segunda-feira, 27 de maio de 2024

Como a tecnologia vem moldando a profissão de costureira no Brasil

 

A confecção de roupas antigamente era um processo meticuloso e manual, onde cada peça era única e refletia a habilidade e o tempo dedicado pelo artesão. Com a Revolução Industrial no século XVIII, o setor têxtil passou por uma transformação radical marcada pela invenção de máquinas como o tear mecânico e a máquina de costura. A automatização de grande parte da fabricação de peças abriu caminho para a produção em massa e para o desenvolvimento da indústria como ela é hoje, formada por processos altamente tecnológicos e diversificados. Mas em meio a sistemas cada vez mais avançados e sustentáveis, uma questão se sobressai: com o passar do tempo a profissão de costureira vai continuar existindo?
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Na data em que foi celebrado o Dia da Costureira, em 25 de maio, a resposta é sim, segundo a opinião de Gizele Cunha, coordenadora de Gestão do conhecimento da Audaces, multinacional ítalo-brasileira que é referência mundial em soluções para a indústria da moda. Hoje a companhia fornece tecnologia de moda para mais de 60 mil profissionais em mais de 70 países, especialmente com o Audaces360, uma plataforma integrada que cobre todas as etapas da produção de moda, desde a criação até a fabricação.

Para a especialista, o que muda é que com a tecnologia esses profissionais terão maior empoderamento frente aos seus negócios e na tomada de decisões sobre suas confecções, além de focar em atividades que exijam menos esforço manual — dando espaço para explorar a ideação e a criatividade das roupas e desenvolver habilidades de gestão e negociação. Enquanto os hardwares e softwares servirão de aliados para acelerar a modelagem e produção, reduzir o desperdício de tecidos por meio de cortes precisos e ajustes automatizados, entre outras funcionalidades

Segundo dados recentes, o Brasil possui cerca de 1,5 milhão de trabalhadores no setor têxtil e de confecções, que incluem costureiros, técnicos e outros envolvidos na produção de vestuário. Essas pessoas estão espalhadas por aproximadamente 25 mil empresas da área em todo o país, que vão desde pequenos ateliês e microempresas até grandes fábricas com produção em larga escala. Ou seja, o segmento está consolidado no país e há espaço tanto para os profissionais que seguem fazendo roupas “à moda antiga” ou com máquinas de costura mais simples quanto para aqueles que estão operacionalizando tecnologias mais avançadas.

“A Audaces vê a tecnologia como uma ferramenta de empoderamento para os profissionais de confecção, proporcionando-lhes as ferramentas necessárias para se destacarem e inovarem em suas carreiras. Ao contrário de ameaçar os postos de trabalho, a tecnologia tem o potencial de elevar a profissão, criando oportunidades para o crescimento pessoal e profissional. A empresa acredita que o futuro do setor está na combinação das habilidades humanas com as capacidades tecnológicas, resultando em uma indústria de confecção mais eficiente, criativa e sustentável”, afirma Gizele Cunha.

O antes e depois na produção de roupas

Os impactos da tecnologia no dia a dia do trabalho de um profissional de costura podem ser medidos por exemplos simples, como a confecção de uma camisa de botão ou mesmo um vestido bordado. Nas décadas passadas a produção de uma peça com essas características exigia um trabalho intensivo em tempo e habilidade. Enquanto uma camisa de botão poderia levar dias para ser feita, no caso do vestido, a depender da complexidade do bordado, esse processo poderia levar semanas ou até meses.

Os recursos disponíveis também eram restritos a máquinas de costura mecânicas, fitas métricas e réguas, tesouras, teares manuais e agulhas e dedais. Conforme Gizele Cunha, dentre as dificuldades de produção mais comuns estavam a precisão do corte e costura, uma vez que sem as ferramentas que existem hoje, o corte do tecido e a costura eram feitos manualmente, exigindo muita habilidade para garantir que as peças se encaixassem perfeitamente.

“Outro quesito desafiador era o cálculo de padronização, todo feito à mão, no qual costureiras e alfaiates usavam medidas corporais específicas e desenhavam padrões em papel ou diretamente no tecido, ajustando conforme necessário. Fora isso, os bordados também demandavam um trabalho complexo, que exigia paciência e atenção aos detalhes”, explica.

Segundo a especialista, com a automatização uma camisa de botão pode ser produzida em questão de horas com o auxílio de máquinas de costura automatizadas e processos de linhas de montagem rápidos e eficientes. Já um vestido bordado pode ser desenvolvido por meio de máquinas de bordar computadorizadas em um ou dois dias, conforme a complexidade do design. Os cortes também podem ser feitos a laser e, ainda em fase experimental, as impressoras 3D de tecidos prometem criar peças inteiras de tecido, personalizadas e com desperdício mínimo — gerando economia na produção das peças e maior competitividade no mercado.

Integração entre tecnologia e habilidade humana é essencial, mas enfrenta obstáculos

A Audaces defende que a tecnologia não substitui o profissional, mas potencializa suas capacidades. Mas para que isso aconteça é importante que esses costureiros e costureiras busquem se capacitar por meio de treinamentos e atualização técnica contínua, para estarem sempre alinhados com as últimas tendências e inovações tecnológicas.

Essa integração também é capaz de promover uma valorização desses trabalhadores, por meio da qualificação e especialização nas soluções disponíveis no mercado e capacidade de interpretar os dados gerados por meio das linhas de produção automáticas. Outro ganho significativo está relacionado à produtividade, já que as ferramentas que automatizam tarefas repetitivas oportunizam aos profissionais produzirem mais e melhor, aumentando sua relevância no mercado.



Apesar dos benefícios, a falta de familiaridade com a tecnologia também é um dos principais obstáculos para o desenvolvimento de profissionais do setor. Isso leva parte desses trabalhadores a terem dificuldade em se adaptar às novas tecnologias. Os entraves podem incluir capacitação insuficiente, o que pode gerar medo ou fazer com que essas pessoas não se sintam confiantes em operar máquinas e software avançados.



“A resistência à adoção de soluções tecnológicas na indústria de confecção é multifacetada, envolvendo questões de familiaridade, custo, cultura organizacional e percepção de ameaça ao emprego. Superar essas barreiras requer uma abordagem integrada que inclua treinamento, demonstração clara de benefícios, suporte contínuo e incentivos financeiros. Com essas medidas, é possível facilitar a transição para um ambiente de trabalho mais moderno e eficiente”, finaliza Gizele Cunha.