sexta-feira, 11 de outubro de 2024

Horta Escolar: uma poderosa ferramenta de mudança


O Projeto Educação Sustentável nas escolas desempenha um papel fundamental na formação dos estudantes em relação ao meio ambiente. Esse é o objetivo alcançado pela ONG Giral em mais de dois anos do projeto – com apoio do Programa Criança Esperança da Rede Globo, de empresas privadas e premiação do Edital Itaú Unicef – inclusive, beneficiando 12 escolas e mais de 1,5 mil crianças, adolescentes e jovens da Zona da Mata Norte, Recife e Região Metropolitana de Pernambuco. 

 Crianças como Maria Vitória e seu coleguinha de sala, Enzo Santana, ambos de 7 anos, alunos do Infantil da Escola Municipal Mundo Esperança, que fica na Estrada dos Pintos, na Zona Norte do Recife. Um ajudou ao outro a colocar o avental e participarem de uma das atividades de intercâmbio com estudantes que vieram da Escola Municipal 19 de Abril, localizada na Zona Rural de Aldeia, em Camaragibe. 

Neste dia, a tia Isabela Esteves levou à sala de aula liquidificador, batedeira, micro-onda, formas e principalmente, os ingredientes devidamente separados em vários recipientes e na quantidade certa, que foram exibidos numa cartolina, para que todos da sala pudessem ver como seria feito um bolo de cenoura com chocolate. 

 A tia Isabela Esteve atua na coordenação do projeto nas escolas do Recife e RMR. Incansável e comprometida com o processo de conscientização dos estudantes, ela se une aos professores para que os produtos utilizados nas receitas sejam retirados do plantio da horta mantida no Mundo Esperança. Além disso, ainda tem a orientação pedagógica de ensinar a quantidade usada como se fosse uma tabela de matemática ou sobre a qualidade nutricional dos alimentos numa linguagem simples e lúdica. “Quando vamos fazer um bolo, uma torta ou simplesmente um suco de laranja com cenoura, mostramos às crianças que eles estão consumindo produtos orgânicos, sem agrotóxicos e extremamente saudáveis”, ensina Isabel, observando que a linguagem disciplinar termina chegando também às famílias e transformando a sua rotina alimentar. 

 A diretora do Mundo Esperança, Ida Flávia Falcão, destaca que a parceria iniciada no ano passado com a ONG Giral foi uma das melhores decisões: “A gente não quer mais se desvincular, porque é uma aprendizagem não só para a gente, mas para os estudantes. Tínhamos o sonho de ter uma hora escola há anos e agora é uma realidade incrível”, acrescenta. A escola da rede de ensino do Recife mantém 366 alunos do Ensino Infantil e Fundamental I. A escola mantém uma horta completa com hortaliças, verduras e ervas medicinais. Parte da colheita vai para a merenda e o que sobra é entregue aos pais dos alunos.  

 A primeira experiência do Projeto Educação Sustentável longe do perímetro da Zona da Mata Norte do Estado foi na Escola 19 de Abril, em Aldeia, atualmente com 180 estudantes dos Ensinos Infantil, Fundamental e Integral. A horta se tornou numa espécie de laboratório vivo, onde os alunos aprendem, na prática, sobre o ciclo das plantas, a importância de aguar o solo nas horas certas e o processo de colheita. O terreno na área externa da escola é estrategicamente dividido com as formas geométricas: “Enquanto eles distribuem as sementes, ensinamos a plantar no círculo, no triângulo, no quadrilátero, sempre fazendo analogias com as disciplinas dadas em sala”, destaca Isabel. 

 Outra parte importante é a área de composteira orgânica mantida na Escola 19 de Abril. A Giral garantiu a estrutura que permite a compostagem do lixo orgânico para decomposição natural até se transformar em adubo. A composteira é organizada pela ex-aluna da escola e estudante do curso técnico ambiental, Thayne Gomes, 19 anos. Desde criança é fascinada pelo cultivo de hortas e plantio de frutas.

 “A composteira é uma solução sustentável e barata para dar destino aos resíduos orgânicos da cozinha escolar. O adubo orgânico resultante da compostagem é destinado aos jardins, hortas e plantas, substituindo o uso de produtos químicos”, reforça a chefe do Departamento de Educação Ambiental de Camaragibe, Érika Takata. “Comecei na minha infância aqui na escola e hoje, sou voluntária da 19 de Abril, porque acredito que é um projeto importante para a vida mais saudável dessas crianças e adolescentes. Por isso, desenvolvemos palestras, trilhas, coletas de resíduos sólidos nas residências e essa parceria com a Giral tem sido fundamental”, complementa. 

 A coordenadora do Projeto Educação Sustentável da ONG Giral, Nayara Tamires - que mantem também as hortas institucionais na sede da instituição no Distrito Rural de Apoti, em Glória do Goitá - faz questão de elencar quais as principais influências das hortas escolares nos hábitos dos estudantes e famílias:

• Desenvolvimento do paladar: ao cultivarem e saborearem os alimentos produzidos na horta, os alunos se tornam mais receptivos a novos sabores e texturas.

• Valorização dos alimentos naturais: a horta incentiva o consumo de alimentos frescos e minimamente processados, em detrimento de produtos industrializados.

• Conscientização sobre a origem dos alimentos: os alunos passam a compreender de onde vêm os alimentos que consomem e o trabalho envolvido em sua produção.

• Redução do desperdício: ao participarem do cultivo, os alunos valorizam mais os alimentos e tendem a desperdiçar menos.