quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Artigo: Um bom começo


A jornalista e professora Daniella Brito Alves escreveu para este blog um artigo tão necessário quanto atual. Você quer escrever um artigo, texto literário, desenho ou qualquer conteúdo de relevância social ou artística? Fala nas nossas redes sociais:





Um bom começo

Sempre falei muito, dizem por aí que continuo assim hoje. Uma professora no antigo primário, hoje Fundamental I, percebeu essa minha incrível recusa ao silêncio e resolveu agir. Para não atrapalhar as aulas, porque "agitava" a turma, me colocava para ler e fazer cópia, lembro até hoje da cartilha "O Sonho de Talita". Algumas vezes, numa mistura que não entendia na época, com ares de prêmio e/ou castigo, a atividade era a interpretação de texto. Demorava mais. 

Bendita interpretação de texto, digo hoje. Tão ausente neste mundinho do WhatsApp, aplicativo que tenho me detido já há algum tempo como objeto de análise. Essa rede social personalizada, objeto de estudo, não de teoria ainda, tão carente de interpretação, torna-se por conta disso terreno fértil para a disseminação e crença cega em Fake News e teorias da conspiração. 

A recusa à necessidade de questionamento aliada à total carência de senso crítico são ingredientes de uma mistura poderosa que resulta na desinformação. Essa, por sua vez, é terreno fértil para as aparentes verdades absolutas, que, não por acaso, sempre são aquilo que você já acreditava. 

Como interpretar além do que nos é “vendido” ou imposto como verdades? Nessa rede de relações, sobretudo do WhatsApp, cada um é repórter, não mais receptor, num ambiente intimista de grupos do trabalho, da família, das amigas da escola, da turma do vôlei e por aí vai. Gente que se conhece lá fora e hoje se desconhece aqui dentro. No não lugar deste mundinho, cabe tudo, até tirar do armário preconceitos que nunca assumimos no mundo real. Destilar ódio é apenas uma questão de opinião. 

A praça pública virtual tão característica de redes como Facebook e Twitter deixa de ser protagonista no WhatsApp, que está mais para a sala da casa, o quarto. Quantos segredos ditos em casa se espalham além das paredes? A logica é a mesma. As perguntas também. Onde iremos parar quando percebermos que é preciso interpretar para entender que não devemos apenas consumir conteúdos? Que também somos produtores? E isso vai muito além do simples compartilhar.

A praça pública virtual tão característica de redes como Facebook e Twitter deixa de ser protagonista no WhatsApp, que está mais para a sala da casa, o quarto. Quantos segredos ditos em casa se espalham além das paredes? A logica é a mesma. As perguntas também. Onde iremos parar quando percebermos que é preciso interpretar para entender que não devemos apenas consumir conteúdos? Que também somos produtores? E isso vai muito além do simples compartilhar. Precisamos de respostas, no virtual e no real. E talvez algumas delas passem por nossa autocrítica. Seria um bom começo!


Daniella Brito é jornalista, assessora de imprensa, mestre em Sociologia e professora do curso de Jornalismo da Uninassau