quarta-feira, 11 de agosto de 2021

O Palco é a Rua - A Música nos Espaços Populares

 

O projeto “O Palco é a Rua – A Música nos Espaços Populares” surgiu para o desenvolvimento de uma pesquisa sobre as dinâmicas de músicos, musicistas, cantores, cantoras, cantadores/poetas populares que se apresentam nos espaços públicos de cidades pernambucanas, gerando diálogos estéticos entre os artistas e os pesquisadores/produtores a partir dos conteúdos – textos, fotos, vídeos/documentários e áudios – que estão sendo postados no site www.opalcoearua.com.br e nas redes sociais (@opalcoearua e @theiaprodutores) 

Capitaneada pela Theia Produtores Associados, através dos pesquisadores e produtores Guilherme Patriota e Laura Sousa, e com incentivo do Funcultura da Música (Secult, Fundarpe - Estado de Pernambuco), a iniciativa circulou por Petrolina, Caruaru, Goiana e Recife entre setembro de 2019 e janeiro de 2020 acessando, também, outros municípios próximos e consolidando um campo de pesquisa que abarca contextos do Sertão até a Região Metropolitana do Estado.

Apresenta-se, portanto, rica variedade de “cenários” em ruas, praças, transportes coletivos, feiras, mercados, barcas e pontos turísticos. A metodologia é marcada pela aproximação com os músicos, o registro de suas performances e de suas falas que dão significado às suas trajetórias musicais e à ocupação dos espaços urbanos aqui chamados de “Espaços Populares” por serem onde grande número de pessoas transitam e dão continuidade a formas de partilha e de disputa dos territórios que são comuns a todos. 

Esse trabalho resultou, recentemente, no documentário “Manifesto O Palco é a Rua – A Música nos Espaços Populares” que está na programação da Mostra “[Em]Curtas - Julho 1001 Temas”. O doc. de curta duração também já está selecionado para a Mostra “VRT Channel Curta Agosto” e, de setembro de 2021 a fevereiro de 2022, estará no serviço on demand do VRT Channel disponível para 175 países. 

Ainda em 2021, DVDs com cópias do documentário serão destinados a instituições educacionais de Pernambuco com versões acessíveis para pessoas cegas ou deficientes visuais e pessoas surdas ou com deficiências auditivas. A partir dessas ações, o objetivo de ampliar a fruição audiovisual do projeto que conta com a participação de mais de cem artistas da música que fazem das ruas seus “palcos” e suas fontes de renda total ou parcial. O site está no ar desde novembro de 2019 e, por meio dele, pesquisadores, estudantes, artistas, produtores e o público em geral podem acompanhar a pesquisa que associa interesses estéticos e sociológicos, compartilhando percepções, narrativas e experimentações. 

Os conteúdos, dessa forma, vão além de um mapeamento de artistas e expõem a fluidez do campo da vida como campo de pesquisa, das cidades como laboratórios e cenários e do espectador como um potencial investigador e criador. “O site tem se desenvolvido como um dinâmico acervo de reflexões sobre o trânsito dos artistas entrevistados e seus contextos de produção e circulação. Dessa forma, questões relativas às histórias de vida e às nossas vivências no campo de pesquisa se entrecruzam nos conteúdos gerados. 

O site apresenta, também, seções com imagens da nossa prática investigativa, perfis dos artistas com seus contatos e inclui áudios que revelam de forma interessante toda a mistura de sonoridades que permeiam o ofício dos músicos nos espaços populares” (Laura Sousa). Como esclarece, também, Guilherme Patriota: “O projeto tem amadurecido muito com o caminhar da pesquisa. Novas ideias e perspectivas estão em andamento. O que era um simples registro estético tomou novas dimensões, assim como o que era apenas pesquisa se transformou em produtos artísticos, em diálogos, em projeções que já estamos lapidando e buscando aportes financeiros. Tudo em comunhão com o sentido da busca por visibilidade para os artistas, as ruas, as interações cotidianas, a pesquisa e seus conteúdos artísticos”. 

O projeto aborda, também, a complexidade da ação artística nas ruas a partir das redes de colaborações e trocas de serviços que os músicos acionam cotidianamente. Nos seus deslocamentos, os artistas criam estratégias para chamar atenção do público, divulgar o próprio trabalho e movimentam gastos com hospedagem, alimentação, transporte, estúdios de gravação, gráficas e vendem produtos autorais que complementam suas rendas. 

Por meio dessas percepções e dando protagonismo às falas dos(as) entrevistados(as), o projeto “O Palco é a Rua – A Música nos Espaços Populares” foi um dos agraciados com o Prêmio Delmiro Gouveia de Economia Criativa 2020 concedido pela Fundação Joaquim Nabuco (FUNDAJ). Como um todo, o projeto e suas plataformas de conteúdo impulsionam uma desconstrução de preconceitos disseminados pelo senso comum e, também, por grandes mercados artísticos sobre as potencialidades estéticas e as práticas profissionais dos músicos dos Espaços Populares. 

Destacamos, dessa forma, o intuito de debater como nossas cidades podem se tornar espaços menos hostis diante da arte que se desenrola em suas vias coletivas e, de várias maneiras, sensoriais, atentando para as micro subversões e transformações nos usos, partilhas e fruições que a música enseja em suas geografias e paisagens.