O que deveria ser um momento de lazer e alegria passou a ser um momento de tensão e violência. Em meio ao tumulto no último domingo (19), a jornalista Maiara Melo, de 26 anos, foi agredida verbal e fisicamente por um cabo da PM, lotado no Batalhão de Choque. Indignada com a omissão da diretoria do Santa Cruz e com dezenas de pessoas que criticaram-na por denunciar o ocorrido. Veja a seguir o seu depoimento no Facebook:
Eu já vi e revi essas imagens mil vezes desde que enviaram para a gente hoje pela manhã. Elas foram feitas instantes depois de eu ser agredida fisicamente, e antes de eu ouvir que eu era uma puta e que devia ficar calada.
Cabo Marcelino Silva, do Batalhão de Choque da @pmpeoficial. O responsável por todo o transtorno que eu e minhas amigas estamos vivendo desde domingo. Um dia inteiro de trabalho perdido peregrinando da corregedoria para delegacia e depois para o IML. Dores de cabeça, no corpo, por causa do forte estresse. A gente é forte demais, mas estamos dormindo mal, tendo pesadelos e acordando ansiosas. Já perdi a conta das vezes que repeti a história e chorei por causa dela em vez de tá gritando que AGORA A GENTE CHEGA, PORRA! Era o que eu queria estar fazendo, era o que eu queria ter vivido.
Perdi a conta das mensagens que li pedindo que eu tivesse calma e recuasse, porque com policial não se mexe. A essas pessoas eu agradeço a preocupação mas ressalto que é atrás do medo que eles se escondem. É em cima dele que eles alicerçam toda uma estrutura opressora e covarde, criminalizando torcedores e manchando a história do futebol brasileiro. Eu não tenho medo!
Aos que mandaram mensagem dizendo que fiz por merecer, eu dedico o meu mais profundo desprezo e pena, porque vocês não são fortes o suficiente para pensar por si mesmos, não sentem empatia, apenas reproduzem o que querem que vocês sejam, papel de trouxa que cumprem de bom grado. Não fiz, não foi minha culpa. Fui criada por um policial do mesmo batalhão que o meu agressor coloca o nome na lama. Painho me ensinou a agir de forma sempre correta e justa, pelo bem dos outros, para que fosse o meu bem. Homens que desonram a farda é que são os culpados por toda a violência que vitimiza, principalmente, pessoas negras e pobres todos os dias. E digo ainda que se minha conduta de alguma forma tivesse sido errada eu teria sido detida pelos demais agentes, que apenas o afastaram de mim e me mandaram seguir. Vocês, tão covardes quanto ele, não puderam presenciar a cara de medo que ele colocou ao fugir, no final do jogo, arrancando o nome da farda e entrando no gramado para se esconder.
Minha indignação também com o presidente do Santa Cruz Futebol Clube, Constantino Júnior, que tirou de si toda a responsabilidade ao afirmar que "o que acontece fora do Arruda não é de responsabilidade do Clube". Eu fui agredida dentro do Arruda, na área de acesso. Você mancha o nome do Time do Povo ao afastá-lo dele e destrói toda uma admiração construída em cima do trabalho dos dirigentes que vieram antes de você. Constantino é uma vergonha, que não ofereceu qualquer tipo de apoio mesmo após ser procurado pelo Movimento Coralinas ou pela imprensa, onde ele soltou diversos posicionamentos mentirosos de apoio e carinho com suas torcedoras agredidas.
Por fim, mas não menos importante, muito obrigada a todo mundo que tem chegado junto com mensagens, visitas, carinhos e apoio. Em especial às meninas que fazem comigo o Movimento Coralinas. Tudo isso tem sido importante demais pra seguir firme em responsabilizar todos os culpados por essa violência. Vocês são demais! Em breve, eu respondo todo mundo. Já denunciei o policial à Corregedoria da SDS e à Polícia Civil e fui ao IML. Por ora, é tentar tocar a vida da forma mais tranquila possível, para sarar, acalmar e ver o Santinha construir uma história incrível ao lado de seus torcedores e torcedoras, ao meu lado.
Veja a seguir o vídeo: