Iti ka bati ka 一か八か é uma expressão japonesa usada quando se assume um risco ousado, com desejo de boa sorte. Trata-se de um kotowaza, provérbios japoneses muito populares na cultura nipônica, transmitidos por gerações. Em português, pode ser traduzido como “oito ou oitenta” ou “tudo ou nada”.
Iti ka bati ka - Tudo ou Nada é a primeira obra dramatúrgica publicada por Alice K., diretora, investigadora das artes cênicas e professora do Curso de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da USP, e traz ilustrações do ator e iluminador Bruno Garcia. O lançamento acontece dia 27 de junho, na livraria Megafauna, às 19h.
O livro, narrado em pequenas cenas – que podem ser pequenos contos também –, foi feito em tempo especial. Dona Azuma, aos 96 anos, sentia que a morte se aproximava. Era pandemia, vai morar com a filha e, nesse encontro diário, é atravessada por lembranças e acontecimentos que irrompem a todo momento.
A autora começou a anotar essas recordações. “Tudo ou nada tem a ver como a minha família vê o mundo. Meus avós já perderam tudo, vieram para o Brasil. Nunca nada é no meio, sempre é tudo ou nada”, diz Alice K. “Minha mãe era menina e vai acompanhando a saga da família. Já no navio para o Brasil, perde um irmão, lançado ao mar antes de chegar aqui. Um outro irmão, pouco tempo depois. Essas e outras lembranças só pude escutar quando tudo parou. Todo dia ela contava uma coisa e fui anotando”, completa.
Os três capítulos, “O mundo a girar”, “Se não me falha a memória” e “(des) aparecimentos”, costuram presente, passado e um tempo sem tempo, perdido na memória. Há os remédios que se precisa tomar, as confusões temporais nos diários do amanhã, as aventuras com o saquê e a seda que a família produzia no Japão, os exercícios que ambas fazem durante o isolamento. O tempo se dilata, há lacunas entre falas, um mundo em suspensão”, conta.
Iti ka bati ka - Tudo ou nada foi contemplada no edital ProAC 2021 da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.
Sinopse
Dona Azuma sente a morte chegar aos noventa e seis anos de idade. Vai morar com a filha, para se preparar para seu fim. Mas antes, terá muito o que fazer. O seu dia a dia é atravessado por lembranças de acontecimentos do passado que irrompem a todo momento. E há a pandemia…
Alice K. Yagyu é diretora teatral, pedagoga e investigadora de artes cênicas. Foi atriz do Grupo Ponkã, coletivo de artistas nipodescendentes, surgido nos anos oitenta, coordenado pelo ator e diretor Paulo Yutaka. Atuou nas obras Pássaro do Poente, Mishima e Qioguem. Nos anos noventa, dedicou-se, no Japão, ao treinamento do ator Nô e Kyogen (drama e comédia clássica do século XV), do Rakugo (arte narrativa performática do século XVII) e do Butoh (dança japonesa surgida no pós-guerra). Dirigiu e atuou em O Manto de Plumas - Hagoromo (1994), transcriado pelo poeta Haroldo de Campos; e em Vento da Espera - Matsukaze (1997), ambas, peças-poema Nô, de autoria do dramaturgo e ator Zeami Motokiyo (1363-1443).
Dirigiu as obras Qioguem!? (CCSP, 2005), Morte e vida Severina (TUSP, 2006), A Pérola (2007), Polaroids (2008), Carícias (2009), Caderno da Morte (SESI, 2008), com alunos de artes cênicas da UNICAMP. Atualmente é docente e pesquisadora teatral no Curso de Artes Cênicas da ECA/USP. Com o Núcleo HANA, que dirige, vem investigando as narrativas lado B da imigração japonesa no Brasil. Traduziu e dirigiu a leitura dramatizada de Toca de Cupins (Shiroari no Su), de Yukio Mishima e coordenou a montagem de ExtraOrdinários (2013), criação coletiva de narrativas em biodrama.
Bruno Garcia é ator e iluminador cênico, foi aluno da Alice na UNICAMP. Com a Alice realizou os espetáculos Oversized e Caderno da Morte, este último uma adaptação teatral do mangá Death Note. O mundo dos quadrinhos é frequente em seu trabalho, adaptando obras de Neil Gaiman e Marjane Satrapi para a cena.
Serviço:
ITI KA BATI KA - Tudo ou nada
Editora Javali | 144 págs. | R$ 30,00
Lançamento: 27 de junho de 2023, às 19h.
Livraria Megafauna | Av. Ipiranga, 200, loja 53 | Edifício COPAN