Os selos postais carregam em seus elementos gráficos, imagens de patrimônios materiais e imateriais, que recordam visualmente a memória de uma sociedade. Emitido em 1º de agosto de 1843, os “Olhos de Boi”, de 30, 60 e 90 réis, deram início à cultura de selos postais no país e são considerados os primeiros do gênero no Brasil. Celebrando o seu pioneirismo, o Museu do Homem do Nordeste (Muhne), equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco, em parceria com a Superintendência Estadual dos Correios em Pernambuco, promoverá uma extensa programação em homenagem ao tradicional sinete a partir de 5 de agosto, no Campus Gilberto Freyre, em Casa Forte.
No dia 5 de agosto às 15h, será realizada a apresentação oficial do selo postal criado em comemoração aos 180 anos do Olho de Boi. A iniciativa foi uma parceria realizada com os Correios e também contará no mesmo dia com a visitação, das 13h às 17h, da interferência expográfica com a exposição de selos originais de Olho de Boi de 1843, inclusive um usado no Recife em novembro de 1843, assim como a sobrecarta de 1840 enviada na Inglaterra usando um selo Penny Black, e uma sobrecarta pré-filatélica brasileira de janeiro de 1843, ou seja, de antes do lançamento dos Olhos de Boi.
Museólogo do Muhne e um dos responsáveis pelo evento, Henrique Cruz explica que fruto da reforma postal idealizada por Rowland Hill (professor e reformista britânico idealizador do selo postal), a Inglaterra foi o primeiro país a emitir selos postais, com os famosos Penny Black e Penny Blue, lançados em 6 e 8 de maio de 1840, nos valores de 1 penny e 2 penny, respectivamente. O Brasil tornou-se o segundo país no mundo a ter lançado selos postais para uso nacional e internacional, em 1º de agosto de 1843, nos valores de 30, 60 e 90 réis, cujo desenho era semelhante aos olhos bovinos. “Esses selos ficaram popularmente conhecidos como Olho de Boi. A publicação mais antiga usando a denominação Olho de Boi foram artigos publicados na revista filatélica belga Le Timbre-Poste, em março de 1867”, observa o museólogo.
De acordo com ele, os primeiros colecionadores de selos postais (anos depois denominados filatelistas) surgiram logo após o lançamento do Penny Black em 1840. E se interessaram logo em ter nas coleções exemplares do Olho de Boi. Até hoje há um grande interesse de filatelistas do mundo todo em terem os selos Olhos de Boi em suas coleções. “Os Olhos de Boi não são selos raros. Eles se encontram facilmente, pois tiveram uma enorme emissão e muitos dos selos encontram-se à disposição dos colecionadores hoje”, adianta Henrique Cruz.
Foram impressos cerca de 2.072.990 exemplares dos Olhos-de-Boi pela Casa da Moeda do Brasil. Atualmente, há cerca de 6 mil selos desta emissão em todo o mercado filatélico, segundo o comerciante filatélico brasileiro Peter Meyer. O mais comum é o de 60 réis (primeiro porte terrestre). Os selos de 30 e 90 réis são bem mais escassos. No Museu do Homem do Nordeste, adianta o museólogo, estarão em exposição três exemplares originais de Olhos de Boi de 30, 60 e 90 réis.
Também estarão em exposição reproduções de correspondências e exemplares raros e importantes dos selos Olhos de Boi, como por exemplo a única folha completa do Olho de Boi de 60 réis, que pertenceu na década de 1950, ao filatelista pernambucano Mário de Souza. “Não podemos deixar de lembrar que no acervo da Fundaj há selos postais e correspondências, cartões postais e cartas enviadas de diferentes países usando selos postais”, observa Henrique Cruz.
O lançamento do selo de comemoração e a exibição dos demais documentos históricos importantes para a memória da cultura de estampilhas no Brasil dão início ao evento no sábado, que também contará, das 13h às 17h, com uma feira de multicolecionismo, com venda e troca de selos postais, vinis, miniaturas de carro, moedas, action figures, Barbie e Funko Pop, e também, simultaneamente, uma exposição de carros antigos em parceria com o Clube do Fusca de Pernambuco. A programação é aberta ao público e disponibilizará no dia do evento, entrada gratuita para visitação ao Muhne. Será uma grande festa para os colecionadores de Pernambuco.
*Programação infanto-juvenil*
A comemoração dos 180 anos do lançamento do Selo Postal Olho de Boi ainda contará, dos dias 2 a 4 de agosto, com as ações educativas "Mediação temática através de cartas dentro do Muhne" e "Correio do Bem". As atividades serão desenvolvidas com grupos agendados de visitação ao Museu pela manhã. Na iniciativa de "Mediação temática através de cartas dentro do Muhne", serão dispostas pelo museu oito cartas, cada uma contendo informações sobre uma peça de cada eixo temático do museu.
Serão escritas em primeira pessoa, remetendo a sensação de que a obra está dialogando com o visitante leitor, algumas cartas irão para além da parte escrita, contendo também, aromas e sabores que remetem às memórias afetivas. Para a realização das cartas, será utilizado como referência o livro “40 anos 40 peças” e “Nordeste Identidade Comestivel”.
Já na atividade “Correio do Bem”, após a realização da visita ao museu, caso o visitante tenha interesse, será possível escrever uma carta para quem desejar. No dia do lançamento do selo de 180 anos, no sábado (5), estas cartas/correspondências serão enviadas pelos correios até os endereços postais. Cada correspondência contará com a carta escrita pelo visitante, um convite do Muhne para a “Primavera dos Museus” e um brinde, que a depender da localidade do destinatário, poderá ser um ingresso para o museu ou para o cinema, um livro da editora massangana, entre outros benefícios. Os selos postais destas correspondências serão doados pelo Correios do Brasil.
O público alvo são crianças e adolescentes que majoritariamente nunca tiveram contato com cartas e selos no seu cotidiano. As atividades que contarão com a mediação do educativo buscam aguçar a curiosidade do grupo e explorar a escrita dessa tipologia de documento. Para a mediadora do Muhne Olga Maria Fernandes, as ações educativas vão promover uma interação que desperta uma relação afetiva entre o visitante e o espaço museal por meio de cartas. “Para o público é interessante participar, pois na era da comunicação imediata, com aplicativos de mensagens instantâneas, grande parte da geração atual não teve oportunidade de ter contato com documentos tipo cartas manuscritas e selos postais. É uma oportunidade de conhecer esse universo por meio da filatelia, além de poder ter o contato com outros tipos de coleções”, conclui.