A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) investiga um caso de suspeita de feminicídio, registrado na noite desta segunda-feira (6/8), na Asa Sul. O fato ocorreu no Bloco T da Quadra 415. Uma mulher de 37 anos foi encontrada caída embaixo do prédio por uma bombeira que passava no local, após despencar do 3º andar do residencial.
Agentes da PCDF estiveram na quadra e, segundo a corporação, o marido da vítima, de 44 anos, é o principal suspeito. O caso é investigado pela 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), para onde o companheiro da mulher foi levado para prestar esclarecimentos. Ele segue detido.
Por volta das 18h, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) foi acionada para atender uma suposta ocorrência de suicídio. Quando os militares chegaram ao prédio, encontraram bombeiros atendendo a vítima. Ela foi levada para o Hospital de Base, mas não resistiu.
O marido da mulher foi achado trancado no apartamento em que a vítima e ele moravam. Ele teria se negado a abrir a porta, que precisou ser arrombada. De acordo com a PMDF, como as circunstâncias apresentaram indícios de homicídio, os policiais conduziram o homem para a delegacia sob condição de suspeito. "Vizinhos relataram que ouviram o casal brigar e que as discussões eram frequentes. O suspeito estava totalmente embriagado e disse não saber do ocorrido. Na delegacia, quando soube que a companheira havia falecido, não esboçou reação", afirmou o sargento Sérgio Pereira.
Ainda segundo a PM, o dono do apartamento, um senhor de 70 anos, morava com o casal. Funcionário aposentado do Senado, ele estava em casa no momento da briga. Porém, ele teria dito aos agentes de segurança que estava dormindo na hora do ocorrido e, devido a uma deficiência auditiva, só acordou com a chegada dos policiais. "O idoso afirmou que não escutou a discussão e que não estava ciente do ocorrido até a chegada da nossa equipe", comentou o sargento.
O aposentado prestou depoimento na delegacia. Quem também testemunhou foi a bombeira que encontrou a vítima caída e fez os primeiros socorros. Após esclarecimentos, o idoso e a militar foram liberados. O caso é tratado como feminicídio.
Outro Feminicídio - No dia em que a Lei Maria da Penha completa 12 anos, mais um caso de feminicídio é registrado no Distrito Federal. Adriana Castro Rosa Santos, 40 anos, foi assassinada nesta terça-feira (7/8) pelo marido, o policial militar Epaminondas Silva Santos, 51 anos, que, em seguida, tirou a própria vida.
O crime aconteceu por volta das 10h, no Riacho Fundo II, em frente à casa da mãe de Adriana. De acordo com informações preliminares da Polícia Militar, Epaminondas chegou ao local em uma moto, chamou a vítima para conversar e atirou nela. Em seguida, se matou. Epaminondas Santos era lotado no 8º Batalhão da PM. Os dois tinham três filhos: um menino de 11 anos, uma menina de 8 e outro garoto de 5.
Segundo uma vizinha, que não quis se identificar, o PM deve ter atirado duas vezes contra Adriana antes de voltar a arma para ele mesmo. "Eu estava de costas, cuidando do jardim, quando ouvi três disparos. Foi muito rápido. Quando me virei, os corpos estavam no chão, e a mãe dela gritava desesperada", disse.
Quando o socorro chegou, contou a testemunha, Adriana ainda se debatia, mas não resistiu aos ferimentos. Ainda de acordo ela, apesar de ainda serem casados, os dois estavam separados. Por isso, Adriana estava na casa da mãe. Foi essa vizinha que acionou os bombeiros e a Polícia Militar, que isolou o local e chamou peritos da Polícia Civil para analisar a cena.
Outra vizinha, a dona de casa Givanilde Cavalcante, 36, conhece Adriana e a mãe, Graça há mais de 20 anos, mas que perdeu o contato depois do casamento. Ela disse que ouviu os disparos e em seguida os gritos da mãe da vítima. “Os filhos deles estavam na garagem, viram praticamente tudo”, comentou. Ela conta que Adriana era uma pessoa divertida. Apesar de não conhecer o militar, disse que a mãe dela costumava reclamar do comportamento dele. “Quando ele bebia, ficava alterado e eles discutiam”, disse.
A rua onde o crime aconteceu fica em frente ao Centro de Ensino Fundamental 1 do Riacho Fundo II, e próximo ao Conselho tutelar da cidade. Moradores que acompanhavam o trabalho da polícia disseram que é uma rua tranquila e nunca tinham visto um crime como aquele naquela área.
Caso a morte de Graziele Zandoná — que caiu do terceiro andar de um prédio na SQS 415 — seja confirmada como feminicídio, Adriana será a terceira vítima desse tipo de crime no Distrito Federal em apenas três dias. E este será o 18º feminicídio em Brasília este ano.
Violência recorrente - O terceiro caso ocorrido nesta semana foi o assassinato de Marília Jane de Sousa Silva, 58, morta a tiros pelo marido, o taxista Edilson Januário de Souto. Após o crime, no domingo passado, ele fugiu e é procurado pela Polícia Civil. Quem tiver pistas sobre o homem, pode denunciar de forma anônima ligando no 197, pelo WhatApp 61 98626-1197; pelo e-mail denuncia197@pcdf.df.gov.br ou pelo site pcdf.df.gov.br/servicos/197.
Em 14 de julho, Janaína Romão Lúcio, de 30 anos, foi morta a facadas pelo ex-companheiro dela, Stefanno Jesus Souza de Amorim, 21, na frente dos filhos do casal. Em 4 de maio, o policial militar Ronan Menezes do Rego, 27, matou a ex-namorada, Jessyka Laynara Silva, 25, com cinco tiros em Ceilândia. Depois, foi até uma academia e disparou contra um instrutor, que sobreviveu. O feminicídio aconteceu após PM não aceitar o fim do relacionamento.
Nota da PM - Na tarde desta terça-feira (7/8), a Polícia Militar emitiu nota lamentando o feminicídio: "Sobre o episódio ocorrida na manhã de hoje, na cidade do Riacho Fundo II, quando um policial vitimou sua esposa e suicidou-se. A Polícia Militar vem a público lamentar imensamente o fato. O trabalho diário dos policiais militares nas ruas do DF visa, entre outras coisas, evitar esse tipo de crime. A PMDF se solidariza com os familiares e está à disposição para auxiliar no que for necessário."
Correio Braziliense (DF)
Repórteres Bruna Lima e Mariana Machado