Em fevereiro de 1972, Zé havia aderido à cultura hippie e foi morar em Arembepe, na Bahia, paraíso dos alternativos da época. E por um tempo, viveu em praias da região, como a Ilha de Itaparica e Itapoã. Mas uma carona o trouxe a terras pernambucanas. “Quando cheguei a Pernambuco, fui acampar na Praia do Janga, só havia o mar, os coqueiros, a travessia do rio em Maria Farinha, tudo muito lindo...”
No Janga, conheceu seu grande amigo da época, o pintor Jorge Tavares. “Fui morar na comunidade hippie que tinha na fazenda dele, em São Lourenço da Mata. Fiz amizade com a família dele, a mãe, que morava em Boa Viagem, a avó, que tinha uma daquelas casas enormes... E o café da tarde era inesquecível, com as comidas maravilhosas que vocês têm aí em Pernambuco”. De carona em carona, deixou Pernambuco e voltou a São Paulo, onde conheceu uma de suas esposas, Nara. Com ela, viveu 20 anos e teve três filhos, que lhe deram quatro netos (de outros relacionamentos Abreu tem mais dois filhos).
E o que o faz querer satirizar a vida pública, através de seus personagens e de sua rede social? “Sei lá... Acho que é o instinto artístico. Tenho facilidade em escrever coisas curtas, me acostumei com o Twitter, acho uma fala mais inteligente, de 280 caracteres. Sempre gostei de estar na internet, nos primórdios tive ICQ, depois MSN. Sempre fui muito interneteiro”.
Professor, estudante universitário, militante, hippie, policial, seminarista, ator. Como é ser ao mesmo tempo, todas as pessoas no mundo e ele mesmo? “Como ator, eu posso ser tudo (risos), inclusive Presidente da República, num papel muito brechtiano, ligado muito à realidade, mas essencialmente crítico para fazer as pessoas pensarem”, finaliza.