A cidade é uma das principais cidades produtoras de cerâmica de Pernambuco. O seu nome é de origem tupi-guarani e significa “panela de formiga”. E foi por meio do barro que o seu povo modelou à mão a história do município. O contato com a cerâmica nasceu na cultura ameríndia Tupi, somada com as culturas afro-diaspórica do continente africano no período colonial e seus saberes que constituíram as olarias que se fabricam telhas, jarros e tijolos para alimentar os engenheiros que colonizaram a região e ainda se perpetuam. Dentro dessas olarias, o manuseio com o barro se constitui a partir da técnica do acordelado e com o torno de oleiro, utilizada para a feitura de peças domésticas, como pratos, potes, moringas, alguidares e posteriormente esculturas figurativas.
Sob a premissa de preservar, dar continuidade a esses saberes e estimular o diálogo com a classe artística, a sociedade civil e acadêmicos, acerca da sensibilização da importância do acervo e da identidade de uma comunidade, que muito dialoga com a sua formação artística e profissional, o artista e curador J.Melo trouxe para o Museu de Arte Popular do Recife, a exposição “Tapirurama - Gerações do Massapê”. A mostra estreou em setembro de 2022 e recebe visitantes de quarta-feira a domingo, das 10h até as 16h.
A proposta da exposição, que segue em cartaz no equipamento cultural recifense, é resgatar em cada indivíduo a conexão entre passado e presente, norteando e sensibilizando acerca da reformulação artística.
“A exposição significa muito para mim e para quem trabalha com arte popular no Estado, sobretudo na Zona da Mata, Agreste e Sertão. Realizá-la na Região Metropolitana do Recife, onde o fluxo de visitantes e turistas é sempre maior, surge como uma proposta de reencontro com a formação social brasileira esculpida no barro. O acervo busca evidenciar e valorizar a memória dos povos indígenas que habitavam no local onde hoje se localiza o município de Tracunhaém. Essa memória pode ser observada tanto nos corpos dos seus descendentes caboclos e afro-indígenas dentro dos ateliês e olarias que produzem tijolos, telhas, potes, panelas, jarras, quanto no processo de modelar o barro”, destaca Melo.
O acervo da mostra traz uma linha temporal, promovendo diálogo e conexão entre o legado, autoralidade e a perpetuação de saberes. As peças, que trazem à tona as crenças populares, a marca da colonização e o cotidiano, perpetuam a história de algumas famílias cujo integrante que segue o trabalho consegue imprimir a sua assinatura, como também dos novos artistas que surgem a cada dia nas olarias da cidade, apontando novos caminhos e métodos para se pensar a cultura, a arte e os novos tempos.
PANORAMA DA ARTE CERÂMICA - Tapirurama Gerações do Massapê
No Museu de Arte Popular do Recife, será lançado, em dezembro, o livro “Panorama da Arte Cerâmica - Tapirurama Gerações do Massapê a partir do acervo do Museu de Arte Popular - MAP”. O material propõe o diálogo entre a exposição, as produções novas de cerâmica no Estado, além da pesquisa desenvolvida na área.
A publicação será distribuída em instituições de ensino, museus, centros culturais e contribuirá para a preservação do seu conteúdo acerca do tema. A publicação impressa e digital possibilitará o aprofundamento teórico e historiográfico acerca da cerâmica em Pernambuco. O material é constituído de análises críticas, ensaios e registros fotográficos das esculturas. Divididos em quatro seções: Apresentações e textos críticos e curatorial sobre a arte Cerâmica em Pernambuco; registro Iconografia da exposição e das obras dos participantes; perfis dos ceramistas; expediente e referências bibliográficas.
“Acredito que, desde a sua concepção, a pesquisa e posteriormente a exposição nasceu para figurar em várias plataformas. Quando se pensa em democratizar a arte e os estudos acerca de sua funcionalidade social, precisamos, atribuindo-nos o papel de agentes sociais, fazer o possível para que o fazer artístico chegue a todas e todos. E é por isso que a Tapirurama é composta por um acervo físico cerâmico, também perpassa o vídeo no documentário Digitais sobre o Barro, a fotografia e a produção intelectual escrita. A produção artística brasileira deverá seguir cumprindo o seu papel de conexão entre os processos ancestrais, individuais e os e coletivos na contemporaneidade ”, enfatiza J.Melo.