quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

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A invasão do Brasil, a Democracia e o PIB

Por Werson Kaval*

As consequências dos ataques no final de semana, por uma multidão ensandecida e descontrolada, vão muito além do que apenas os prejuízos causados pelo quebra-quebra do patrimônio público. Respingam também efeitos colaterais econômicos, que ultrapassam as fronteiras nacionais, considerando a atual integração dos mercados.

A ameaça à democracia estremece a estabilidade institucional, prejudica a imagem internacional do País e provoca insegurança jurídica, que afeta diretamente a economia. Sem falar do aumento natural do risco no país, que termina por provocar fuga de capital. Esta situação pode causar uma queda generalizada nos preços das ações, assim como redução dos investimentos internacionais no setor produtivo brasileiro, afetando diretamente a produção e o emprego no mercado nacional. Da mesma forma, a saída de recursos, naturalmente, provoca a alta do dólar e a consequente alta da taxa de juros.

É bom que se diga que investidores jamais colocam seus recursos em países que não possuam o mínimo de estabilidade política e econômica, que só podem ser fornecidos pela prática de um processo democrático estável.

De acordo com um estudo realizado em 2014 pelo National Bureau of Economic Research, organização norte-americana, um país que se torna democrático tem aumento de até 20% no PIB no longo prazo, evidenciando que o autoritarismo não é o caminho para o desenvolvimento. A Democracia contribui sim com o PIB futuro pela sua capacidade de atrair investimentos, de melhorar a escolaridade e da consequente produtividade dos profissionais, atingindo um nível de estabilidade que favorece as reformas econômicas e melhora o serviço público e a vida em sociedade.

Mesmo não existindo um consenso sobre a forma de avaliar a Democracia, a revista “The Economist” elabora, desde 2006, um ranking da democracia com 165 países. Classifica o Brasil como uma “Democracia falha”, com nota que vem piorando nos últimos três anos. Em 2021, ficou com 6,82, de um total de 10,00. Mas, antes que se pense que isso é um resultado muito ruim, vale ressaltar que apenas 20 países foram considerados “Democracias totais”, com notas acima de 8,00 e que, assim como o Brasil, pelo menos 54 países aparecem também como “Democracias falhas”. Dentre eles, Japão, França, Bélgica, Itália e até os Estados Unidos.

Os aspectos avaliados para elaborar este ranking com as respectivas notas do Brasil em cada um deles são os seguintes: processo eleitoral (9,58), funcionamento do governo (5,36), participação política (6,11), cultura política (5,63), liberdades civis (7,65).

No caso do Brasil, para que a Democracia funcione em sua totalidade, o governo precisa trabalhar melhor e a sociedade precisa participar mais e melhorar sua cultura política e criar mecanismos para que o mercado se movimente e também promova o desenvolvimento do país, do micro ao macro negócio. Isso também inclui a capacidade de acesso a financiamentos a empresas para a promoção de investimentos e a geração de novos empregos.

O mercado financeiro é muito sensível ao que um país fala e faz e não gosta de incertezas. Por isso, as respostas a ataques como os que foram vistos devem ser na mesma altura e intensidade. A intervenção Federal, responsabilização dos culpados e o afastamento de autoridades por inércia é apenas o passo inicial, pois muito mais do que apenas penalizar quem se levantou contra as instituições públicas nacionais e quem fez vista grossa à previsibilidade da situação, o que realmente se precisa fazer é garantir que jamais aconteça novamente.


*Werson Kaval, economista, professor do Centro Universitário Tiradentes (Unit-PE), especialista em qualidade e produtividade, consultor e palestrante.