A professora Universitária Thyana Galvão volta a escrever para o blog depois de um ano, quando seu artigo teve grande repercussão. Desta vez, novamente ela faz questionamentos sobre determinados comportamentos cotidianos. Acompanhe a seguir:
O que estamos realizando para garantir o futuro que sonhamos?
De uns anos pra cá adquiri o péssimo hábito de ler comentários de postagens na web. Eu leio comentários de todo tipo de postagem no Twitter, Instagram, Facebook, Whatsapp e reportagens locais e globais... e eu curto mesmo quando comentam em notícias e textos que o autor revela sua opinião de maneira firme, mas reflexiva.
Acredito que as opiniões de outras pessoas me fazem evoluir e complementam, muitas vezes, meu pensamento acerca de vários assuntos. Enfim, quem eu sou hoje é resultado da riqueza das diferentes opiniões que eu colhi durante a minha vida. Me pergunto se esse é um dos motivos de ter escolhido trabalhar com gente, pois a diversidade me fascina!
Entretanto, como admiradora do debate saudável, tenho sofrido muito com a hostilidade perceptível nos discursos das redes sociais. Confesso que o hábito de ler as opiniões alheias tem me feito imaginar como será o futuro do mundo e da humanidade. Quais valores estaremos vivendo daqui a 20 anos? De que forma nossa economia, política, consumo, tecnologia e relações irão evoluir? Em que mundo viveremos amanhã?
Ainda ontem eu comuniquei a partida prematura de uma criança. Aluna na escola de minhas filhas... Confesso que foi chocante perceber a falta de empatia de algumas pessoas. Não farei aqui distinção de gênero, classe social, religião... pessoas que, em sendo mães, não se colocam no lugar de uma que sofre a perda de um filho... pessoas que, em sendo cristãs, não são solidárias a dor do irmão... pessoas que, em tendo sentimentos, não respeitam os sentimentos alheios...
Volto ao meu primeiro questionamento: Que valores estaremos vivendo daqui a 20 anos? ou antes disso... Que valores estamos ensinando às crianças de nosso convívio?
Empatia se ensina. É isso que a jornalista Ivana Moreira afirmou no ano passado ao pesquisar sobre o assunto: "O potencial para se preocupar apropriadamente com os outros (ou não) é moldado em grande parte pelas experiências do começo da vida, desde nascimento até o fim da infância".
No livro “The Empathy Effect”, a psiquiatra americana Helen Riess afirma que a empatia é uma característica mutável e que pode ser ensinada.
E como se ensina EMPATIA?
Atitudes são mais importantes que palavras.
Os adultos devem ser modelo para as crianças.
A maneira como tratamos uns aos outros é a principal referência para as crianças. É importante criar situações para que elas vivenciem o que é se preocupar genuinamente pelo sentimento das outras pessoas. Essa preocupação é uma forma de trabalhar empatia nas crianças.
Urge trabalharmos valores como empatia, solidariedade, respeito com as crianças de nosso convívio, afinal elas são o futuro do mundo. Estamos numa fase de transição de valores e todos os movimentos que estamos presenciando (manifestações, feminismo, defesas de minorias, etc.) são sinais da nossa transição.
Não aceito sermos múltiplas tribos com visões próprias de mundo que não dialogam e não se reconhecem. Isso se reflete em discursos inflamados e na geração de ainda mais violência. E isso me dá medo.
Volto aos comentários nas redes sociais...
Cada comentário lido me faz esperançar menos no mundo.
Há um tempo, li essa pergunta num texto e replico: "Será que estamos nos transformando em fragmentos cada vez menores da nossa realidade parcial e limitada?"
Dos posicionamentos políticos e temas polêmicos às pequenas opiniões cotidianas estamos sempre divididos.
Não compartilhamos, fragmentamos. Não dialogamos, discursamos. E o pior, o nosso discurso está cheio de indiferença e ódio.
Somos todas mulheres. Somos todas mães. Somos todos brasileiros. Somos todos cidadãos do mundo. *Somos todos um* e *Juntos somos mais fortes* são frases que precisam sair de trás das hashtags para serem reais.
Thyana Farias Galvão, 45 anos, mãe de duas meninas e
Professora da Universidade Federal de Pernambuco.