Com apenas 11 anos, Luiz Gonçalves Moreira Neto, o Luizinho das Trufas, passou por várias coisas, algumas fortes para alguém de sua idade. Primeiro, foi a humilhação em um restaurante de Teresina, capital do Piauí, onde estava ao lado do pai, vendendo suas trufas, quando uma senhora disse às filhas: "estudem muito para não serem como ele". Não poderia ter maior equívoco. Luizinho adora ler, é muito estudioso e ganhou uma bolsa integral de estudos de um colégio privado até o Ensino Médio. Para o futuro, sonha em ser defensor público. "Eu disse a ele que o defensor público é alguém que defende as pessoas, que não têm condições de pagar um advogado e isso nunca mais saiu da cabeça dele", conta o pai, Netanias Janson.
Após o inicidente no restaurante, a história parou nas redes sociais e a repercussão foi parar em todos os cantos do País. Anônimos e famosos se sensibilizaram com a história de Luizinho. O pai, Netanias, está desempregado e a mãe, Rafaela, é empregada doméstica e faz faculdade de Psicologia. A família humilde sempre valorizou os estudos e vendia os bombons para completar a renda para pagar os estudos de Rafaela em uma faculdade privada e proporcionar uma escola particular ao menino. A família acabou recebendo muito carinho e também presentes materiais. Em meio à notoriedade repentina, outro baque para a família: ao chegar de uma visita ao avô, que se encontrava no hospital, Netanias, Rafaela e Luizinho encontraram a casa arrombada e os móveis revirados, além do furto de roupas, matérias primas para a fabricação de trufas, o videogame do menino, o dinheiro faturado com as vendas dos doces e até o dinheiro do seguro-desemprego do pai. Tudo levado. Total do prejuízo: mais de R$ 10 mil. Como se não bastasse, a primeira conta de Instagram da família também havia sido hackeada.
Agora a família abriu uma Vakinha ( #NinguémSoltaAMãoDoLuizinho) para retomar a fabricação e venda das trufas. O link é esse aqui: https://voaa.me/vaquinha-garoto-bombons
E o Instagram da família é esse aqui: https://www.instagram.com/luizinhofamiliatrufas/
Eu tive a oportunidade de conversar com o Sr. Netanias, o pai do Luizinho e compreendi porque a Família Moreira é tão doce quanto as trufas que produzem e vendem.
O que levou vocês a venderem trufas nas ruas de Teresina?
Bem, foi a necessidade que levou a gente vender as trufas, para completar a renda, né? A minha esposa faz faculdade particular e eu também tinha uma uma grande vontade de colocar o Luizinho numa escola
particular, porque a professora dele disse que onde ele estudava, ele tava se
perdendo. Então ela falou que era pra gente procurar uma escola, se a gente
tivesse condições de pagar uma escola particular que a gente fosse pagar. Eu trabalhava fazendo serviços de motoboy na Defensoria Pública, mas fiquei desempregado e as trufas representavam 80% de nossa renda.
E por que Luizinho passou a ter a ideia de ser Defensor Público?
A ideia do Luizinho ser defensor público, é porque ele sempre me viu estudar, né? Eu sempre falei pra ele da minha vontade em ser advogado. Eu assisto muitos filmes e séries sobre o tema e ele também falava muito em ser advogado. Depois de um tempo, ele quis ser jogador de futebol,
mas sempre voltava com a ideia de também querer ser advogado. Quando eu trabalhava
na Defensoria Pública, ele
sempre gostava de me visitar no trabalho, até mesmo para explicar como que funcionava o trabalho que eu fazia. E tudo era uma
curiosidade dele. Quando trabalhei como garçom, também levei ele também pra
conhecer e lá na Defensoria, apresentei pra ele alguns defensores públicos. E aí ele perguntou o que um
defensor público fazia E expliquei pra ele que o defensor ajudava pessoas a ter seus direitos, a defesa dos direitos das pessoas mais
pobres e humildes, que não têm condições de pagar um advogado
particular, tendo que recorrer ao Estado. Então ele falou pra mim: é papai, é isso! Se o defensor público
ajuda as pessoas, eu também quero ser defensor público. Eu falei que ele precisaria estudar muito, porque é uma carreira
que exige muita dedicação. Desde então ele vem se empenhando em casa, lendo
livros, estudando, se interessando cada vez mais. Eu, naturalmente só coordeno, direcionando para o mais importante. Ele nunca mais tirou
isso da cabeça dele, todos os dias toca no assunto.
Quando ocorreu o incidente no restaurante, o que o senhor disse ao Luizinho?
Eu disse a ele que, quando temos um sonho, teríamos que lutar por ele e que de vez em quando iríamos passar por tristezas. Não vendíamos só as trufas. Vendíamos um sonho. E com as pessoas comprando, vínhamos nos realizando, equilibrando nosso dia-a-dia para termos uma mente tranquila sem se preocupar com outras coisas a não ser estudar. Disse a ele que sempre iríamos encontrar pessoas assim, e que isso faz parte da luta. Nada é tranquilo. Nada é de graça. A gente precisa cair, se levantar, sofrer, deixar sola de sapato pelo chão. É isso que eu e Rafaela tentamos passar pra ele e ele entendeu isso de uma maneira maravilhosa. Assim vamos conseguindo e as reviravoltas vêm. Entendemos que família é isso. Força, luta e muita união.