Quando afirmei que Leandro Assis (foto), 46 anos, é "o quadrinista da Família Brasileira", alguém desavisado pode pensar que as suas histórias são de amor, amizade, companheirismo e muito bom humor.
No entanto, os quadrinhos dele são REALMENTE da "Família Brasileira", que ganha R$ 3 mil mas se identifica mais com quem recebe R$ 3 milhões do que com quem se sacrifica por um salário mínimo. Essa é a história d' "Os Santos", que de "santos" não têm nada, assim como a família de trabalhadoras domésticas, vistas como serviçais que não têm direito a ir para a Disney, como afirmou certo ministro de estado na noite desta quarta-feira (12/02).
As situações retratadas são de revirar o estômago de qualquer pessoa com o mínimo senso de humanidade e por isso mesmo vêm fazendo muito sucesso nas redes sociais. Para o futuro, Assis quer lançar seus quadrinhos em livro. Em exclusiva para o blog, Leandro Assis fala de suas maiores influências e do que o motiva a criar suas histórias. Carioca de nascimento, ele hoje vive em Portugal, mas o Brasil não sai de seus traços.
Vamos à entrevista:
1) Fale-me um pouco mais de você
Eu sou roteirista de cinema e TV. Em 2008 publiquei uma
graphic novel, mas como roteirista. Chama “O Cabeleira”. Escrevi com um amigo
(Hiroshi Maeda) para cinema. Mas acabou publicada como quadrinho na extinta
editora Desiderata. Quem desenhou foi o grande Allan Alex.
2) De que forma você começou nos quadrinhos?
Apesar de ser roteirista eu sempre gostei de desenhar. E
sempre quis fazer quadrinho. Há mais ou menos dois anos decidi me dedicar aos
quadrinhos, depois que descobri um tablet que facilita muito a vida. Eu não
tenho estudo formal em desenho, não entendo de nanquim, papel, sei nada de
material. Não manjo muito de perspectiva, etc. O IpadPro, com o aplicativo
Procreate, mudou a minha vida. E decidi que ia parar de escrever roteiro e
passar a desenhá-los. E assim fazer um trabalho mais autoral.
3) Como surgiu a ideia dos personagens "Os Santos"?
Eu estava fazendo a tira “Live com o minto Javier Boulsonarro” pra lidar com a minha indignação com a situação do Brasil. Em vez
de brigar nas redes sociais, passei a fazer as tiras. Mas em dado momento vi
que bater no governo não era suficiente. Faltava bater em quem votou nele. Ou
em um determinado grupo que votou nele: a elite carioca racista, homofóbica e
preconceituosa. Então tive a ideia da tira Os Santos. Inclusive, no começo se
chamava Os Bolsominions. Mas cansei de ter Bolsominion entrando no meu perfil
do Instagram pra comprar briga por causa do titulo, então mudei para Os Santos.
4) Você se baseia em alguma família específica ou juntou
várias histórias para criar as duas famílias, a branca e a negra?
Não me baseio em ninguém específico. E me baseio em todo
mundo que eu conheço, vejo, ou ouço falar. Tanto para a família dos patrões quanto
para a família das empregadas.
5) E sobre o livro? Já está certa a editora, vai haver versões impressas e on line?
Sobre o livro só está certo que vai acontecer. Se vai ser por editora ou catarse eu ainda não sei. Já estou pensando nisso, claro, mas o mais importante agora é ter material. A minha ideia é ter o quadrinho em todo suporte possível, livro, e-book, site, Instagram.
6) Por que a opção pela política nos quadrinhos e não, por exemplo, pelo humor ou ficção?
Eu sempre quis escrever sobre o que me incomodava. Não necessariamente política. E a extrema direita miliciana que está no poder me incomoda demais. Assim como o governador do Rio e sua política genocida. Mas na tira dos Santos a política partidária está em segundo lugar. Racismo, preconceito, homofobia e desigualdade social são o foco.
7) Quais as suas redes sociais, pra quem quiser te seguir?
Instagram (@leandro_assis_ilustra) e Twitter (@leandroassis73)