Devidamente uniformizado e trajado com sua trupe, fará um baile de gala da cultura popular pernambucana e goianense, que promete parar a rua Rio, nº 91, onde, por muitos anos, foi o endereço da zona portuária de Goiana, área central da cidade. A programação é gratuita, e tem início às 21h.
Lá, o Mestre Biloco vai poder fazer seu show especial para gravação do seu primeiro CD de Ciranda. Vestindo roupas, acessórios e utilizando seu marcante apito, que remetem à figura de Lampião, ele promete emocionar toda a plateia, formada por amigos, vizinhos, artistas e admiradores, cantando sua ciranda tradicional, praieira, e de improviso.
“Estou muito feliz de poder realizar este sonho ao lado de tantas pessoas especiais. Por toda minha vida quis viver este momento. Este ano, meu aniversário tem um sabor especial: chegar aos 80 anos e poder gravar meu CD. Melhores presentes não há”, diz emocionado o artista.
No palco montado em frente de casa, Mestre Biloco receberá dois importantes artistas da região, que prometem deixar a noite mais festiva. São eles: Anderson Miguel e a Ciranda Raiz da Mata Norte, de Nazaré da Mata; e Carlos Antônio e a Ciranda da Flor, da cidade de Itaquitinga.
Sobre o Mestre Biloco - é um artista autodidata. Cresceu observando o talento do seu irmão, ainda criança. Foi ele quem o inspirou a tocar, sozinho, o trombone - instrumento musical presente na biografia do Mestre. Sua trajetória na cultura popular teve início em 1971, com a criação da “Ciranda dos Cangaceiros”, um dos seus importantes brinquedos, que mantém há 52 anos, animando festas, eventos e festivais da cidade e região.
Inclusive, no Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), da Ciranda, produzido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), foi atestado que o único mestre que ainda usa “apito” para começar a cirandar e faz questão que sua ciranda tenha a resposta; ele canta e outra pessoa repete.
A apresentação, no formato do coco de roda do litoral, com estrofes curtas e muitas vezes repetidas, diferente da contação de história de outras mestras e mestres, traz um formato exclusivo dele, e singular na cena atual da ciranda pernambucana, com traços de tradições já não mais praticadas. Ou seja, um motivo a mais que justificou sua participação no dossiê da Ciranda, promovido pelo (Iphan).
Além do pé na cultura popular, Mestre Biloco também tem uma orquestra de frevo para chamar de sua, se é que assim podemos dizer. Incansável, ele está sempre presente em todos os ciclos culturais goianense. Também está entre o único remanescente da cultura do Estado a possuir uma Aruenda, folguedo presente, principalmente no ciclo carnavalesco, que surgiu durante o ciclo do açúcar entre os séculos XVI e XVIII, no nordeste brasileiro na época da colonização portuguesa.
Já no ciclo junino, ele põe para fora seu talento de músico, com sua Banda Musical Independente Nosso Senhor dos Passos, que funciona dentro de sua própria casa. Juntamente com os músicos, ele realiza apresentações nas novenas de Santo Antônio, e da procissão fluvial do padroeiro de Goiana, São Pedro.
Sem dúvidas, Mestre Biloco se caracteriza pelo amor de fazer seus brinquedos e brincadeiras. Do mestre que resgata e salvaguarda as tradições do seu território e os trata como patrimônio pertencentes à sua história, e através deles, conta sua trajetória como músico e homem da cultura.
Com informações do jornalista Salatiel Cícero