quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Novo protocolo diminui risco de morte de pacientes com leucemia mieloide aguda em até 34%

 

O Brasil está envelhecendo. Última pesquisa do IBGE aponta crescimento de 57,4% no número de pessoas com mais de 65 anos, chegando a um total de 22 milhões. Dados assim expõem a importância de se cuidar da saúde da terceira idade e chamam atenção para as doenças que são mais frequentes quanto mais idosa é a população, como é o caso da Leucemia Mieloide Aguda (LMA), tipo de câncer no sangue que apresenta baixas taxas de sobrevida.

Recentemente, houve um importante avanço no tratamento desta doença por meio da combinação da substância venetoclax mais azacitidina (chamado de estudo VIALE-A, publicado pela farmacêutica americana AbbVie), garantindo uma redução de 34% no risco de morte em pacientes com LMA. A hematologista Lorena Costa, da Multihemo Oncoclínicas, explica que os resultados têm sido promissores e que muitas pessoas acometidas por essa doença são idosas, por isso, mais frágeis, e estão muito doentes para serem submetidas a uma quimioterapia ou possuem múltiplas comorbidades.

Com essa nova combinação de venetoclax mais azacitidina, os pacientes idosos têm possibilidade de atingir 50% de remissão (ficar sem a doença), o que não existia há poucos anos. Com essa terapia, houve aumento de sobrevida com boa qualidade de vida, o que inclui independência transfusional e possibilidade de realização de atividades diária normalmente. “É uma grande revolução no tratamento das leucemias mielóides agudas, principalmente para os pacientes idosos que não tinham perspectiva de respostas até uns 5 anos atrás”, afirma Lorena.

Até o momento, o estudo VIALE-A vem sendo adotado apenas em pacientes não elegíveis para a terapia de indução padrão, mas pode ser uma importante saída, visto o envelhecimento da população. “Eu tive cinco pacientes, com média de 70 anos, que utilizaram esse protocolo. Todos obtiveram sobrevida livre da doença, com boa qualidade de vida, por uma média de 18 meses. Atualmente três continuam vivos, há cerca de dois anos após se submeterem a esse tratamento. É importante ressaltar que eles podem ser atendidos ambulatoriamente, em casos selecionados, continuando no conforto de seus lares, diminuindo a possibilidade de infecção hospitalar, mantendo suas atividades habituais, podendo fazer planos de viagens, festas. Enfim, levando uma vida normal”, reforça Lorena.

Segundo a médica, esse ganho de sobrevida com boa qualidade de vida é de extrema importância para a população idosa ou com comorbidades, que não permitam uso de quimioterapia intensiva. Para os mais jovens, estão sendo realizados estudos promissores para avaliar se o VIALE-A poderá ser incluído como terapia inicial também para pacientes com boa condição física, sem comorbidades, e que possam ser elegíveis para quimioterapia intensiva. “No momento, é possível lançar mão deste mesmo protocolo para pacientes jovens nos casos de falha terapêutica inicial, e isto pode ser a terapia ponte para o transplante de medula óssea, que é a única opção curativa para qualquer caso de leucemia aguda com indicação de transplante”.

Leucemia Mieloide Aguda (LMA)

A Leucemia Mieloide Aguda é a mais comum dentre as leucemias agudas que acometem os adultos. Representa 1% de todos os cânceres e geralmente não ocorre em pessoas com menos de 45 anos, estando associado a doenças hematológicas ou síndromes hereditárias. Ela é caracterizada pela produção e crescimento rápidos das células sanguíneas doentes, que podem se desenvolver na medula óssea, impedindo a produção de células sanguíneas normais.

Em pacientes com LMA, acontece a mutação do gene FLT3, responsável por codificar proteínas e por disparar sinais importantes para as células com o objetivo de suprir as necessidades do corpo. Quando acontece a mutação nesse gene, ele emite esses sinais de forma descontrolada, fazendo com que haja a proliferação de um grupo de células. “É por causa dessa rápida proliferação que esse tipo de câncer tem grande chance de reincidência, mesmo depois de um tratamento”, explica Lorena.

Fevereiro Laranja

A campanha Fevereiro Laranja chama atenção para a leucemia, um tipo de câncer que tem início nas células-tronco da medula óssea, fazendo com que as células doentes atrapalhem a produção de células saudáveis. No Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 11.540 casos por ano, até 2025. Esse grupo possui quatro subtipos, a linfoide crônica (LLC), a linfoide aguda (LLA), a mieloide crônica (LMC) e a mieloide aguda (LMA), sendo essa última uma das que apresenta difícil tratamento.