quarta-feira, 17 de abril de 2019

Marco Feliciano, vice-líder do governo, pede impeachment de Mourão

Um dos vice-líderes do governo no Congresso, o deputado Pastor Marco Feliciano (Podemos-SP) deu entrada nesta terça-feira (16) a um pedido de impeachment contra o vice-presidente da República, Hamilton Mourão. Para o deputado, Mourão tem “conduta indecorosa, desonrosa e indigna" e conspira contra o presidente Jair Bolsonaro.


"A nação não pode ficar à mercê dos maus governantes, da vaidade e do despreparo emocional daqueles que alçados a cargos de relevo se deslumbram com o poder", escreveu o pastor no documento. Mourão respondeu ao Congresso em Foco, por meio de sua assessoria, que não vai comentar o assunto. Os motivos listados pelo deputado para embasar seu pedido vão desde a curtida do vice-presidente em um comentário crítico a Bolsonaro nas redes sociais às suas posições no campo moral diferentes das manifestadas pelo presidente e pela bancada evangélica, como no caso do aborto. "Deve ser uma decisão da mulher", defendeu o vice.

A reportagem também procurou o deputado, mas ele não retornou os contatos. São mínimas as chances de o pedido prosperar, já que precisa do aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para começar a tramitar. Também existe uma controvérsia jurídica se é possível ou não solicitar o impedimento de um vice-presidente.

Olavo de Carvalho

O pedido foi redigido, segundo Feliciano, no voo que o trouxe nessa segunda dos Estados Unidos a Brasília. O deputado se encontrou com o escritor Olavo de Carvalho, chamado por ele de “grande mestre” do pensamento conservador.

Em vídeo publicado nas redes sociais no fim de semana, Feliciano diz que Deus e Olavo foram os principais responsáveis pela eleição de Bolsonaro. “Devemos essa mudança no Brasil a Deus, a quem o senhor teme, e ao senhor”, disse o deputado ao escritor, que tem travado queda de braço no governo com os militares.

Em março Olavo chamou Mourão de “um cara idiota”. O vice respondeu, ao ser questionado sobre a declaração por jornalistas, mandando um “beijinho” para o polêmico influenciador intelectual dos filhos de Bolsonaro.

Na semana passada, Feliciano cobrou uma postura “digna e leal” de Mourão em relação ao presidente da República. “Atuo como vice-líder do Governo no Congresso Nacional e já avisei por aqui o general Mourão. Ou começa a ter uma postura digna e LEAL ao presidente Jair Bolsonaro, ou eu mesmo vou protocolar um pedido de impeachment, por comportamento indecoroso”, tuitou o deputado.

Curtida da polêmica

Ainda semana passada, ele questionou a presença do vice-presidente em um evento nos Estados Unidos e também o criticou por ter curtido no Twitter uma publicação, sobre o assunto, da jornalista Rachel Sheherazade com crítica a Bolsonaro. O convite da palestra em Harvard dizia que o Brasil está atravessando “sucessivas crises” criadas pelo núcleo duro do presidente e apresentava Mourão como um contraponto.

“Palestra de Mourão em Harvard. Finalmente um representante do governo não nos causa vergonha alheia. Muito pelo contrário: o vice mostrou como ele e o presidente são diferentes: um é o vinho, o outro o vinagre”, escreveu a jornalista, que um dia já foi aliada de Bolsonaro e hoje é sua crítica.

“Vejam, não bastasse Mourão chancelar com sua presença todas as barbaridades que estavam escritas no convite de sua palestra no Wilson Center (inclusive que era melhor alternativa q o presidente Jair Bolsonaro), agora curte tuíte da jornalista que critica o presidente”, reclamou Feliciano nas redes sociais.

Rachel retrucou: “Surpreende-me um Pastor Evangélico, que deveria ser, antes de tudo, um pacificador, incitar a militância bolsonarista truculenta contra o vice-presidente Mourão. Lamentável sua postura, Marco Feliciano. Que Deus o perdoe!”


"Somos amadores"

O deputado assumiu uma cadeira na vice-liderança do governo no Congresso dias após fazer duras críticas à articulação governista e ao próprio vice-presidente.

Em tom de aconselhamento a Bolsonaro, Feliciano afirmou que a comunicação do governo estava péssima, que ministros estavam deslumbrados com o poder, que parlamentares aliados eram despreparados, que Mourão produzia "um incêndio amigo" a todo segundo e que o presidente estava sendo "espancado diariamente" na Câmara. "Amigos, a esquerda é profissional e, me perdoem, somos amadores", escreveu no Twitter no início de março.

Congresso em Foco (DF)