Claranã, o primeiro livro da escritora Cida Pedrosa com métrica e rima nas poesias, ganha nova edição pela Cepe Editora quase dez anos após o lançamento original, em 2015. O título contém 40 poemas que falam sobre amores, solidão, morte, erotismo, fé, arte, o existir. São temas sociais e filosóficos comuns à produção da autora pernambucana, mas criados de outra forma, sob a inspiração de cordelistas, cantadores, cantorias de viola e do Sertão nordestino, onde estão as raízes de Cida Pedrosa.
A segunda edição da obra, com novidades, será apresentada terça-feira (30/07), às 18h, na Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco, em Santo Amaro, no Centro do Recife, num bate-papo da autora com o jornalista e escritor Cícero Belmar. “Fiz atualizações estéticas em um ou outro poema, mudei rimas porque encontrei algumas repetidas”, afirma Cida Pedrosa, nascida em Bodocó, poeta, feminista, militante comunista e vencedora do Melhor Livro do Ano do Prêmio Jabuti 2020 com Solo para Vialejo (Cepe). Há, também, acréscimo de prefácio do brincante, bailarino, músico, ator e pesquisador Antonio Nóbrega.
Para escrever Claranã - a palavra é de origem indígena, significa clarão/claridade e dá nome a uma pedra em Bodocó - Cida Pedrosa contou com a colaboração de amigos, que a provocaram com motes. Dessas sugestões nasceram poesias de gêneros populares variados: gemedeira, quadrão, galope à beira-mar, coqueiro da Bahia. Alguns motes, como o de Chico Pedrosa (Moisés balançou a vara / E o mar com medo se abriu) foram criados exclusivamente para o livro.
“Já os motes de Marco Polo Guimarães (Que na gravura em madeira / O Samico é um danado) e Wilson Freire (No terreiro da paz Salú descansa / Silencia a rabeca genial) tinham sido dados para uma corda virtual no site Interpoéticas, que fazia pelejas virtuais e era coordenado por mim e Sennor Ramos, lá eu tive minhas primeiras experiências com a métrica (o ritmo de um poema, o verso medido pela contagem das sílabas)”, declara. A publicação tem 140 páginas e ilustrações de Luiza Morgado. “Claranã é um clarão na minha vida, na minha criatividade, na minha construção poética”, destaca Cida Pedrosa.
O multiartista Antonio Carlos Nóbrega destaca, no prefácio da segunda edição, a habilidade da poeta. “O modo como usa a língua, a substância das ideias e a natureza oral dos versos e estrofes me deixa não só hipnotizado como com a consciência alerta em relação aos poderes da poesia rimada. E aí volto a uma questão que tem me batido frequentemente: a necessidade de desalojarmos essa forma de criar versos da cela do regionalismo onde está confinada.”
No prefácio que fez para a primeira edição, o escritor, compositor e dramaturgo Braulio Tavares traduz a inspiração para o livro: “A poesia popular entra na vida da gente por todos os lados, muito antes da gente saber com que letra começa o nosso nome. Entra pelo cheiro e pelo gosto de tudo quanto a gente compra na feira ou na calçada obedecendo à atração de uma trova cantada a plenos pulmões, de um pregão engraçado e sonoro. Entra nas cantigas de lavadeiras e nos aboios de vaqueiros.”
Sobre a autora - Cida Pedrosa é advogada de formação, defensora dos direitos humanos e vereadora no Recife (PCdoB). Além de poeta, com 11 livros publicados, é contista e recitadora. Pela Cepe Editora, lançou Gris (2018), Solo para Vialejo (2019) e Estesia (2022). Foi selecionada pelo Prêmio Oceanos de Literatura, com Claranã (primeira edição) e As Filhas de Lilith (2009), e conquistou o Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) com Araras Vermelhas (2022). Tem participação em antologias de contos e poemas no Brasil e no exterior.
ENTREVISTA COM CIDA PEDROSA
Pergunta - Claranã foi seu primeiro livro com uso de métrica e rima nos poemas, mas mantendo temas comuns à sua escrita. Continua sendo o único nesse formato?
Cida Pedrosa - Claranã realmente foi meu primeiro livro metrificado, isso é uma experiência incrível porque eu tenho essa herança do Sertão, da métrica e da rima. Meu segundo livro, O Cavaleiro da Epifania, tinha algumas experimentações de metrificação, mas muito frágeis ainda. Depois do Claranã, outra forma de ver, sentir e escrever a poesia aconteceu na minha vida, é um estilo literário que aprendi e gosto de usar. A abertura e o fechamento do Araras Vermelhas são em métrica.
Pergunta - Como você vê Claranã, hoje, quase dez anos depois da primeira edição do livro?
Cida Pedrosa - Continuo assinando, dez anos depois, cada poema que está escrito lá, eu gosto muito do resultado. Se tem um livro meu que eu gosto do resultado, é do Claranã. Ele é um clarão na minha vida, na minha criatividade, na minha construção poética. E a segunda edição está tão bonita! E as linografias de Luiza (Morgado) são lindíssimas, é uma grande companhia ter no livro uma jovem que utiliza esse tipo de arte.
Pergunta - Você ainda olha a Pedra do Claranã com os mesmos olhos da infância?
Cida Pedrosa - Eu continuo olhando a Pedra do Claranã com muito espanto, com muita imaginação, porque ela é linda, ela é a minha pedra que canta, a minha pedra que clareia, a minha pedra que todas as vezes que eu estou muito mal e olho para ela, eu consigo ver o mundo de forma melhor.
SERVIÇO
O que: Lançamento de Claranã, em bate-papo de Cida Pedrosa com o jornalista e escritor Cícero Belmar
Quando: 30 de julho (terça-feira)
Hora: 18h às 21h
Onde: Biblioteca Pública do Estado de Pernambuco (Rua João Lira, s/n, Santo Amaro, Recife)
Preço: R$ 40 (impresso) e R$ 20 (e-book)
Foto: Leopoldo Conrado Nunes/Cepe