Existe perigo em ser otimista o tempo todo e essa constatação não está relacionada ao bem-estar, mas a dificuldade de exercitar estímulos reais de sentimentos existentes, é o que afirmam psicólogos. Muitas vezes, algumas atitudes recorrentes no dia a dia como ignorar e usar artifícios como o exercício físico para negar a realidade e transformar sentimentos negativos em positividade, podem anular outros necessários de serem experienciados pelo ser humano. Essa atitude é vista como uma válvula de escape para não lidar com os problemas da vida e seguir um padrão de felicidade socialmente construído.
Apesar disso, possuir pensamento positivo é fundamental para a manutenção do bem-estar e o sentimento de pertencimento ao ambiente em que se vive, estimulando um comportamento mais saudável em relação à vida. O que não pode existir é negar um lado em prol do outro.
De acordo com o psicólogo e professor do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), Aluísio Soares, o aumento de pensamentos otimistas em relação às dificuldades enfrentadas pode ser reflexo de uma positividade tóxica, que é caracterizada como o comportamento de mostrar aos outros que está sempre bem, feliz, satisfeito com a própria vida, deixando de lado a real potencialidade de saber lidar com as próprias adversidades e refletindo em comportamentos como dificuldades de conversar, expressar, realizar autorreflexão em relação a sua conduta e experiências de vida.
“Isso pode promover uma distorção da realidade na vida do sujeito e prejudicar a sua rotina, onde o mesmo eventualmente não conseguirá enxergar com maior facilidade a vida como de fato ela é, mas sim sob o filtro da felicidade projetada. O otimismo, o bem-estar e a autoestima exacerbada não são problemas. Na verdade, a sociedade tende a classificar padrões específicos de felicidades ou situações, ditas "positivas", para a população como as únicas possibilidades de sucesso pessoal e profissional, mas que giram em torno da função do capitalismo, onde geralmente o sentimento de felicidade e realização é imposto para a população por meio do consumo”, ensina.
Ainda segundo Aluísio, as experiências da vida cotidiana, as fases difíceis e as mais tranquilas fazem parte da construção do sujeito. “Lidar com o seu verdadeiro estado emocional é muito difícil, no entanto, é o que se é recomendado pelos profissionais de saúde mental. O autoconhecimento sempre será um dos pilares centrais dos cuidados em psicologia e psiquiatria. No entanto, este estado requer um desafio singular, que é o fato de compreender em que estado da vida e emocional você se encontra e como aprender a conhecer quem se é de verdade. Esse desafio é comum à experiência da busca pelo equilíbrio entre o sentimento de extrema felicidade e satisfação e o reconhecimento de seus limites e potencialidades”, conta.
A psicoterapia pode ser uma aliada para chegar ao autoconhecimento e aprender um pouco mais sobre si mesmo, um caminho para entender os sentimentos que está passando no momento e ter as melhores tomadas de decisões em uma dosagem ideal, sendo mais assertiva.