terça-feira, 11 de julho de 2023

Estudo indica aumento de casos de miopia em crianças



Os dados de um estudo realizado por cientistas de Hong Kong e China e publicado este ano pela Associação Médica Americana vêm chamando a atenção para os estragos causados na visão infantil durante a pandemia: em 2020, o aumento de diagnósticos de miopia entre crianças de 6 anos foi de 28,8% e, em 2021, de 36,2%. Antes dos anos pandêmicos, a taxa de miopia mais alta foi de 5,7%, entre 2015 e 2019. A saúde ocular é também um tema ao qual a Organização Mundial da Saúde (OMS) está atenta, e projeta que metade da população global seja míope em 2050. Para o Brasil , a OMS estima que, até 2040, o número de cidadãos com alta miopia deve aumentar 84,8%.

A miopia, uma alteração que dificulta a visão de longe e que pode ter causa genética ou ser agravada pela exposição exagerada a telas de eletrônicos, é apenas um dos problemas de visão que merece atenção também da comunidade da Educação, além da área de Saúde. A pedagoga Carollini Graciani afirma que é de extrema importância que os professores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental estejam atentos no dia a dia da sala de aula para os sinais dados pelas crianças.

“Nesta fase escolar, de crianças de 5 a 7 anos, que estão vivenciando a pré-alfabetização e a alfabetização, o professor começa a perceber que a criança está com alguma questão oftalmológica quando: apresenta muitos erros na cópia de conteúdos, força bastante a visão e demonstra precisar estar com olhos bem próximos ao caderno para fazer as atividades, diz que está vendo tudo embaçado, lacrimeja muito em sala de aula, demonstra que o tamanho da letra da atividade não está suficiente para que ela leia, e ainda quando essa criança cai demais ou esbarra com frequência em objetos”, afirma.

A professora do curso de Pedagogia da Estácio acrescenta que se os problemas de visão da criança não forem identificados e tratados nesta fase escolar, isso acarretará uma série de dificuldades de aprendizagem. “Esta criança não vai ler, escrever ou fazer cálculos corretamente, pois esta questão física não tratada vai impossibilitá-la. Os professores têm total importância neste processo de detecção das doenças da visão, pois ele está ali em sala de aula com os alunos todos os dias, ouvindo as queixas da criança, e também percebendo as dificuldades, pois nesta fase ainda tem criança que não consegue verbalizar totalmente algum incômodo. E por isso a importância de as famílias escutarem os profissionais de educação e levarem prontamente seu filho ao oftalmologista quando o professor indicar algo suspeito”, acrescenta a pedagoga, destacando ainda que o atraso na aprendizagem pode afetar também a autoestima dos pequenos.

O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) indica que o primeiro exame oftalmológico da criança seja realizado ainda na maternidade, com o Teste do Olhinho, que visa diagnosticar doenças como retinopatia da prematuridade, catarata congênita, glaucoma congênito, retinoblastoma, infecções e até cegueira. Depois disso, a recomendação é que os pequenos sejam novamente avaliados entre 6 meses a 1 ano de idade; depois aos 3 anos e aos 5 anos; sendo esta última a idade escolar, e a partir dela, a criança deve consultar o oftalmologista regularmente, uma vez por ano, segundo o CBO.

A professora da Estácio ressalta a extrema necessidade de que as escolas promovam reuniões com as famílias para tratarem de questões que abordem não só do dia a dia do aluno, mas também questões como essa, sobre o que é importante para o desenvolvimento infantil dessa criança, e para que os pais possam ajudar nesse processo de aprendizagem dando plena condições de saúde e bem-estar para que isso aconteça. 

“Muitos pais e mães não têm a dimensão da importância da realização de exames de rotina para seus filhos, e é importante que essas famílias entendam que, como o professor está presente na rotina daquela criança, ele pode ajudar a observar os comportamentos dela e indicar que está na hora de pedir auxílio médico”, destaca Carollini.

Por fim, a pedagoga e professora da Estácio acrescenta uma dica aos profissionais de Educação e às escolas: conversar com as famílias sobre a importância dos exames de saúde de rotina da criança, entre eles os oftalmológicos, mesmo que a criança não apresente nenhum sinal de problema, especialmente frente a um fator atual que é a exposição das crianças às telas de eletrônicos.