segunda-feira, 3 de maio de 2021

Vulcão: feminismo, literatura e questões de gênero

 

A partir do encontro de cinco artistas, com trajetórias diversas, interessadas em diferentes linguagens artísticas em que o foco é o trabalho do intérprete, nasceu o VULCÃO [criação e pesquisa cênica]. Formado por Elisa Volpatto, Livia Vilela, Paulo Salvetti, Rita Grillo e Vanessa Bruno, o coletivo comemora em maio de 2021 cinco anos, sempre colocando em cena criações autorais.

Para marcar a data desde a estreia do primeiro trabalho conjunto - as encenações simultâneas de dois solos A Dor e Pulso, no palco do Sesc Consolação, em maio de 2016 - serão realizados vários eventos, todos virtuais, que celebram o que passou e apontam o que está sendo preparado.

Parte da programação foi contemplada pela Lei Aldir Blanc (Lei 14.017/2020), Módulo I, Maria Alice Vergueiro, através do Ministério do Turismo, Secretaria Especial da Cultura e Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura.

Entre o final de abril e os últimos dias de maio, acontecem atividades com integrantes do VULCÃO [criação e pesquisa cênica] e convidadas, que discutem questões presentes no trabalho do coletivo, como feminismo, literatura e questões de gênero. Também fazem parte da comemoração duas ações ligadas ao processo de uma das próximas encenações, Orlandx (baseado no romance de Virginia Woolf) e a pré-estreia de Rosa Choque (poema cênico musical com dramaturgia de Dione Carlos reunindo atrizes que estão em diferentes cidades).

VULCÃO [criação e pesquisa cênica] aproxima diferentes linguagens, une teatro, literatura, dança e audiovisual e vê como motor catalisador – principal e determinante – o trabalho do intérprete. O coletivo tem desenvolvido projetos de investigação teatral a partir do deslocamento da literatura para a cena. O coletivo já realizou criações a partir da obra de três grandes autoras do século XX – Clarice Lispector, Sylvia Plath e Marguerite Duras.

 

Calendário de comemorações

Tudo isso começa com uma série de três lives, dias 27, 28 e 29 de abril, terça a quinta-feira, sempre às 20h, no canal de instagram @vulcao.art. Nesses encontros, o tema é feminismo e literatura - tema presente nas peças apresentadas pelo coletivo - em que Vanessa Bruno conversa a cada dia com uma pensadora: a pesquisadora Eliane Fitipaldi, a jornalista Mariana Delfini e a escritora Liliane Prata. O tema dos encontros é Clarice Lispector e sua obra “Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” (1969) - que deu origem ao espetáculo Águas do Mundo - para uma discussão sobre feminismo e o espaço social da mulher hoje.

Na sexta-feira, 30 de abril, às 20h, será transmitido uma sessão especial de Águas do Mundo, no https://www.youtube.com/user/corporastreado. A atriz e diretora, Vanessa Bruno faz em Águas do Mundo uma atualização cênica do romance "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” de Clarice Lispector no qual o público acompanha sua travessia na partilha da solidão, do habitar seu próprio corpo e desejo para ampliar a capacidade de amar sua própria existência de ser mulher e ser humano no mundo. Entre as várias referências míticas que a obra literária faz, tais quais o mito de Eros e Psiqué, a Odisséia de Homero e a ninfa Lorelei da mitologia alemã, a peça explora a reversão do mito bíblico do pecado original e confere à mulher a entrada no Paraíso e descoberta da vida através do prazer. Em dezembro de 2020, seguindo todos os protocolos de segurança impostos pela pandemia da Covid-19, a equipe produziu, num teatro vazio, a transmissão especial on-line do espetáculo que será exibida.

Outra peça baseada na obra de uma escritora está em processo de construção pelo VULCÃO. “Orlando - uma biografia", de Virgínia Wolf, lançado em 1928, narra a história do personagem-título, nobre em plena Inglaterra elisabetana, séculos XVI / XVII, que atravessa os anos até o século XX, e que se vê, em um dado momento, misteriosamente transformado em Lady Orlando.

A premissa dá abertura para muitas reflexões e sátiras sobre as construções sociais de gênero, moral, sexualidade e identidade, que serão discutidas pelo VULCÃO [criação e pesquisa cênica] ao compartilhar com o público ações ligadas ao processo de criação de Orlandx, que vem sendo construído em sala de ensaio desde 2017 pelos intérpretes Elisa Volpatto, Paulo Salvetti e pela diretora Vanessa Bruno a partir do romance de Virginia Woolf.

Na sexta-feira, 7 de maio, às 20h, o VULCÃO convida o público a tomar um chá (virtual) no canal de YouTube da Corpo Rastreado. A ideia é os intérpretes fazerem uma leitura online para problematizar a dramaturgia que vem sendo construída em sala de ensaio. Para isso, os integrantes do coletivo recebem as convidadas Carol Pitzer (dramaturga), Britney Federline (maquiadora trans) e Carla Cristina Garcia (socióloga).

A intenção da ação é investigar percepções diante da recepção da versão do texto, para avaliar o tratamento dado aos temas envolvidos neste projeto, como as questões de gênero e sexualidade, do tempo e da historicidade, do humor e da crítica aos valores patriarcais.

Além disso, um encontro que reedita o “jantar pensamento - R U M I N A R”, no qual o público é convidado a discutir se Orlando pode ser considerado queer - em uma tradução livre, o termo designa pessoas fora das normas de gênero, seja pela sua orientação sexual, identidade ou características sexuais. Para participar da discussão duas convidadas especiais: Helena Vieira e Magô Tonhon, no dia 14 de maio, sexta-feira, às 20h, também com transmissão no canal de YouTube da Corpo Rastreado.

R U M I N A R foi desenvolvido pelo coletivo junto com o artista Lucas Pretti e realizado pela primeira vez em setembro de 2018 para reunir pessoas de diversas áreas do conhecimento num jantar que se mistura a um programa performativo (inspirado nas poéticas de Eleonora Fabião). Na impossibilidade dos encontros presenciais, a provocação será feita virtualmente, porém com a mesma vontade de discutir os temas que ajudem na construção do novo espetáculo, Orlandx.

Neste jantar virtual, Elisa Volpatto, Paulo Salvetti e Vanessa Bruno juntam-se à escritora e transfeminista Helena Vieira e à maquiadora e mestre em filosofia Magô Tonhon para pensarem a relação que o romance de Virginia Woolf pode estabelecer com as Teorias Queers. O evento será aberto e transmitido via Youtube, e o público vai poder interagir por meio de perguntas no chat da plataforma. Serão discutidas questões desse corpo ‘desobediente’ da personagem de Virginia Woolf que transgride e rompe as barreiras de comportamento com as convidadas, especialistas em questões de transgêneros e cultura queer.

Na sexta-feira seguinte, 21 de maio, também às 20h, acontece a pré-estreia de Rosa Choque – poema cênico musical virtual com dramaturgia inédita de Dione Carlos, direção Vanessa Bruno. O trabalho faz uma relação entre a história da ativista paquistanesa Malala Yousafzai e as estudantes secundaristas que ocuparam as escolas de todo o Brasil no final de 2015, contra o seu fechamento.

Dione Carlos interligou os dois acontecimentos, influenciada pelo slam poetry (movimento de literatura e resistência que ganhou força no Brasil a partir de 2017). Em maio de 2020, durante o isolamento imposto pela pandemia da Covid-19, a diretora Vanessa Bruno reuniu a equipe formada exclusivamente por mulheres conectando artistas de São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Paris e propôs uma vivência de teatro completamente remota, inspirada pela estética do zoom e gravada pelo celular das próprias atrizes, relacionando as ruas das slammers com a janela virtual.

Participam no elenco: Alice Quintiliano, Bia Miranda, Gabriela Rocha, Letícia Calvosa, Lilian Regina, Lisi Andrade, Livia Vilela, Luisa Coelho, Monalisa Silva e Rita Grillo. A transmissão será pelo https://www.youtube.com/user/corporastreado.

Encerrando as comemorações, em 28 de maio, sexta-feira, às 20h, será feita uma live com os propositores Elisa Volpatto, Livia Vilela, Paulo Salvetti, Rita Grillo e Vanessa Bruno – via Instagram (@vulcao.art). Os cinco integrantes rememoram a trajetória do grupo desde 2016, unindo curiosidades e também a reflexão sobre (r)existir nos tempos atuais.

 

As peças criadas pelo VULCÃO [criação e pesquisa cênica]

Brincar de Pensar, concebido e dirigido por Vanessa Bruno, foi criado a partir de oito contos/crônicas de Clarice Lispector, publicados no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973. A peça é feita no jogo em que o pensamento é o protagonista, juntamente com memórias e inquietações de uma jovem narradora, vivida pela atriz Isabel Wilker, ao lado de Lívia Vilela e Luiz Felipe Bianchini, para apresentar memórias da infância e devaneios próprios de todas as idades.

A Dor, criado a partir do romance “La Douleur” de Marguerite Duras, também é dirigido por Vanessa Bruno. O espetáculo com a atriz Rita Grillo é uma compilação de publicações de escritos em algum momento do pós-guerra, que tratam do período em que o marido da autora francesa, envolvido com a resistência ao nazismo, foi preso e enviado para um campo de concentração. A peça é um testemunho cênico sobre a guerra do ponto de vista de uma mulher.

O solo Pulso, com Elisa Volpatto, dirigido por Vanessa Bruno, coloca luz sobre a vida e a obra do ícone da Poesia Confessional norte-americana, Sylvia Plath. O trabalho apresenta o universo de uma mulher enclausurada no ambiente doméstico dos anos 50, buscando escrever e produzir sua obra literária ao mesmo tempo em que se percebe sem reconhecimento, justamente devido à posição que ocupava frente ao status quo estabelecido por uma sociedade patriarcal e machista. Tudo naquele que seria o seu último dia de vida (Sylvia Plath cometeu suicídio aos 30 anos, ligando o gás em sua cozinha). O espetáculo, desde sua estreia em 2016, tem servido como disparador para pensarmos de forma poética e sensível sobre o espaço ocupado pelas mulheres na sociedade hoje.

Águas do Mundo, pesquisa e criação a partir do deslocamento do romance "Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres” de Clarice Lispector para o palco. O espetáculo mantém a poética clariciana em terceira pessoa, onisciente, com alternância entre diálogos e fluxo de pensamento, numa narrativa em que uma consciência se abre para outra consciência, afirmando a escrita peculiar e metafísica de Lispector. Idealizado há mais de 10 anos pela atriz e diretora Vanessa Bruno, Águas do Mundo tornou-se o embrião de sua pesquisa de mestrado concluída em 2015 na Escola de Comunicação e Artes da Universidade São Paulo (ECA-USP) em que relaciona os procedimentos de Antunes Filho e a experiência pregressa no CPT com a transposição da literatura de Lispector para a cena. Os procedimentos desenvolvidos nesta pesquisa foram aplicados na criação dos outros espetáculos do VULCÃO [criação e pesquisa cênica]: Brincar de PensarPulso e A Dor.
 

Serviço

#vulcão5anos

De 27 de abril a 28 de maio de 2021

www.vulcao.art.br/

 

PROGRAMAÇÃO:

Chá dramatúrgico Orlandx [incentivo Lei Aldir Blanc]

via Canal de YouTube da Corpo Rastreado

07/05, sexta-feira, 20h

Com Elisa Volpatto, Paulo Salvetti e Vanessa Bruno

Convidadas: Britney Federline, Carol Pitzer e Carla Cristina Garcia
 

R U M I N A R - Orlandx é queer? [incentivo Lei Aldir Blanc]

via Canal de YouTube da Corpo Rastreado

14/05, sexta-feira, 20h

Com Elisa Volpatto, Paulo Salvetti e Vanessa Bruno

Convidadas: Helena Vieira e Magô Tonhon
 

Pré-lançamento de Rosa Choque

dramaturgia Dione Carlos, direção Vanessa Bruno

via Canal de YouTube da Corpo Rastreado

21/05, sexta-feira, 20h
 

Live com os propositores VULCÃO

Transmissão pelo Instagram do Vulcão

28/05, sexta-feira, 20h

Com Elisa Volpatto, Livia Vilela, Paulo Salvetti, Rita Grillo e Vanessa Bruno