Incomodado com os efeitos públicos da gestão do lixo, inclusive em sua vida privada, Leonardo Brant apresenta em DESCARTE, seu novo documentário produzido pela Deusdará Filmes, histórias inspiradoras e educativas sobre como se pode dar novos destinos a tudo o que é consumido. O filme estreia dia 28 de janeiro, quinta-feira, nas plataformas de streaming Now, Vivo Play e Looke e terá lançamento às 19h na Unibes Cultural, onde acontece debate sobre os efeitos do lixo na sociedade com a presença do documentarista e especialistas.
“Atualmente são produzidas 10 bilhões de toneladas de lixo por ano com contaminação do ar, oceanos e aquíferos. Mesmo nesse cenário, não queria que o documentário abordasse o lixo como uma catástrofe inevitável, mas como um problema a ser superado, com ações que estão fazendo a diferença”, conta Leonardo Brant.
Rodado durante a quarentena em filmagens presenciais e remotas, e com a utilização de três câmeras diferentes para as conversas por meio de videochamadas, DESCARTE – patrocinado pelo Atacadão, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – tem como pano de fundo o drama social do lixo no Brasil e traz ao centro da discussão os 10 anos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei 12.305/10), que organiza a forma com que o Brasil lida com o lixo, exigindo dos setores públicos e privados transparência no gerenciamento de seus resíduos.
Depois dos documentários CTRL-V, sobre as relações de poder e efeitos da indústria audiovisual nas sociedades contemporâneas e Comer o Quê?, sobre a comida e sua relação com a cultura, o meio ambiente, a cidadania e a sociedade, Leonardo Brant mostra, em seu novo filme, as diversas formas de reutilização criativa dos resíduos sólidos, e assim, dá continuidade a ideia de debater a sociedade por meio da cultura e dos hábitos sociais e cotidianos.
Criatividade e inovação
DESCARTE é apresentado a partir do trabalho de sete artistas, designers, artesãos e ativistas que transformam materiais recicláveis com inovação e sensibilidade. No documentário, enquanto falam sobre seus processos criativos e as relações com os resíduos, os sete personagens aparecem confeccionando seus produtos e objetos.
A paulistana Maria Aparecida Dias é catadora, artista, presidente da cooperativa Glicério e integra o coletivo Dulcinéia, que realiza pinturas em capas de livros, feitas de papelão. Seus trabalhos já foram expostos em livrarias de Londres, Inglaterra. Enquanto Vandré Nascimento, do Rio de Janeiro, é músico amador e confecciona instrumentos musicais a partir de sucata. Em 2008 fundou a Associação Lata Doida com o objetivo de promover experiências criativas, artísticas, educativas e sustentáveis no Realengo, zona oeste da capital fluminense.
O artista visual Rodrigo Bueno cria em seu ateliê composições mistas de resíduos da cidade: papel, madeira, plantas e pintura dialogam entre si. Já a estilista autodidata e ativista trans Vicenta Perrotta, de Campinas, interior de São Paulo, se desdobra em diversas atividades, todas carregadas de vivências e mensagens que conscientizam e educam as pessoas sobre a realidade e a cultura trans.
A arquiteta e urbanista paulistana Léa Gejer aplica as ideias de economia e design circular à arquitetura, planejamento urbano e produtos industriais, e construiu a primeira casa circular da América do Sul. Nascida também em São Paulo, Roberta Pestana criou a Ton Zé Toys, uma oficina criativa de brinquedos produzidos de forma sustentável, fazendo uso apenas de matérias primas de origem natural.
Luis Cesar de Oliveira é paranaense e fundador da Ignis Industrial, que transforma pedaços de maquinários, móveis e objetos antigos, madeiras, metais e plásticos descartados em objetos únicos.
Lixo e cidades
Segundo dados do SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Governo Federal, em 2019 foram coletados 65,11 milhões de toneladas de resíduos no Brasil, sendo que somente 1,6% de resíduos recicláveis secos foram recuperados, o que perfaz um índice de 7,53 kg/hab./ano. Do total de resíduos produzidos no país 75,1% foram dispostos em aterros sanitários e 24,9% foram dispostos em unidades consideradas inadequadas, como aterros controlados e lixões.
Com narrativa em primeira pessoa – na voz do próprio Leonardo Brant – DESCARTE mescla imagens e entrevistas com animações e ainda apresenta a canção Catadores interpretada por Caê Rolfsen, que assina a composição com Rodrigo Campos. A música inédita tem produção musical e mixagem de Bernardo Goys. “Apesar de algumas informações mais didáticas sobre o lixo, o documentário traz um lado lúdico para pensarmos nossas posições e responsabilidades diante de todo o lixo que produzimos”, explica ele.
DESCARTE também apresenta depoimentos e entrevistas de 21 especialistas, ativistas e gestores de resíduos, abordando temas, como a relação do lixo com as cidades, habitat, civilização, lixões e catadores.
Os entrevistados são: Ailton Krenak (líder indígena, ambientalista e escritor), Aline Matulja (engenheira sanitarista e ambiental), Ana Borba (fundadora da Lixiki), André Palhano (jornalista e diretor da Virada Sustentável), Elisabeth Grimberg (coordenadora de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e membro da Aliança Global Alternativas à Incineração), Erich Burger e Rafael Henrique (da Recicleiros, que está implementando uma política de resíduos sólidos em Jericoacoara, no Ceará, junto com Sônica Cavalcanti, Jessicka Albuquerque e Zé do Lixo), Fabricio Soler (advogado e professor), Fernando Beltrame (presidente da Eccaplan Consultoria e idealizador da Campanha Sou Resíduo Zero), Fernando Rossetti (consultor sênior da Reos Partners), Lívia Humaire (geógrafa, ambientalista e idealizadora do projeto Transições Ecológicas), Luciana Annunziata (escritora, empreendedora de impacto, sócia da Casa Causa), Mariana Moraes (idealizadora do @verdesmarias), Mariana Rico (educadora ambiental e gestora do Instituto Estre), Marcus Nakagawa (professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing e idealizador e conselheiro da Abraps), Mundano (artivista do projeto Pimp My Carroça), Patrícia Maria de Jesus (professora da Universidade Federal do ABC) e Tarcísio Paula Pinto (urbanista).
De acordo com Leonardo Brant o aprendizado gerado durante as filmagens renderá outras ações, como uma temporada com sete episódios do podcast #AOLEO para falar da pesquisa e do processo criativo do filme, um videoclipe com a música original do documentário, um ebook e debates programados para universidades e organizações não-governamentais.
“Com certeza é possível se mobilizar e mudar. Uma reflexão solo pode virar uma reflexão coletiva e auxiliar na mudança de comportamento. A cultura do lixo pode ser transformada”, acredita ele.