segunda-feira, 15 de julho de 2024

Projeto incentiva mulheres a usarem a culinária e a comunicação para enfrentar desigualdades


Imagine aprender a fazer um doce típico do Nordeste e ao mesmo tempo refletir sobre como a nossa comunicação pode ser mais inclusiva e sintonizada com a garantia dos direitos humanos de todas as pessoas. Essa é a proposta do projeto "Comunicação para a Igualdade de Direitos”, uma vivência de dois dias junto a mulheres de Ponte do Maduro, no Recife. Acontece nesta quarta (17) e quinta (18).
 
A vivência começa com a turma aprendendo a preparar o Nego Bom com a cozinheira Tayná Passos, mulher negra, da periferia, mulherista africana e empreendedora no ramo de restaurante, enquanto as jornalistas Germana Pereira e Marcionila Teixeira, idealizadoras do projeto, dão início a uma reflexão sobre as palavras e suas conotações racistas, ampliando o debate para outras populações estigmatizadas.
 
Em dois dias, as jornalistas também apresentam dicas e atividades práticas de comunicação comprometida com os direitos humanos. Quem participa, ainda, do encontro é a equipe da Com Acessibilidade Comunicacional, com reflexões didáticas sobre práticas inclusivas.
 
Com o projeto, as facilitadoras buscam proporcionar às mulheres um aprendizado do doce e a possibilidade de comercialização da iguaria, incentivando o empreendedorismo de mulheres da periferia, além de formar uma rede de comunicadoras pela igualdade de direitos em Ponte do Maduro.
 
Ao final dos encontros, as mulheres serão capazes de reivindicar por seus direitos e dos moradores do bairro onde vivem através, por exemplo, das redes sociais ou de participações em organizações e até mesmo entrevistas para a imprensa.
 
Ponte do Maduro foi escolhida pelas jornalistas por se tratar de uma região com pessoas em situação de vulnerabilidade social, marcada por conflitos decorrentes do tráfico de drogas, desemprego e ausência de direitos básicos, como alimentação e moradia, contexto que afeta diretamente as mulheres, muitas delas, chefes de família. A liderança comunitária, Fátima Silva, atuou como mobilizadora no recrutamento das participantes do projeto.
 
O nome do doce, embora pareça algo carinhoso, remete à apropriação de características atribuídas à pessoa negra, como cor, maciez, doçura, além da erotização racista da figura do negro quando se fala “comer um nego bom.”
 
O projeto recebeu incentivo da Lei Paulo Gustavo, por meio do Edital de Fomento de Formação Cultural e Direitos Humanos, promovido pela Secretaria de Cultura de Pernambuco (Secult-PE), e acontece pela primeira vez na região de Ponte do Maduro, que congrega o Chié, Santo Amaro, Santa Terezinha e Ilha do Joaneiro.
 
Sobre as idealizadoras:
 
Germana Pereira é diretora criativa da Tangram Cultural. Jornalista, produtora e gestora cultural, tem na trajetória a produção de mais de cem obras audiovisuais entre séries e documentários para televisão, exibidos nacionalmente pela TV Globo, TV Cultura, Canal Futura e TV Escola, além de curtas e longas-metragens para cinema. Coautora e organizadora do livro “História Ilustrada dos 100 anos do Cinema em Pernambuco”, lançado em maio deste ano, resultado de décadas de pesquisa e dedicação ao audiovisual no Estado. Por nove anos esteve como Coordenadora-Geral da Massangana Multimídia, produtora audiovisual da Fundação Joaquim Nabuco, onde produziu dezenas de documentários, DVDs, CDs e livros, e participou da criação e implementação do Concurso Nacional de Roteiros Rucker Vieira e do Centro Audiovisual Norte-Nordeste (Canne), no qual também atuou como Coordenadora-geral. É coidealizadora e produtora do primeiro Festival de Cinema do Parque do Brasil, o Luz, Câmera, Diversão (2000) e do Festival Nacional do Making Of.
 
Marcionila Teixeira é jornalista pela Universidade Federal de Pernambuco, tem pós-graduação em direitos humanos pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) e é Jornalista Amiga da Criança, título concedido pela ANDI – Comunicação e Direitos. Como repórter, conquistou 24 prêmios, menções honrosas e títulos, entre eles, o Prêmio Esso de Jornalismo, o Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos e o Prêmio de Jornalismo Cristina Tavares. Fora das redações, ocupou o cargo de gerente de produção de conteúdo na Secretaria de Imprensa do Governo de Pernambuco, onde desenvolveu o projeto em texto “Servidores que Inspiram”, publicado semanalmente no Diário Oficial; e atuou como chefe da Divisão de Comunicação para a Igualdade de Gênero na Secretaria da Mulher do Recife, onde desenvolveu o projeto “Somar Vozes, rede de comunicadoras pelos direitos das mulheres”, produziu e apresentou o programa “Mulher na Caneca”, na Rádio Frei Caneca, e coordenou as redes sociais da secretaria.
 
As idealizadoras estudaram juntas desde o ensino fundamental, formaram-se na mesma turma de jornalismo da UFPE e desde 2022 e integram a equipe de comunicação e produção de conteúdo do Espaço Feminista do Nordeste para a Democracia e Direitos Humanos, onde atuam como jornalistas e facilitadoras de oficinas de inclusão digital entre mulheres urbanas e rurais.