Para avançar na igualdade de gênero e nos direitos das mulheres, é preciso alcançar a paridade na representação política. Para isso, a recomendação da ONU Mulheres é que nas eleições do dia 7 de outubro o número de representantes femininas seja ampliado, já que atualmente apenas 10,5% do Congresso Nacional é composto por mulheres, mesmo elas sendo 51% da população brasileira e 52,5% do total de 147,3 milhões de pessoas aptas a votar no país.
Segundo a representante do Escritório da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, a paridade entre homens e mulheres em postos de representação e comando faz parte dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que tem como uma das metas um planeta 50/50 em 2030.
“Começamos a chamar a atenção nessas eleições sobre a importância de trabalhar em prol de uma representação das mulheres na política em igualdade, em 50/50. Quando vamos atingir isso no Brasil depende dos brasileiros e das brasileiras. Podia acontecer agora, em 2018, se as pessoas votarem em mulheres ou em homens e mulheres que trabalhem em prol dos direitos humanos”, diz Nadine.
De acordo com ela, o Brasil está muito atrasado, mesmo dentro da América Latina, em relação à paridade na representação política. “Na média da América Latina, a participação das mulheres nos congressos é em torno de 30%. O Brasil só está melhor na região do que o Haiti e Belize. E têm países como o México, Costa Rica, Bolívia e Cuba, que têm já 50%. Então, o Brasil está ficando para trás”.
Nadine explica que o desenvolvimento sustentável não vai ser alcançado sem a ampliação da representação feminina e o empoderamento das mulheres. “O lema é não deixar ninguém para trás. E quando você pensa em quem está para trás, você encontra sempre as mulheres, as indígenas, as negras, as pobres. Então, se você está realmente com uma proposta de levar a humanidade para um patamar de desenvolvimento, você precisa ter ações que traga para frente as pessoas que estão mais para trás”.
Diálogo Mulheres em Movimento
Nadine conversou com a Agência Brasil durante o 2º Diálogo Mulheres em Movimento – Alianças e Ações Coletiva, que começou hoje (26) no Rio de Janeiro com os objetivos de fortalecer o movimento de mulheres, defender a democracia e ir contra a criminalização de ativistas.
Organizado pelo Fundo Elas, British Council e ONU Mulheres, o encontro vai até sexta-feira (28), com cerca de 150 lideranças feministas de, pelo menos, dez países, para debater o contexto da luta pelos direitos das mulheres, além de mapear as oportunidades de alianças e traçar estratégias conjuntas para uma agenda do movimento ao redor do mundo.
De acordo com a coordenadora-geral do Fundo Elas, Amalia Fischer, o contexto atual brasileiro pré-eleitoral é muito complexo, mas as ameaças contra o avanço das mulheres na conquista de direitos e em busca de igualdade de gênero têm ocorrido em todo o mundo. Por isso, é importante a união feminista em eventos como esse.
“Que as mulheres do Brasil, da América Latina e do Reino Unido se encontrem, é muito importante, porque é fortalecer os direitos das mulheres, é reconhecer que as mulheres são uma força, que temos capacidade de resistência, de resiliência, e juntas podemos enfrentar melhor qualquer retrocesso a mais dos direitos das mulheres que possamos ter após as eleições, porque não sabemos quem vai presidir o Brasil”, afirmou.
Militante feminista desde a década de 70 e sobrevivente de tortura na ditadura militar, Amelinha Teles reconhece na juventude atual a força de outrora.
“As feministas jovens trazem o vigor da luta que nós trouxemos nos anos 70, então elas dão continuidade. Eu vejo que isso é tão forte que, mesmo com os retrocessos que a gente vive, essas meninas continuam, elas aparecem. De repente, quando você pensa ‘o que eu vou fazer’, você olha em volta e vê meninas de 14 anos lutando. Então, eu acho que elas são a nossa esperança e mostra que, de uma certa forma, elas absorveram o espírito daquela luta”, explica Amelinha.
A representante da ONU Mulheres, Nadine Gasman, diz que no mundo todo, ainda é preciso enfrentar problemas como a violência contra as mulheres, a diferença salarial e a sub-representação das mulheres no setor privado e na política, incluindo o Executivo e o Judiciário. E é preciso ações rápidas.
“A gente precisa propor ações muito mais rápidas, mais afirmativas, sem essa ideia de que vai levar muito tempo. Na verdade, precisa ter decisões, fazer investimentos de um jeito diferente, para garantir que as mulheres cheguem mais rápido [à condição de igualdade]”.
Agência Brasil - Repórter Akemi Nitahara