terça-feira, 26 de setembro de 2023

Hortas comunitárias e quintais produtivos como ferramentas contra insegurança alimentar no Recife e em Olinda


Os impactos da insegurança alimentar se acentuaram no país após a pandemia da Covid-19, deixando diversas famílias sem a alimentação diária necessária. Nesse cenário, projetos e iniciativas como o “Hortas Urbanas na Região Metropolitana do Recife”, realizado em parceria entre a Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha de Pernambuco (Semas-PE) e o Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá, ganham ainda mais relevância no combate à problemática. 

O projeto atende a uma emenda parlamentar aprovada em 2020 na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O principal objetivo é auxiliar na implantação e manutenção de cinco hortas comunitárias e quintais produtivos em áreas carentes das periferias de quatro municípios da RMR: Cabo de Santo Agostinho, Ipojuca, Olinda e Recife.

*Cozinha solidária popular da Torre*

Uma dessas regiões selecionadas é a comunidade de Santa Luzia, localizada no bairro da Torre, na Zona Norte do Recife. Desde 2021, uma cozinha solidária fornece cerca de 123 refeições diárias a várias famílias da região. Coordenada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), é abastecida por uma pequena horta comunitária implantada em 2022 e contemplada pelo projeto. 

Edilene Correia, coordenadora do MTST de Pernambuco e uma das organizadoras da cozinha, explicou que o início da operação do espaço se deu em um momento delicado para dezenas de famílias do entorno. 

“Essa cozinha foi criada para ajudar os moradores. Na época da pandemia, a gente ocupou esse espaço para ceder o alimento para esse pessoal que estava em vulnerabilidade”, destacou. 

A horta é mantida por moradores e organizadores do projeto e produz cebola, berinjela, pimenta, tomate, pimentão, quiabo e outros alimentos que vão direto para a cozinha. Segundo Edilene, ainda não é possível oferecer a produção da horta direto para os moradores cadastrados devido ao tamanho do cultivo, que apenas é suficiente para abastecer a cozinha. Essa realidade, segundo ela, pode mudar com uma possível expansão do espaço no futuro.

“Se não fossem essas doações e essa cozinha aqui, nós estaríamos em uma situação ainda mais complicada. É um prazer estar aqui sendo ajudada e ajudando, para que nunca falte nada pra ninguém”, declarou Patrícia Bezerra, uma das moradoras do bairro que recebe as refeições diariamente. 

*Cozinha afetiva Eco Oka*

Uma ação semelhante ao espaço da Torre, a cozinha afetiva Eco Oka também realiza doação de refeições diariamente para moradores carentes da zona rural de Olinda.

Localizada em áreas de nascentes, a Eco Oka também tem o papel de ajudar na preservação ambiental da região. A cozinha é gerida por quatro cozinheiras, que oferecem 150 refeições por dia. 

A maioria dos ingredientes e temperos utilizados vêm da horta situada na parte de trás do terreno, que fornece cebola, coentro, cenoura, pimenta e outros alimentos. O grande diferencial da cozinha é a articulação com a Associação dos Recicladores de Olinda (ARO), na qual os moradores podem levar materiais recicláveis para o local no momento de receber as refeições, ajudando a gerar renda a esses recicladores.

Ana Paula Moraes, analista ambiental de agroecologia da Semas, destacou a relevância do projeto. “Projetos como esse têm uma importância no convívio social, no relacionamento entre eles, a comunidade, o empoderamento das mulheres, mas também pela própria capacitação, de aprender técnicas que possam cultivar essas hortaliças e verduras, tanto de maneira coletiva, como também em suas casas”, explicou. 

Ela ainda ressaltou que o projeto auxilia na geração de renda e na independência dos participantes, em sua maioria mulheres, já que elas têm a possibilidade de aprender técnicas de cultivo e colocá-las em prática nas próprias residências.