quarta-feira, 15 de março de 2023

Reunião pública debate presença das mulheres negras na política

Ao dar início à reunião, Elaine Cristina, que representa a Pretas Juntas, não deixou de mencionar o ato violento que vitimou Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, na região central da capital fluminense. “Nada mais significativo que, na primeira reunião pública da nossa mandata, possamos receber todas vocês e trazer essa temática extremamente necessária, que é a representatividade efetiva da mulheres nos espaços de poder. Estar aqui hoje e poder homenagear e reverenciar a trajetória de Marielle e Anderson, ocupando este lugar com todas vocês, é uma honra imensa para a nossa mandata”.

No evento, a covereadora Débora Aguiar também demarcou a importância de Marielle Franco e tratou da falta de respostas a respeito do assassinato. “São cinco anos que não sabemos quem mandou Marielle. Cinco anos sem respostas e de muita luta para que a voz de Marielle não seja interrompida. São cinco anos em que muitas de nós fomos às ruas para lutar por justiça, o que escancarou a fragilidade de nossos corpos diante da violência política. Por isso, continuamos lutando por justiça, defendendo a sua memória, multiplicando seu legado e regando as suas sementes”.

Quatro convidadas compuseram a mesa da reunião. A primeira delas foi a diretora da Rede Internacional de Jovens LGBTQIAP+ e ativista da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Luiza Carolina. Ela fez uma análise das mudanças que têm sido lideradas por mulheres negras no Brasil.

“Tenho a ousadia de dizer que hoje está em curso neste Pais  um processo revolucionário, mas ele é encabeçado pelas mulheres negras. E enquanto ele for encabeçado pelas mulheres negras em uma sociedade racista e patriarcal, ele vai ser menos visibilizado”, disse. “Mas, se a gente [não] tiver a sensibilidade de olhar para onde o Brasil está indo hoje, se olharmos para a derrota de Bolsonaro e não conseguirmos ver o papel das mulheres, sobretudo as mulheres negras, a gente estará com uma dificuldade de entender a conjuntura política do País”.

Em seguida, a jornalista e ativista Ailce Moreira abordou a questão do apagamento das memórias das minorias no Brasil. “Temos um pais que se estrutura sobre apagamento das memórias. O apagamento da memória do povo indígena, do povo preto. O apagamento da memória das pessoas que hoje são maioria populacional, mas que são minorizadas. E toda vez que uma memória é apagada, quem conta a história é quem apagou. Por isso, é tão importante a gente estar aqui hoje saudando a memória de Marielle, não só como pessoa física, mas tudo o que ela representa: a memória da população periférica, da população preta, da população LGBTQIAP+”.

Já a ativista social e idealizadora do projeto “TPM: Todas para o Mar”, Nuala Costa, defendeu a participação de mulheres negras na construção de políticas públicas e falou sobre os desafios dessas mulheres para efetivar a sua participação social. “Sempre acreditei que política pública  tem que ser feita de dentro para fora. Você não pode falar de política pública quando o povo não está dentro, quando não tem mulheres pretas dentro, quando não tem corpos trans dentro, quando a gente não está ali para fazer”, argumentou. “Sobreviver sendo uma mulher negra é algo muito melindroso, perigoso, cansativo. A gente tem que demonstrar que é mais simpática, mais inteligente, mais educada. A gente tem que ser mais do que os outros para conseguir estar aqui”.

Por fim, a secretária de Finanças do Sindicato dos Bancários de Pernambuco e Secretária Sindical do PT do Estado, Suzi Rodrigues, falou sobre algumas das experiências que acumulou no ambiente político. Uma delas foi a campanha Eu Voto em Negra, que luta pela representatividade de mulheres negras em espaços de poder. “Isso não atrapalhou, isso nos fortaleceu. A gente viu que o nosso projeto é muito maior que um partido político – é o projeto das mulheres pretas e das políticas públicas para nós. A gente superou esse limite já no projeto. E é por isso que estou aqui, e por isso que a gente tem que trazer mais gente para saber onde a gente está unificada, quais são as nossas pautas, para a gente não se perder nas concorrências partidárias. Vai ter disputa, mas a gente tem que saber o que nos une”.

Imprensa Câmara Recife