O grupo analisou exames e históricos médicos de 499 pacientes com mais de 18 anos de janeiro de 2009 a dezembro de 2016 para entender e descrever a ligação entre a infecção pelo parasita Trypanosoma cruzi, causador da Doença de Chagas, e o AVC isquêmico com causa cardioembólica. Esse tipo de AVC acontece quando um coágulo de sangue parte do coração e bloqueia uma artéria cerebral. Os pacientes observados tinham as duas condições.
A presença de fatores de risco vascular tradicionais é um forte indício para a ocorrência de AVC em pacientes com Doença de Chagas. A hipertensão foi diagnosticada em 81% dos pacientes com ambas as doenças. Metade dos pacientes (56%) tinha altos níveis de gordura no sangue e 25%, diabetes. “A Doença de Chagas causa um acometimento cardíaco que pode levar à formação de trombos ou arritmias que, por sua vez, geram o AVC por um mecanismo conhecido como cardioembolia. Essa é uma das principais consequências da doença”, explica Vinicius Vian Abreu Montanaro, autor do estudo e pesquisador da UFF.
Ao analisar o histórico clínico dos pacientes, os pesquisadores verificaram que as mulheres tiveram 83% mais chance de ter recorrência do AVC, ou seja, mais de um acidente do tipo. “Essa associação pode ser devido ao maior risco cardiovascular que as mulheres têm em comparação com os homens”, destaca o pesquisador, que também acrescenta a possibilidade de que reposições hormonais e contraceptivos possam aumentar o risco de eventos isquêmicos.
A idade dos pacientes também está entre os motivos do AVC. Durante o estudo, pessoas mais jovens com a doença de Chagas tiveram chances reduzidas de eventos de AVC relacionados aos problemas no coração, mostrando que o envelhecimento favorece acidentes cardíacos por embolismo. O uso de anticoagulantes – medicamentos que evitam entupimentos das veias – também é uma fonte de proteção contra o AVC. Neste sentido, o trabalho incentiva a discussão clínica sobre o uso desses medicamentos em pacientes acometidos por ambas as doenças como estratégia para evitar um novo AVC.
Para Montanaro, o próximo passo é fazer uma comparação entre diferentes anticoagulantes em pacientes com Chagas e AVC isquêmico embólico sem fonte definida. “Pretendemos ajudar a sanar duas dúvidas: primeiro, se devemos aplicar anticoagulante nos pacientes que não têm causa determinada, mas que o AVC parece ser embólico. Segundo, se podemos usar os novos anticoagulantes para prevenção ainda maior em pacientes com Doença de Chagas e AVC isquêmico”, encerra o autor.
Com informações da Agência Bori