Marchamos sim, mas não marchamos sós.
Tive a honra de participar na noite de ontem (30) de uma homenagem prestada pela OAB, seccional PE, à Desembargadora Eneida Melo, que depois de cinco décadas de serviço ao judiciário trabalhista, se aposentou. A louvável ideia partiu da Comissão de Direito do Trabalho, representada pela Dra. Silvia Nogueira, abraçada pela OAB integralmente, e pela AATP (Associação dos Advogados Trabalhistas de Pernambuco).
Enquanto refletia em como contribuir para o evento, me veio subitamente em mente a trajetória das mulheres para a consolidação de seus direitos sobretudo no Brasil, na interseccionalidade com a história da própria homenageada da noite, cuja atuação, além da magistratura, envolve a docência, cursos de formação, participações em bancas examinadoras e produção literária.
O evento realizado, oportunamente no mês de março, não poderia ser mais feliz na escolha do tema “Direito do Trabalho para Elas”, especialmente quando já é realidade o protocolo de julgamento com perspectiva de gênero, que preconiza um olhar empático do judiciário para aplicação da legislação vigente em questões que envolvem à mulher.
A homenageada exerceu de forma pioneira, em Pernambuco, a luta pela consagração de um espaço historicamente reservado aos homens, na carreira jurídica, no serviço público e na Magistratura, mas tudo isso teve início com uma mulher que não permitiu ser silenciada. Tudo isso começou com atos de resistência.
Nós fomos silenciadas ancestralmente na raiz de nosso processo cognitivo, desde a Eva ferida, criada para servir àquele que seria a imagem e semelhança do criador, e, ao se rebelar, por se recusar a se encaixar, foi severamente punida, banida, culpada e excluída.
Precisamos olhar para todas as mulheres que vieram antes de nós e, que apesar da exclusão estrutural e o silenciamento imposto, não se resignaram, não se limitaram, não se calaram.
O exercício do feminismo transformador se estabelece nas trincheiras da vida, quando nos articulamos de forma empática, agindo em bloco, em sororidade e na consciência de que marchamos sim, mas não marchamos sozinhas, porque juntas podemos muito mais.
Por Daniela Mello, advogada, escritora, professora, produtora cultural, Presidente do Instituto Xegamiga, integrante da Comissão da Mulher advogada e do Comitê de representatividade da OAB-PE.