Se um lugar aceitava bem o sincretismo religioso, esse era a a Vila Mãe África. Todos viviam em harmonia naquele lugar, os santos e os fiéis. E aquela noite estava linda para a procissão da Santa Padroeira. Crianças e adolescentes estavam vestidos de anjos, as mulheres trajavam suas vestes mais coloridas, homens carregavam andores, as casas preparavam ceias, todos estavam felizes. Mas Sullen estava tensa.
- Sullen, minha filha, o que está acontecendo? - perguntou Mãe Rita.
- Eu não sei, Mãe Rita, alguma coisa muito ruim pode acontecer, eu tô muito agoniada.
- Minha filha, na Festa da Padroeira, não há o que temer, só alegria.
- É, mãezinha, a senhora tem razão, vou me acalmar pra não aperrear minha neném...
Mãe Rita teve um pressentimento e correu para casa jogar os búzios. E realmente, a hora da verdade estava chegando para Sullen:
- Minha santinha, essa menina já sofreu tanto na vida... Protege ela do mal.
Depois da procissão e das festas de rua, chegou a madrugada e as famílias estavam em casa. Oravam, agradeciam as vidas simples e felizes que viviam e na casa de Sullen teve muita música. Pai Francisco, Mãe Rita, Fernando e mais alguns amigos estava com eles, comemorando a noite. Santiago anunciou:
- Nós fizemos uma música pra irmã da Sullen, que vive longe de nós. Ela escreveu a letra e eu fiz a música. Quero pedir aos meus amigos que toquem seus bongôs, atabaques, pandeiros e se juntem com a gente. Nós vamos ouvir a canção da minha mulher, cheia de sentimento e amor.
Sullen canta a canção, que contava seus sentimentos e sua vida sofrida, mas falando da irmã com o maior amor do mundo, mesmo praticamente sem conhecê-la. Todos ouviram atentamente a música e alguns se emocionaram com a história. Sullen precisou cantar outras duas vezes.
As horas se passavam e aos poucos, todos iam embora. Ficaram apenas Pai Francisco, Mãe Rita, Dr. Fernando, além dos anfitriões, Santiago e Sullen. A cantoria já havia acabado, mas eles conversavam amenidades enquanto comiam. De repente, uma tempestade cai sobre a cidade. Não era tempo de chuva na Vila Mãe África. Pai Francisco e Mãe Rita se entreolham, pois a hora da verdade estava chegando para as irmãs benjamitas.
Raios, relâmpagos e trovões irrompiam na Vila. O mar estava agitado, ventava forte. Mesmo assim, na porta, alguém batia desesperadamente.
- Deve ser alguém, fugindo da chuva. - Comentou Fernando.
- Abra, Santiago, não podemos negar abrigo pra ninguém. - Disse Pai Francisco.
Santiago abre a porta e não acredita no que vê. Hannah, completamente molhada, chorando, com uma mochila na mão. Antes que ela falasse qualquer coisa, ele a puxou pra dentro de casa. Mãe Rita trouxe um cobertor e uma caneca de café para aquela mulher trêmula e Sullen sem entender o que acontecia. A mulher olhou para a irmã e disse:
- Sullen, minha irmã, precisamos ficar juntas.
- HANNAH!!!! Minha irmã! Quanta alegria, a Santa Padroeira me trouxe a pessoa mais esperada da minha vida. Agora ninguém mais separa a gente... Nem aquele louco!
As duas se abraçaram longamente.
Pai Francisco se lembrou da profecia da reunião das irmãs benjamitas para combater a serpente do mal e se sentiu angustiado. Uma batalha estava para começar e seria dolorosa para todos. Se Hannah estava em Vila Mãe África, Arlan poderia estar por perto.