sábado, 16 de outubro de 2021

José de Abreu: "Minhas raízes e meu tronco são as pautas progressistas e identitárias"

 

O ator José de Abreu anunciou que pretende se candidatar a deputado federal pelo Rio de Janeiro. A decisão inclui dar um tempo em sua bem sucedida carreira de ator, com 50 anos de trajetória. Abreu recém terminou de gravar a novela Um Lugar ao Sol, com estreia prevista para novembro e a façanha de ser uma novela 100% gravada antes da estreia. 

Enquanto a candidatura não sai, Abreu lança os dois volumes de sua autobiografia, a Abreugrafia, nome sugerido por um seguidor no Twitter. O primeiro volume vai da chegada dos avós italianos ao Brasil, passando pela infância e adolescência do artista; a entrada no movimento estudantil em plena ditadura (1964-1985); a prisão, em 1968; as experiências como hippie; o exilio na Europa, a volta ao Brasil, o nascimento de quatro dos cinco filhos; o inicio da carreira de ator e o pontapé inicial da fama: o prêmio de melhor ator do Festival de Gramado, pelo filme A lntrusa, onde contracena com os atores Arlindo Barreto e Maria Zilda Bethlem.  

Já o segundo volume mostra a trajetória de Abreu na TV Globo, de 1980 até os dias atuais, não apenas em frente às câmeras, mas também com muitas histórias de bastidores, onde não falta talento, trabalho, muito menos amor. O prefácio da Abreugrafia é do ex-presidente Luiz lnácio Lula da Silva, de quem o ator é um grande amigo. Por sinal, a entrada de Abreu na seara político-partidária (porque politico ele já é desde sempre) passa por querer estar na linha de frente do Congresso Nacional na bancada de apoio a um eventual governo Lula a partir de 2023.

E nas redes sociais Abreu escreveu um textão para anunciar sua pré-candidatura:

"Como artista, sempre tive uma ligação profunda com o povo brasileiro, seus dramas e seus problemas. Como cidadão, sempre tive lado: o lado de quem luta por uma sociedade mais justa, igualitária, sem preconceitos, mais inclusiva, capaz de respeitar as diferenças e, sobretudo,uma sociedade que ofereça o mínimo de dignidade a todos. O Brasil, o povo brasileiro, foi mais do que generoso comigo. Foi maravilhoso. Acolheu-me em seus lares e me concedeu todas as demonstrações de amor e da mais sincera pureza que os seres humanos podem oferecer.

Minha gratidão não tem palavras. E, agora, acho que seria um tanto egoísta me deitar em berço esplêndido e viver os anos mais valiosos da minha vida no conforto do distanciamento e do isolamento. Foi por isso que decidi suspender por um tempo minha carreira de ator e seguir o que chamo de encontro entre minha trajetória como artista e meu caminho como indivíduo. Pretendo postular minha candidatura a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores pelo estado do Rio de Janeiro.

De certa forma, farei o que sempre fiz, só que por outros meios, para outros fins. Irei representar. Representar agora não um papel ficcional escrito por um autor, mas ser o representante que seguirá um script escrito por milhares e milhares de pessoas, durante a eleição e, depois, durante o mandato. Atuarei, se eleito, num palco: o da política; mais especificamente do parlamento, onde – assim como no teatro – se tem a palavra como principio, meio e fim. E como ator político estaremos todos ali cumprindo a missão sagrada da cidadania: escrever a História.

Lula, que precisará de suporte mais do que nunca diante de um país destroçado que irá herdar. Meu compromisso é apoiar Freixo governador e reconstruirmos o Rio de Janeiro. E meu compromisso fundamental é algo que soa até absurdo quando pronunciado: a reerradicação da fome no Brasil - sim, reerradicação, pois foi erradicada durante os governos do PT e foi reintroduzida depois do golpe de 2016.

Enxergo meu mandato como uma árvore. Minhas raízes e meu tronco são as pautas progressistas e identitárias. O mundo mudou e as instituições, e as leis, precisam se adaptar a um mundo cada vez mais diverso, avesso aos preconceitos tacanhos e aberto e às orientações e às escolhas de cada indivíduo.

Ao mesmo tempo, quero dialogar com a diversidade num sentido mais amplo, a diversidade que é esse caldeirão cultural, étnico e social chamado Brasil, que o Rio de Janeiro sintetiza de forma tão exuberante. Os galhos de minha árvore querem dialogar e representar todos aqueles que almejam um Rio de Janeiro melhor, um Brasil melhor, acima de dogmas partidários e ideologias.

A dona de casa, o estudante, o intelectual, o operário, o empresário, a galera da zona sul, os moradores das comunidades... como ator de uma grande emissora, eu pude ver que é possível sintonizar diferentes setores de uma sociedade que mais parece um mosaico em torno de algo em comum, muitas vezes um personagem, uma trama de folhetim. Mas o importante é que essa capacidade de união entre os diferentes em torno de algo comum existe entre nós. E podemos usar isso para o bem de todos.

A questão central de minha decisão de dar esse passo foi a pergunta que fariam no futuro sobre quem eu fui. - Quem foi José de Abreu? Os que se lembrassem talvez dissessem: - Um ator razoável... Pois eu gostaria muito, enquanto ainda estou vivo e ainda tenho tempo, de interferir nessa resposta.

- José de Abreu? Representou inúmeros papéis como ator, mas seu principal papel foi representar o povo brasileiro e ajudar a reconstruir o país, junto com muitos outros, quando o Brasil mais precisava.

Não tenho a pretensão ou a vaidade de ser protagonista. Na vida real da política, o protagonista é sempre o povo. Mas acho que ficar na plateia, depois de tudo que o Brasil me deu, seria cômodo demais. Saio da estória para fazermos juntos a História. Vamos? 

Zé de Abreu".