Na semana em que se comemora o Dia Nacional da Poesia, a Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, vai fazer da efeméride posteridade, anunciando a inclusão de mais duas esculturas no Circuito da Poesia, em homenagem aos poetas Miró e Lucila Nogueira, convergentes na geografia, mas múltiplos na estética, no léxico e no imaginário.
As estátuas são assinadas pelo artista Demetrio Albuquerque e ganham as ruas da cidade até o fim do ano, com planejamento e execução de serviços pela Emlurb. Miró irá se confirmar paisagem na Avenida Rio Branco, no centro histórico do Recife, cenário constante de suas andanças e tema recorrente de sua obra, feita da inspiração e da transpiração das ruas. Já Lucila ficará no bairro da Jaqueira, nos arredores da Academia Pernambucana de Letras, evocando seus mistérios nas úmidas paisagens recifenses, feitas de água e imaginação.
“O Circuito da Poesia é um olhar especial sobre o Recife, abrindo caminhos para a celebração, a memória, a descoberta. O encontro com autores e autoras, o contato proposto com as suas obras, é uma forma de lermos a nossa cidade, seus sonhos e desafios. Miró e Lucila representam muito bem isso, na singularidade e universalidade de suas palavras e presenças. Cresce o circuito, com ele também crescemos”, celebrou o secretário de Cultura, também poeta, Ricardo Mello.
Para o escultor Demetrio Albuquerque, a ampliação do Circuito reforça o convite à contemplação, usufruto e celebração de nossas belezas materiais e imateriais. “Louvo o pioneirismo do Recife em acolher o Projeto do Circuito da Poesia, que tem crescido ao longo desses anos graças ao carinho da população, que primeiramente acolheu e compreendeu a importância de se louvar a rica cultura literária do estado, seja popular, erudita ou musical. Trazendo para perto, para seu dia a dia, a lembrança de quem fez a ideia de pernambucanidade. Viva a Poesia!”
As novas esculturas fazem o Circuito alcançar 22 obras, rendendo homenagens a variados grandes nomes da literatura e da música recifense, em paisagens da cidade que refletem suas obras: Manuel Bandeira (Rua da Aurora); João Cabral de Melo Neto (Rua da Aurora); Capiba (Rua do Sol); Carlos Pena Filho (Praça do Diário); Clarice Lispector (Praça Maciel Pinheiro); Antônio Maria (Rua do Bom Jesus); Ascenso Ferreira (Cais da Alfândega); Chico Science (Rua da Moeda); Solano Trindade (Pátio de São Pedro); Luiz Gonzaga (Praça Mauá); Mário Mota (Pátio do Sebo); Joaquim Cardozo (Ponte Maurício de Nassau); Ariano Suassuna (Rua da Aurora); Alberto da Cunha Melo (Parque 13 de Maio); Celina de Holanda (Avenida Beira Rio); Liêdo Maranhão (Praça Dom Vital); Naná Vasconcelos (Marco Zero); Reginaldo Rossi (Pátio de Santa Cruz); Janice Japiassu (Rua do Príncipe); e Tarcísio Pereira (Rua Sete de Setembro).
Para conferir informações sobre o Circuito da Poesia e sobre os poetas retratados, basta acessar o site https://circuitodapoesia.recife.pe.gov.br/, onde a obra de cada poeta ganha vida, na voz de atores e atrizes da cidade, em vídeos com 3 a 5 minutos de duração.
Sobre os poetas
Miró da Muribeca - O poeta contundente, de obra pavimentada no cotidiano urbano, nasceu João Flávio Cordeiro da Silva, em agosto de 1960. No ano passado, encantou-se Miró da Muribeca, nome eternamente escrito e inscrito nas ruas do Recife, até hoje povoadas de seus versos. A alcunha artística, ele ganhou fazendo poesia com os pés, nos campinhos de futebol do bairro onde cresceu. De tanto fazer gol, virou Miró, numa alusão ao então craque Mirobaldo, do Santa Cruz. Ainda mais hábil com as palavras que com a bola, acabou poeta. Entre o lirismo e a periferia, escolheu os dois. Subverteu a rima e cunhou uma poética popular, urbana, negra e social. Foi um cronista da cidade (como ele próprio se intitulava), tendo escrito e publicado mais de 15 livros, alguns traduzidos para o espanhol e para o francês. Entre ruas, noites e gentes do Recife, belezas, rudezas e margens, esculpiu sua poesia, feita de denúncia e delírio. Vivia no cerne e no centro do Recife. Naquele entorno, não há paisagem que não conte suas histórias, de agora em diante, escritas até em pedra.
Lucila Nogueira - Poetisa de muitas vozes, Lucila Nogueira, nasceu no Rio, mas naturalizou-se, prosa, verve e verso no Recife. Foi aqui que forjou sua estética literária, passeando por diversos estilos, identidades e fases. Da escrita mitológica, introspectiva e mística, que inaugurou sua obra, até a globalizada, com temáticas ibéricas e latino-americanas, confirmou uma personalidade literária cada vez mais aguda. Além de poetisa e contista, foi tradutora e professora, tendo lecionado literatura na Universidade Federal de Pernambuco. Colecionou premiações ao longo da vida. A primeira veio já em 1978, por ocasião do lançamento de seu primeiro livro de poemas, Almenara, que conquistou o Prêmio de Poesia Manuel Bandeira, do Governo de Pernambuco. Ao todo, escreveu mais de 20 obras, premiadas e lançadas mundo afora, em países como Portugal, França, Estados Unidos e Cuba. Em 2006, foi a primeira mulher a representar o Brasil no XVI Festival Internacional de Poesia de Medellín. Nos anos 2007 e 2008, assumiu a curadoria da Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas (Fliporto). Em 2009, recebeu a Medalha Euclides da Cunha, da Academia Brasileira de Letras. Tantas conquistas literárias acabaram por conduzi-la à cadeira de número 33 da Academia Pernambucana de Letras. Morreu em 2016, confirmando-se eterna em sua vasta e intensa obra.
Imprensa Recife