quarta-feira, 3 de abril de 2019

RS: Carne Halal registra queda de importações após embargo saudita

O Brasil é o maior exportador de frango do mundo e o reino da Arábia Saudita segue sendo seu maior comprador. Mas talvez não por muito tempo, já que o País aparece em segundo nas exportações de fevereiro. Desde janeiro, cinco frigoríficos brasileiros especializados no abate halal, que segue os preceitos islâmicos, estão impedidos de exportar para a Arábia Saudita. 

Dois deles localizam-se no Rio Grande do Sul, que destinava, antes das suspensões, cerca de 35% de toda a exportação da ave ao Oriente Médio. O Rio Grande do Sul registrou o pior volume de exportações de frango dos últimos oito anos em 2018, segundo dados da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). Foram 554 mil toneladas em todo ano, uma queda de mais de 25% em relação as exportações totais do ano anterior. "Isso é reflexo das nossas relações comerciais com China, União Europeia e dos embargos da Arábia Saudita", alega o diretor executivo da Asgav José Eduardo dos Santos. 

O estado gaúcho, que ainda é o terceiro maior exportador de frangos do Brasil, sofreu queda de quase 40% nas exportações do produto em janeiro de 2019, segundo relatório da Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), que faz comparação com o mesmo período de 2018. Enquanto isso, a nível nacional a queda foi bem menor, de apenas de 14,7% nas exportações, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Em fevereiro, as exportações de frango gaúcho caíram pouco mais de 20%. 

 Para o diretor executivo, ainda é difícil mensurar o impacto das suspensões de plantas gaúchas que exportavam para a Arábia Saudita, "mas para as exportações não caírem ainda mais vai depender da capacidade que as empresas suspensas terão de realocar essa produção". Em janeiro, quando a Asgav recebeu a notícia das suspensões, Santos se declarou surpreso com a medida e disse que os frigoríficos gaúchos já vinham se adequando às alterações impostas pelo governo saudita para o abate halal: "Esse descredenciamento, que chegou de uma hora para outra, com certeza causa espanto em todos produtores gaúchos, principalmente os que já haviam se adequado frente a questão do abate", afirmou na época. Assim, foram desabilitados os frigoríficos da BRF, em Lajeado, e o do Grupo JBS, em Garibaldi. Até o comunicado de suspensão, a planta de Lajeado operava um volume aproximado de 6,5 mil toneladas ao mês que eram destinadas para a Arábia Saudita. 

Em nota emitida aos acionistas BRF logo após a medida do governo árabe, a empresa declara que já está realizando os ajustes necessários para retomar os embarques ao país árabe em, no máximo, três meses. Também afirma que o prejuízo será de R$ 45 milhões neste período. Porém, os cinco frigoríficos desabilitados só poderão voltar exportar para a Arábia Saudita após a visita de fiscais árabes nesses estabelecimentos e, segundo a ABPA, isto não tem prazo para acontecer. 

"A gente torce para que os funcionários do frigorífico não sejam afetados. Estamos com o pé atrás, mesmo que a empresa não esteja demitindo ninguém. A operação que era destinada para Arábia Saudita foi transferida para São Paulo", diz Adão Gossman, presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Avícolas e da Alimentação em Geral de Lajeado e Região (Stial). Segundo Gossman, a BRF está fazendo outros produtos com o frango que era destinado para Arábia, escoando o produto para o mercado interno e europeu. Já na planta do Grupo JBS, em Garibaldi, a produção destinada ao abate ao halal foi realocada para suprir o mercado interno, segundo o vice-presidente da Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação de Caxias do Sul, Milton Francisco dos Santos. 

Procurado, o Grupo JBS não quis se manifestar. Enquanto alguns buscam novos destinos, os estabelecimentos habilitados para vender para a Arábia Saudita intensificam a exportação. É o caso do Grupo Vibra, que aumentou de 26%, em 2018, para 35%, em 2019, as exportações ao governo saudita. Este patamar deve se manter para o restante do ano. "Nosso grupo já fez importantes investimentos nas unidades para atender adequadamente o mercado e isso está refletido na nossa condição de estar com todas as unidades habilitadas", diz o Ricardo Duca Martins, gerente de Negócios Internacionais do Grupo Vibra. 

Além disso, a companhia gaúcha tem duas empresas operando nos Emirados, desde 2017. "Essas empresas locais nos garantem uma presença ativa e dinâmica e são um investimento planejado para sustentar nossa internacionalização", acrescenta Martins. Em janeiro, também foi mantida a habilitação do Frigorífico Nicolini, em Garibaldi, e das plantas da JBS, em Passo Fundo e Montenegro, que seguem autorizados a exportar para a Arábia Saudita. 

Halal - O que é o abate halal? Em árabe, a palavra "halal" significa algo que é lícito, permitido, legal. Todo frango considerado halal é abatido por um árabe, sob os preceitos do Alcorão, e passa por procedimentos que visam à humanização na hora do abate. "Em alguns países de cultura muçulmana, o Alcorão confunde-se com o Código Civil. Esse código religioso é o que, muitas vezes, dá legalidade para as ações comerciais desses países", explica Adroaldo Lazzarotto, Coordenador do Curso de Negócios Internacionais da Escola de Negócios da Pucrs. 

O Brasil começou a exportar frangos com o certificado de halal em 1975 e, atualmente, é o principal fornecedor desse produto. Além do Oriente Médio, países da África e da Ásia também consomem alimentos halal. Exceto pela carne de porco, seus derivados e bebidas alcoólicas, qualquer alimento pode ser halal, desde que passe por todos os procedimentos impostos por essa técnica. 

Jornal do Comércio (RS)