Imagem de Internet |
A porta de entrada de José de Abreu na militância político-social se deu ainda no final dos anos 1960. Recém-saído da Polícia, entrou na faculdade de Direito da PUC-SP. “Foi na PUC onde conheci o movimento, as faculdades eram focos de resistência contra a ditadura. Ali eu li os primeiros livros, e logo eu entrei no TUCA, o grupo de Teatro da PUC”.
No grupo de Teatro, fez seu primeiro trabalho artístico, a peça Morte e Vida Severina, do pernambucano João Cabral de Melo Neto (1920-1999). A trupe era ligada ao grupo de esquerda Ação Popular - AP, uma entidade que era a junção de três entidades juvenis católicas: JEC (Juventude Estudantil Católica), JOC (Juventude Operária Católica) e JUC (Juventude Universitária Católica). O princípio que ordenava as agremiações políticas era o de diminuir a miséria, a fome e as desigualdades sociais. “Era um Socialismo Cristão. A ótica desse trabalho era absolutamente Cristã. Eu nunca fui comunista”.
Após o AI-5, em 1968, os grupos de esquerda foram sendo desarticulados e em 1972, os poucos grupos de mobilização que ainda tinham tentavam fazer informes, panfletos, a fim de conscientizar a população. “O Brasil vivia uma censura ferrenha e a maioria do povo só tinha acesso a notícias contra quem lutava contra a ditadura. Tudo já estava muito desarticulado, havia um peso, uma nuvem preta sobre nossas cabeças, não dava pra viver mais aqui no Brasil e decidi ir pra Europa”.
Zé foi um dos muitos estudantes presos no Congresso da UNE, em Ibiúna - SP. A União Nacional dos Estudantes estava na ilegalidade e tinha como lideranças José Dirceu, Vladimir Palmeira, Ricardo Noblat, Franklin Martins. Muitos estudantes foram liberados, mas as lideranças foram presas. Dois meses de cadeia e a liberdade no dia 11 de dezembro de 1968, antevéspera da promulgação do AI-5. Abreu não foi torturado, mas prestou depoimento no DOPS e esteve detido por dois meses nos presídios Tiradentes e Carandiru (ambos hoje demolidos).
Quando perguntado se há algumas semelhanças com o que se vive hoje no Brasil, Abreu é enfático. “Se fosse como naquela época, qualquer sátira ou brincadeira que eu fizesse, provavelmente hoje eu estaria morto, mas a nuvem preta, o baixo astral de hoje em dia, é igual àquela época”, afirma.