quinta-feira, 17 de agosto de 2023

Feridas crônicas ou de difícil cicatrização precisam de cuidados especiais


As feridas crônicas ou de difícil cicatrização precisam de cuidados especiais, como explica a enfermeira dermatoterapeuta e hiperbarista Gabriella Souza, sênior da unidade Caruaru da Clínica Cicatriza. De acordo com ela, é de grande importância que o paciente passe pela avaliação de um profissional para saber em qual fase a lesão está, a fim de que a melhor conduta seja indicada.

A especialista destaca que tudo depende da avaliação do profissional e das barreiras que a lesão tem. "Aí é que a gente consegue definir um produto, uma pomada, um tratamento mais específico para ajudar a cicatrizar. É importante saber que não há uma pomada totalmente cicatrizante ou que vai dar certo em todas as fases da lesão. Para tratamento de feridas não existe receita de bolo.”

Além disso, Gabriella Souza diz que é importante lembrar das barreiras que atrapalham a cicatrização. "Se há tecido desvitalizado (inviável), tecido morto na lesão, será usada uma pomada que auxilia na limpeza do local. Se tem muita umidade, temos que utilizar gestores de umidade, como as espumas, as hidrofibras, hidropolímeros, no geral, que vão ajudar a gerir essa condição, pois a lesão precisa estar úmida para cicatrizar, mas sem excesso, pois pode atrapalhar a cicatrização. Por isso, hoje, existem coberturas que vão ajudar a melhorar essa questão da presença de exsudato (produto soroso, resultante de processo inflamatório, e que contém células em maior ou menor quantidade) na lesão”.

As bordas também podem atrapalhar no processo de cicatrização porque é por elas que o tecido de epitelização (processo pelo qual as células epiteliais migram e se replicam via mitose) atravessa a ferida. A enfermeira dermatoterapeuta e hiperbarista diz que, se há hiperteraquose (espessamento da parte mais externa da epiderme, o stratum corneum), que são aquelas casquinhas que costumam se formar na borda da lesão, vai ser necessário fazer a remoção. “É aí que vai se precisar do auxílio do profissional. Se as bordas estão cicatrizadas, o que se chama de epíbole (lesão com bordas enroladas), também vai ser preciso remover as bordas e isso só um profissional pode fazer”.

Outra barreira é caracterizada pela presença de infecção. Caso a lesão esteja infeccionada, vai ser necessária a prescrição de um antibiótico sistêmico, assim como pomadas que contenham antibiótico e isso vai depender do tipo de bactéria encontrada na lesão. Por isso, a necessidade do auxílio de um profissional médico, além do enfermeiro. Gabriella Souza explica que o ideal é que se realize coleta de material para a realização de cultura com antibiograma, tipo de exame que identifica a bactéria presente e qual o antibiótico certo para o tratamento. “Hoje, existem produtos específicos também para o controle microbiano, para o controle da infecção e o do biofilme (comunidade composta por várias espécies de micro-organismos)”.

Outro fator imprescindível para ajudar na cicatrização das lesões crônicas é justamente a identificação das causas, como também enfatiza a enfermeira. "Costumamos dizer que não tratamos feridas, mas pessoas com feridas. Por trás da lesão, há uma pessoa com comorbidades, a exemplo de hipertensão e diabetes, as doenças de base. Há todo um contexto que precisa ser compreendido para que a causa da lesão seja identificada e o porquê dela estar aberta há tanto tempo, o motivo de ter aberto, se há dificuldade de cicatrizar, para podermos tratar da forma correta pois não existe tratamento de feridas sem a identificação da causa”.

A profissional acrescenta que, em caso de lesão hipertensiva, por exemplo, vai ser necessário encaminhar o paciente ao cardiologista para fazer o controle dos índices pressóricos (nome atribuído a fatores relacionados a taxas que favorecem a análise de uma homeostasia do organismo, sendo o desajuste desses níveis um comprometimento da pressão arterial do indivíduo mais especificamente) e aí sim se vai conseguir cicatrizar a ferida. "Se é uma úlcera venosa, vai ser necessário entrar com terapia compressiva para ajudar o retorno venoso. Se o paciente é um doente arterial, provavelmente vai ser submetido a uma revascularização no membro e isso é uma conduta médica: o paciente tem que ser encaminhado com urgência a um vascular. Se é um pé diabético, tem que se trabalhar os índices glicêmicos para mantê-los controlados, ver o grau de neuropatia do paciente. Existem inúmeras causas e cada uma tem um tratamento específico. Tudo isso precisa andar em conjunto para que se consiga cicatrizar as lesões".

*Cicatriza* – Clínica especializada no tratamento de ferimentos de difícil cicatrização e enfermidades do aparelho circulatório, com unidades em Campina Grande e João Pessoa, na Paraíba, e em Caruaru, Agreste de Pernambuco. Para mais informações, basta acessar o site www.cicatriza.com.