Batata doce, cebolinha, coentro, milho, feijão verde. É difícil encontrar uma parte do terreno em que não haja nada plantado no Centro de Internação Provisória (Cenip) Caruaru, unidade vinculada à Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), no Agreste de Pernambuco. Esse esforço tem um propósito: oferecer um caminho de educação profissional, por meio do contato com a terra, para adolescentes encaminhados à unidade após a prática de atos infracionais. Os resultados da oficina de horticultura têm sido tão promissores que uma parceria foi firmada com uma cooperativa para dar vazão semanal à produção agrícola do local.
O cultivo é feito de forma orgânica. A compostagem a partir de folhas e ramagens garante o adubo para as plantações seguintes. A oficina tem certificação do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), conta com dez alunos e é ministrada pelos agentes socioeducativos José Aldabiran e Luciano Oliveira, mas passou a despertar a atenção de toda a comunidade socioeducativa. “Começou pequeno, hoje é uma oficina profissionalizante e já está ocupando toda a área agricultável do terreno. Mas vai além. Nos dias em que não estamos de plantão, outros colegas agentes se preocupam em regar. É algo que todo mundo cuida”, diz Aldabiran.
O profissional, que é associado à Cooperativa dos Produtores Agrícolas de Sapucarana (Coopasa), em Bezerros, foi quem estreitou os laços da Funase com aquela instituição para iniciar uma parceria. Desde então, parte do que é produzido pelos adolescentes em Caruaru é destinada, toda quarta-feira, para venda no município vizinho. “A gente sempre vende para os agentes da unidade, mas a produção cresceu e muita coisa se perderia. Além disso, trabalhamos o empreendedorismo no curso. Então, mostrar o que é cultivado indo para fora tem sido positivo para motivar os adolescentes no lado profissional. Ainda que eles não produzam em larga escala quando forem para suas casas, podem ter algo saudável para sua alimentação e de suas famílias”, completa Aldabiran.
A coordenadora-geral do Cenip Caruaru, Sileide Moreira, confirma a evolução que essa iniciativa tem representado na rotina da unidade, que atende adolescentes e jovens de 42 municípios do Agreste. “Estamos aliando várias coisas nessa ação. O espaço fica mais humanizado, limpo e colorido e, ao mesmo tempo, isso desperta a participação de todos. Os agentes começaram fazendo um mutirão inicial para comprar sementes. Hoje, a venda desses produtos já permite que a própria horta se sustente, com a compra de ferramentas, sementeiras. E os adolescentes se sentem parte disso, pois ajudam a cuidar cotidianamente. Foi algo abraçado por nós, pela coordenadora técnica, Sílvia Letícia, junto à pedagoga Maurinúbia Moura e pelos agentes socioeducativos”, elenca.
O jovem J.L., de 18 anos, é um dos que ajudam a cuidar da horta. Ele diz que parar para cuidar da terra funciona como uma verdadeira terapia enquanto aguarda decisão judicial, que pode sair em até 45 dias após a entrada dele no Cenip Caruaru. “Lá fora a gente não tem muito tempo pra pensar nessas coisas. Aqui, comecei a trabalhar com seu Aldabiran e aprendi muita coisa que serve para quando eu não estiver mais aqui. Dá pra plantar sem usar veneno, se alimentar e ganhar algum sustento”, resume.
lmprensa Funase