O temor de uma nova greve de caminhoneiros, como a ocorrida em maio do ano passado, fez o governo tomar uma série de medidas para tentar "agradar" e acalmar os ânimos no setor de transportes. Depois de interferir diretamente no reajuste do diesel ao barrar o aumento anunciado pela Petrobras, ontem o governo anunciou, entre outras medidas, a liberação de R$ 2 bilhões ao orçamento do Ministério da Infraestrutura para expansão e duplicação de rodovias federais e linha de crédito de R$ 30 mil para autônomos, mas não informou as taxas de juros, o prazo de pagamento nem quando o crédito será liberado. O pacotão, visto como "solução" pelo governo Bolsonaro, não agradou líderes dos caminhoneiros, que já discutem paralisação em 21 de maio.
De acordo com a Agência Estadão Conteúdo, nos grupos de WhatsApp, a categoria chama o plano de "cortina de fumaça" e avalia que as medidas são segurar uma possível greve dos motoristas. Os caminhoneiros afirmam que não estão pedindo dinheiro para o governo, mas sim melhores condições de trabalho. Os mais exaltados classificam a linha de crédito como "esmola".
"Nada do que o ministro da Infraestrutura (Tarcísio de Freitas) anunciou nos ajuda. É um avanço conseguir pegar dinheiro no BNDES a baixo custo? É. Mas hoje, mais da metade dos caminhoneiros está com o nome sujo no Serasa. Nós vamos conseguir pegar esse crédito?", questiona o caminhoneiro, Wanderley Alves, o Dédeco, um dos líderes do movimento do ano passado.
"Eu tenho os caminhoneiros que estão comigo. E faço parte de um grupo com outros amigos, que têm outros caminhoneiros com eles. Isso faz uma rede de mais de um milhão de caminhoneiros."
O motorista não descarta paralisações inclusive antes de maio, quando completa um ano da greve. "O pessoal está eufórico. Vai parar dia 21 de maio. Isso se não parar antes, se houve aumento do diesel", afirma.
A grande reclamação é que a situação dos caminhoneiros está tão precária que poucos conseguiriam ter acesso ao crédito. Muitos, dizem pelo WhatsApp, estão com o nome sujo na praça. Além disso, pegar crédito agora seria decretar a morte dos motoristas em alguns anos.
"O pacote terá efeitos de médio e longo prazo e não atende integralmente o pleito dos caminhoneiros de previsibilidade no preço do diesel e de respeito aos referenciais de valor do frete", avalia o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ).
Ficaram de fora do pacote anunciado ontem detalhes de medidas cobradas pela categoria, como a tabela de frete e uma solução para o aumento do custo do diesel.
Intervenção no diesel ainda está 'rendendo'
A questão dos caminhoneiros tem sido o foco do presidente Jair Bolsonaro nos últimos dias. Na sexta-feira, ele ligou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, e barrou o reajuste de 5,7% anunciado pela estatal para o diesel. Por conta disso, as ações da empresa despencaram mais de 8% e a estatal perdeu R$ 32 bilhões em valor de mercado.
O presidente da Petrobras, inclusive partiu em defesa de Bolsonaro e negou ter havido intervenção do governo. Ontem foi a vez do ministro da Economia, Paulo Guedes defender Bolsonaro. Segundo ele o que ocorreu foi uma ligação de forma franca para Castello Branco, onde o presidente teria afirmado: "No dia que comemoro 100 dias de governo você está jogando diesel no meu chopp?". Ainda de acordo com o ministro, não haverá interferência do governo.
Jornal O Dia (Rio)