campo mais progressista votar nas candidaturas do PSOL. Explico.
Há 24 anos, a capital pernambucana é governada pelo PT junto com o PSB e, durante todo este tempo, por mais que tenha havido avanços em muitas áreas, Recife segue sendo uma das cidades mais desiguais do nosso país. O custo da manutenção do poder, aliado ao conservadorismo entranhado no fazer político tradicional tem sido um grande obstáculo a algumas mudanças que precisam ser feitas em nossa cidade.
Mudanças sobre as quais não falta conhecimento a quem toca a gestão. O que mais falta é coragem de fazer diferente e ousadia para desafiar o senso comum especialmente em pautas como mobilidade urbana, política de moradia, atenção básica na saúde, política de drogas, gestão de resíduos sólidos e prevenção a morte materna, só pra citar algumas áreas onde houve avanços, embora modestos.
Quem acompanha mais de perto as falas do prefeito percebe-o como um jovem com boa formação e conservador. Suas andanças pelo mundo não permitem que ele não saiba, por exemplo, que é preciso reduzir a quantidade de carros que circulam na cidade. Ele também sabe (eu pipoque se ele não souber) que é preciso investir em habitação e que é preciso avançar nos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.
Só que ele também sabe que algumas das necessárias medidas para que a gente possa enfrentar estas questões são lidas como “impopulares”. Nessa conta eleitoral, temos perdidos chances de ouro de avançar sob um novo paradigma de gestão pública, de construir uma democracia mais aprofundada, de possibilitar uma verdadeira transformação na geração de renda no Recife a partir da nossa diversidade cultural e de políticas focadas no meio ambiente, como a reciclagem e a compostagem.
Se todos os institutos de pesquisa não estiverem coletivamente vivendo uma viagem alucinógena, tudo indica que a gestão atual será reeleita. O que está em jogo então? Em primeiro lugar, está em disputa a oposição. Com quase todos os partidos da esquerda tradicional aliados à direita e ao prefeito, apenas o PSOL hoje se posiciona à esquerda da gestão.
Durante os últimos oito anos, fomos o único partido a não compor a base em nenhum momento. Isso quer dizer que durante todo este tempo tivemos a independência necessária para fazer críticas públicas, para realizar pesquisas que apontavam lacunas nas políticas públicas, para representar contra a prefeitura ao Ministério Público sempre que percebíamos necessário. E, ainda assim, para votar a favor de projetos da prefeitura sempre que estiverem em consonância com o que acreditamos. Com apenas dois mandatos entre os atuais 39, temos feito a diferença e isto é percebido inclusive por muita gente que atua na própria gestão.
Ainda assim, a maioria dos vereadores da oposição hoje em dia pertencem ao campo bolsonarista da extrema-direita e tocam seus mandatos entre o fundamentalismo cristão e a pirotecnia eleitoreira com pouco impacto real. Ou seja, mesmo que goste do favorito prefeito, mesmo que aprove a gestão pessebista, a pessoa que demanda seriedade na política e avanços à esquerda não pode abrir mão da bancada do PSOL, que precisa ser mantida e fortalecida.
Este ano temos uma chapa forte, com maioria de mulheres e pessoas negras, com gente que vem da luta do dia-a-dia e que está se colocando à disposição para aumentar a representatividade na Casa José Mariano. Eu tenho certeza absoluta que entre nossas candidaturas existe uma com a qual você vai se identificar, que atua com a luta que você participa, que assume uma identidade igual à sua.
O mesmo argumento vale para a eleição majoritária. Votar em Dani Portela é, sim, um voto útil. É dizer para a cidade e para o próprio prefeito que nós queremos muito mais. Que queremos um orçamento mais democrático, que queremos mais politica de moradia, mais seriedade na mobilidade, mais saúde e educação, menos privatização.
As disparidades entre as últimas pesquisas deixam bem negritado que temos, sim, a chance de chegar em segundo lugar e de liderar a oposição no próximo ciclo. Na capital em que o bolsonarismo não se cria, temos a oportunidade de enterrar de vez a extrema direita e seus simpatizantes, elevando o debate político e melhorando a política como um todo. Se todo mundo que se identifica com a esquerda votar 50, independente do resultado final, pode ter certeza que já estaremos no caminho certo.
Ivan Moraes Filho é jornalista e vereador do Recife