Quando o Blog Taís Paranhos vem a entrevistar uma pessoa – independente de ser anônima ou pública – significa que a pessoa marca a blogueira de alguma forma e com o Senador Humberto não é diferente. Quando fui conversar com sua assessora de imprensa, a jornalista Natália Kohzminski, resolvi puxar da memória algumas imagens que tenho do homem público.
Lembro bem das eleições municipais de 1988, enquanto nomes como Marcus Cunha, João Coelho e Joaquim Francisco faziam campanhas musicais e muito coloridas (sem esquecer o Zebra, que tinha uma campanha cuja trilha sonora era uma música popular de guitarrada), havia um jovem que fazia sua campanha apenas falando suas propostas enquanto andava pela cidade.
Dois anos depois, Costa foi eleito deputado estadual. Na Casa de Joaquim Nabuco, criou a Comissão de Direitos Humanos. “A comissão terminou sendo um espaço que deu voz a muitos setores que tinham os seus direitos mais elementares frequentemente desrespeitados”, afirma. A chegada ao Congresso Nacional, como deputado federal, ocorreu em 1995. Tirando alguns intervalos, quase sempre após candidaturas ao Governo do Estado, já são 25 anos em Brasília.
Vereador, deputado estadual, deputado federal, secretário municipal, secretário de Estado, ministro de Estado e senador em seu segundo mandato, Humberto Sérgio Costa Lima, 65 anos, é pai de três filhos e avô de sete netos. Na formação acadêmica, é médico psiquiatra e também jornalista. Gosta de ver filmes e de literatura e conversou com o Blog temas de interesse público, como a CPI da Covid e a parceria com a Senadora Teresa Leitão – com quem forma a única bancada de dois senadores petistas em um estado brasileiro.
Vamos acompanhar a entrevista?
O que te levou a entrar na política e como foi o começo de sua trajetória?
Bem eu entrei na política porque desde muito cedo eu fui apresentado nos ensinamentos da igreja católica e entendia que não era apenas uma sociedade onde havia tanta desigualdade, tanta pobreza, que os ensinamentos do cristianismo eles marchavam pra uma ideia de justiça, de igualdade e isso quando eu comecei a mim formar digamos filosoficamente eu despertei pra ideia de que uma forma de mudar esse quadro era participado da política e aí desde adolescente que eu me interessai por conhecer as filosofias políticas, as ideologias políticas e a partir daí me comprometi com o projeto de mudar o Brasil pra acabar com a desigualdade, a pobreza no nosso país.
O senhor fez parte do movimento estudantil em plena ditadura militar, como era enfrentar a conjuntura da época?
Bem, eu participei realmente do Movimento Estudantes do Estudantil durante a ditadura militar, a partir de mil novecentos e setenta e cinco, setenta e seis, mas principalmente setenta e sete aquele era um período duro, difícil, havia ainda muita repressão, o risco de prisão, de tortura, eu participava de uma organização clandestina, que tinha bases no movimento social, no movimento estudantil, mas é importante dizer que já era um período muito menos repressivo do que aquele que existiu ao longo do início da década de setenta até principalmente setenta e cinco mas eram tempos difíceis onde nós nos forjamos no enfrentamento a ditadura, na contestação do regime, na defesa da democracia
Humberto Costa é petista raiz, faz parte desde a fundação, em 1980. Como era ser militante do partido naquela época?
Sim, eu sou militante do PT desde a sua fundação, aliás antes da fundação nós tínhamos já em mil novecentos e setenta e nove o movimento pró-PT que foi o movimento que antecedeu do nosso partido era composto esse movimento por vários segmentos sociais, movimento estudantil, intelectuais, ex-integrantes de organizações que participaram da luta armada também nós tivemos setores da igreja católica especialmente de base, tivemos a participação do pessoal do movimento sindical de um modo geral, movimentos e bairro e e formaram um partido novo com a cultura nova. Foi uma experiência verdadeiramente fascinante. Mas obviamente que a nossa presença na sociedade de um modo geral as primeiras eleições que disputamos já em dois e em mil novecentos e oitenta e dois tínhamos uma uma dificuldade muito grande, não é? Especialmente porque o PT encarnava uma política de contestação não somente a ditadura mas também não é a as classes dominantes no Brasil.
Embora pernambucano de fato, o senhor nasceu em Campinas. Como foi a chegada sua e de sua família a Pernambuco e como se construiu a sua identificação com a terra?
Bem, na verdade os meus pais são pernambucanos, minha mãe ainda é viva, eram pernambucanos que saíram daqui do estado, foram inicialmente pra Fortaleza e depois pra São Paulo meu pai trabalhava em uma empresa de produção de medicamentos, uma empresa francesa ou suíça, não lembro muito bem e nós e eles foram morar em São Paulo e lá tanto eu quanto minha irmã nascemos, meu irmão nasceu antes, nasceu em Recife e até os seis anos de idade morei em Campinas, quando minha mãe então resolveu voltar pra Pernambuco Sentia falta da família, então foi um momento difícil de integração porque eu era paulista, tinha todos toda a visão sobre o que era São Paulo, o que eu pensava que era o Nordeste, tinha absorvido todos os preconceitos contra os nordestinos e o processo de adaptação aqui foi um pouco difícil. Porém depois eu realmente fiz a opção de me tornar pernambucano adoção, me sinto tão ou mais pernambucano do que as pessoas que aqui nascem e portanto, eu me sinto muito feliz, muito orgulhoso de fazer parte de um estado tem uma história libertária tão importante quanto Pernambuco tem.
Além da Medicina, você é formado em Jornalismo. O que te fez entrar numa segunda graduação e o que você aprendeu no Jornalismo que aplicou na vida pública?
Bem, realmente eu concluí o curso de medicina ao longo da faculdade eu tive muitas dúvidas sobre qual seria realmente a minha verdadeira vocação tanto que eu concluí o curso médico e decidi iniciar o curso de jornalismo porque tinha como eu disse dúvidas quanto a minha verdadeira vocação. Porém ao longo do período em que eu fiz o curso de Jornalismo eu pude também tomar contato com várias especialidades médicas e terminei me apaixonando pela psiquiatria que terminou sendo a minha especialidade Como eu já estava em meio ao curso de jornalismo, achei importante concluí-lo e posso dizer que foi uma experiência muito importante, não só porque é um curso da área de ciências humanas, isso me permitiu estudar um pouco de história, de sociologia, de outras áreas, línguas estrangeiras também e aprender também alguma teoria sobre comunicação. Então me foi uma experiência muito rica ter feito o curso de Jornalismo, mas de fato a minha vocação maior foi a Saúde e paralelamente a Política
O senhor teve um mandato de deputado estadual e criou a comissão de Direitos Humanos. Que iniciativas e realizações você cita daquela época?
Bem, em relação à Comissão de Direitos Humanos isso foi uma iniciativa muito importante. Até porque naquele período nós tínhamos apesar de um processo de superação, tínhamos recém saído de uma constituinte nacional e também de uma constituinte estadual mas as violações aos direitos humanos de desrespeito às garantias individuais era algo muito forte. Então criaram a Comissão de Direitos Humanos terminou sendo um espaço que deu voz a muitos setores que tinham os seus direitos mais elementares frequentemente desrespeitado. A comissão trabalhou fortemente algumas políticas, especialmente em defesa das mulheres, contra a violência estivemos presentes em alguns históricos em que crimes de enorme repercussão social contra as mulheres tiveram um apelo muito forte trabalhamos também o tema da violência do estado contra as pessoas, especialmente os mais pobres, a discriminação racial, a discriminação social e a Comissão de Direitos Humanos teve um papel importantíssimo, não só durante aquele período mas nos períodos posteriores.
Certamente um de seus maiores projetos foi a criação do Serviço de Atendimento móvel de urgência, o SAMU. Quais as origens do projeto e como foi a criação do Serviço?
Sem dúvida o SAMU é uma a criação do SAMU é uma das dos maiores orgulhos que eu tenho durante a minha passagem pelo Senado Federal. O SAMU ele foi criado a partir de um modelo que existe há muito tempo na França se chama também SAMU e que representa um tipo de atendimento em saúde de situações de urgências e emergências e que acontecem no âmbito pré-hospitalar. Antes da chegada da pessoa ao hospital. O modelo do SAMU francês que nós adotamos aqui É um modelo em que o atendimento já começa e muitas vezes ele avança muito no próprio local do atendimento. o o SAMU diferentemente de outros serviços como o serviço americano que basicamente é de uma simples estabilização e um envio do paciente para o hospital. No caso do SAMU as equipes elas podem até permanecer durante três horas no local um ou mais atendimentos para quando a pessoa é encaminhada ao hospital ela já vai com diagnóstico firmado, os primeiros socorros já foram tomados, se for necessário um tratamento um pouco mais sofisticado também acontece e hoje o SAMU continua a ser a política pública mais bem avaliada do Governo Federal longo desses anos todos. Então pra mim é um motivo de muito orgulho, de muita satisfação. Aqui no Brasil nós começamos com o SAMU ainda em Porto Alegre, depois o SAMU implantado no Recife, no período que eu era secretário de saúde municipal e quando eu fui para o ministério uma das minhas maiores preocupações foi exatamente criar o SAMU nacional que hoje é um motivo de orgulho pra todos nós
Seu nome foi objeto de acusações (as quais foram arquivadas e sem provas). No entanto, até hoje você sofre ataques de alguns setores da imprensa e principalmente nas redes sociais, que seguem te apelidando, provocando, ou como dizem os jovens de hoje "tacando hate". Como você lida com isso?
Eu lido com essas situações com absoluta tranquilidade. Todas as acusações que me foram feitas foram acusações falsas que inclusive na justiça. Todas elas foram arquivadas, ignoradas ou quando avançaram como processo, no final eu fui absolvido por unanimidade, por um tribunal regional federal, especialmente no caso da chamada operação vampiro. Naturalmente que quem está na vida pública, quem é político, está sempre sujeito a esse tipo de coisa. Mas a minha consciência é absolutamente tranquila. Depois dessas denúncias que fizeram contra mim eu já fui eleito por mais de uma vez com votações consagradoras de modo que eu entendo que não tem qualquer efeito esse tipo de coisa e faz parte de uma disputa política desleal aí muito pobre e por essa razão eu pouco dou atenção a essas coisas hoje. Além disso sempre que eu sou atacado com esses argumentos eu tenho recorrido a justiça, tenho recorrido ao Ministério Público e por várias e várias e várias vezes pessoas têm sido condenadas por veicularem essas notícias mentirosas sobre mim e vou continuar a fazer isso.
Saindo da seara do homem público e entrando na seara do cidadão: como concilia a vida pública com a vida familiar?
Realmente não é fácil conciliar a vida pública com a vida familiar. Eu hoje sou eu sou pai de três filhos e sete netos. E ao longo da minha vida realmente eu não pude dar a atenção que eu gostaria de dar mas posso dizer que todos os meus filhos foram muito bem criados, meus netos são também todos tem orgulho do que eu faço, das coisas que eu defendo, das coisas pelas quais e hoje muito mais do que antigamente eu procuro ter um tempo para as coisas que eu gosto, eu gosto muito de ler, gosto muito de cinema, gosto muito de encontrar com as pessoas, amigas, gosto de praticar atividade física e tenho sempre buscado conciliar essas duas coisas. Não é fácil, mas é possível
Que livros, músicas, filmes ou séries que você gosta de ler/ouvir/assistir?
Bem, eu tenho um gosto muito eclético, tanto gosto musical quanto no gosto literário, quanto o gosto na área do cinema, não é? Na música eu gosto desde música erudita, passando pela música popular brasileira, pelo rock e chegando até mesmo a chamada música brega nacional. Eu gosto de todas essas manifestações. do ponto de vista da literatura eu gosto não só de autores brasileiros mas gosto muito de autores latino-americanos eu os meus preferidos são Gabriel Garcia Marques Isabel Allende, apesar de suas posições políticas profundamente reacionárias hoje em dia, também gosto muito de Mario Vargas Llosa, de Padura que é um autor cubano no gênero policial, mas que também tem um livro histórico do ponto de vista da pesquisa que foi feita que se chama O Homem que Amava os Cachorros que é sobre uma parte da vida de Leon Trótski gosto também de literatura americana, de literatura francesa entre os brasileiros gostam muito de Jorge Amado, João Cabral de Melo Neto, Rubens Fonseca, Machado de Assis e muitos outros. E do ponto de vista de cinema, eu gosto de todos os estilos, né? Desde os filmes de ação, passando pelos filmes de conteúdo político, documentários e tantos outros sempre que eu posso eu estou assistindo filmes, séries, é realmente um dos maiores passatempos que eu tenho.
Voltando à seara pública: qual está sendo o seu papel na reconstrução do Brasil? Que missões o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu a você?
Bem, meu papel nesse processo de reconstrução tem sido o de buscar dentro do parlamento brasileiro e junto à sociedade, não é? o caminho de reunirmos forças garantir a solidificação cada vez maior da democracia, o retorno de uma política de inclusão social que tire as pessoas mais pobres dessa situação em que está mergulhada a população de pobreza, de desigualdade, de desemprego. Tenho lutado pra que o país volte a crescer, a se desenvolver, a criar oportunidades também na política tenho lutado para como eu disse consolidar a democracia no Brasil e é a tarefa que recebi do presidente Lula foi exatamente no Congresso Nacional, fora dele, no nosso estado, na nossa região, lutar pela implementação dos principais pontos do seu programa de governo que se baseia principalmente na inclusão política e social da nossa população
Com a chegada de Teresa Leitão para o Senado, Pernambuco tem uma bancada inédita de dois senadores petistas, como está sendo sua parceria com ela?
Bem, minha parceria com Teresa Leitão tem sido a melhor possível. Temos atuado em conjunto, eu tenho tentado na medida do possível, falar um pouco da minha experiência como senador é uma pessoa não somente muito delicada, mas muito experiente, muito competente e eu tenho certeza que vai desempenhar um grande trabalho no Senado Federal e eu espero que nós continuemos fazendo essa parceria que eu entendo que é muito boa para o governo Lula é muito boa para o PT, mas é muito melhor para o estado de Pernambuco.
A CPI da Covid mexeu com a vida brasileira ao investigar a pandemia e escancarar a inatividade do então governo federal, mas que no entanto, o relatório final ficou aquém do esperado, pois o País desejava punições aos genocidas, negativistas e outros personagens. Qual foi sua ação efetiva dentro da CPI?
Eu entendo que a CPI da covid foi um evento histórico, um evento político que representou ao longo do governo Bolsonaro pela primeira vez a construção real de uma frente ampla, de uma frente política contra aquele governo criptofascista, e inteiramente negacionista. A partir da CPI da covid população brasileira pode saber das entranhas do governo fascista de Bolsonaro da sua postura de ter negado ao ao povo brasileiro o reconhecimento da gravidade dessa pandemia o acesso às vacinas enfim e eu entendo que tive um desempenho importante ali não somente contribuindo para as denúncias que nós fizemos, mas também procurando jogar luz não é o que representou a pandemia como um evento sanitário mundial. Por outro lado, eu sou daqueles que acham que a CPI cumpriu o seu papel. Ela investigou, ela indicou responsáveis por aquela situação que nós vivemos que não avançou foi a ação do Ministério Público particularmente da Procuradoria Geral da República que não procurou complementar essas investigações da maneira mais adequada. Então, eu entendo que cumprimos sim o nosso papel
E o que o seu eleitor pode esperar do Senador Humberto Costa nessa segunda parte de seu mandato?
O eleitor pode esperar do meu trabalho a continuidade de tudo aquilo que tenho feito. Tenho procurado ser um defensor permanente dos interesses do estado de Pernambuco. O Senado representa a federação, representa os estados e eu tenho procurado cumprir esse papel defendendo os interesses de Pernambuco em todas as áreas do ponto de vista econômico, do ponto de vista social, do ponto de vista político, tentando levar pros nossos estado recursos para ah o crescimento de Pernambuco pra geração de emprego, de renda ao mesmo tempo também defendendo projetos estruturadores pra Pernambuco e vou continuar a fazer isso é como como sempre tenho feito, né? Também pretendo contribuir fortemente para o sucesso do governo Lula e com isso a o retorno do desenvolvimento pra todo o país, mas muito especialmente pro nosso estado. Vou continuar a ser defensor dos trabalhadores, do povo mais pobre e um defensor permanente da liberdade, da democracia, dos direitos humanos e da institucionalidade democrática do nosso país.