A Polícia Civil do Distrito Federal identificou no Paraná o suspeito de ameaçar pela internet a professora da Universidade de Brasília (UnB) Débora Diniz. Ela chegou a deixar o Distrito Federal depois das últimas postagens, em julho.
De acordo com a delegada Especial da Mulher (Deam) Sandra Melo, o homem tem 42 anos e irá responder em liberdade por injúria e ameaças. O nome dele não foi informado.
"Foram ofensas à honra, com palavras de baixo calão, seguidas de falas de que pessoas como ela [pesquisadora] deveriam sangrar até morrer."
Segundo a delegada, o homem mora em São José dos Pinhais (PR) com a mãe idosa e não exerce atividade remunerada. Os policiais chegaram até ele na semana passada, mas o desfecho das investigações foi divulgado apenas nesta segunda-feira (6).
Postagem na internet chama de 'monstro' a professora Débora Diniz (Foto: Facebook/Reprodução)
De acordo com as investigações, "há provas incontestes de que ele é o autor dos fatos", motivados pelo posicionamento da professora à favor da descriminalização do aborto e " a respeito de questões feministas", disse a delegada.
O resultado das investigações foi enviado ao Ministério Público, que pode oferecer denúncia. Nesses casos, a pena prevista é de dois a quatro anos de prisão.
"São crimes graves contra a sociedade e à dignidade social, principalmente por induzir que não se pode ter opiniões e ideias diferentes um dos outros. Percebe-se muita intolerância e as pessoas esquecem que essas atitudes são criminosas".
O G1 não localizou a defesa do homem suspeito. A defesa de Débora Diniz disse que está colaborando com a Justiça e "tomando as medidas cabíveis aos fatos". A advogada Vitória Buzzi afirmou que decidiu denunciar o caso à polícia por "temer que as ameaças saíssem da internet para a vida real".
Investigações
Para chegar ao suspeito, a polícia do DF rastreou o IP – número de identificação – do computador de onde partiram as ameaças. Ao chegar no endereço localizado, no Paraná, os agentes apreenderam um computador e autuaram o proprietário pelos crimes de injúria e ameças.
Em depoimento, o homem permaneceu calado. No entanto, a policia disse que, em conversas informais, ele teria dito "não concordar com o posicionamento da professora".
Segundo a polícia, ele tem passagens por delegacias do Paraná por lesão corporal e porte ilegal de arma. As investigações também comprovaram a ligação dele com um grupo de extrema-direita na região.
"Esse grupo é conhecido por manifestações extremadas, mas não ficou comprovado que ele teria praticado as ameaças motivado por esse grupo", afirmou Sandra.
Além da identificação de um suspeito no Paraná, a Polícia Civil do DF apontou que as ameaças contra Debóra Diniz também foram enviadas a partir de um número de telefone registrado em Brasília.
Os policias chegaram até um morador de Ceilândia, que não teve o nome divulgado. Ele apresentou boletins de ocorrência informando que teve o chip furtado. O aparelho celular foi apreendido e, apesar de não descartar a hipótese da participação de um segundo autor nos crimes, a delegada afirma que "não há muitas chances do homem ser o autor das ameaças".
Pesquisadora premiada
Carta enviada pela reitoria da UnB à Debora Diniz (Foto: Reprodução)
A pesquisadora Débora Diniz foi considerada pela revista norte-americana "Foreign Policy" um dos 100 pensadores globais de 2016, pelo trabalho sobre as grávidas que contraíram o vírus da zika. Atualmente, ela também é reconhecida por estar à frente do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis).
Nesta segunda (6), ela participou do segundo dia de audiência pública no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação.
Em julho, a Universidade de Brasília divulgou uma carta de apoio assinada pela reitora Márcia Abrahão. No texto, a diretora da instituição diz que episódios como esses "atentam contra direitos humanos e liberdades fundamentais".
O comunicado destacou a admiração da reitora pela trajetória de Débora como "docente e ativista da defesa dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres".
"Não é absolutamente admissível que se faça oposição à sua atuação ou proposições em termos difamatórios ou ameaçadores", disse o texto.
Portal G1